debates no IX Simpósio de Gestão e Qualidade do HVS
Além de modificar hábitos, costumes e práticas, a pandemia da Covid-19, iniciada em 2020, também inaugurou um momento absolutamente novo para a gestão dos serviços de saúde. Para debater sobre esse tema e compartilhar informações com os profissionais da área, o Hospital Vila da Serra (HVS) promoveu, nos dias 12 e 13 de novembro, a nona edição do seu tradicional Simpósio de Gestão e Qualidade com o tema “O Futuro dos Serviços de Saúde”.
No painel de abertura, o diretor-presidente do HVS, Wagner Neder Issa, recebeu o diretor de Provimento de Saúde da Unimed-BH e professor universitário, José Augusto Ferreira, e, ainda, o presidente do Conselho de Administração do Grupo Oncoclínicas e cirurgião, Bruno Ferrari.
Para José Augusto Ferreira, a pandemia trará consequências para o futuro. Uma delas vai alterar profundamente os serviços de saúde. Com base na experiência de sucesso da Unimed-BH, ele destacou que os desafios para as organizações de saúde atuais estão na capacidade de atendimento, força de trabalho, capacitação das equipes, grau maior de segurança econômica para prestadores, parceiros e colaboradores e, ainda, proteção das pessoas, de uma maneira geral. De forma decisiva, também, a pandemia incorporou rapidamente ferramentas tecnológicas, como a telemedicina, por exemplo, que foi amplamente usada para consultas online, com mais de 120 mil atendimentos realizados.
“Qualquer acontecimento tem caráter inaugural e determina o fim de uma era e o começo de outra. Nada será como antes e as pessoas vão mudar a visão sobre a importância da saúde. O vínculo entre médico e paciente se tornará essencial nesse momento. E esse vínculo vai continuar sendo essencial porque as pessoas vão procurar os médicos de confiança para resolver problemas não apenas nas consultas presenciais, mas por e-mail, telefone e vídeo chamada”, ressalta.
Menos custos, mais efetividade – A mudança de comportamento dos pacientes também é uma realidade. Antes da pandemia, os pronto-atendimentos tinham uma rotina de superlotação, o que acabou durante a pandemia de Covid-19. Essa é outra tendência que os serviços de saúde têm observado nos últimos meses, como lembrou José Augusto Ferreira. “O uso do pronto socorro será mais racional no futuro. O esvaziamento dos últimos meses mostrou que a ocupação era excessiva”, ressalta.
Com presença em 11 estados e 69 unidades, o Grupo Oncoclínicas é uma empresa especializada no tratamento do câncer que acaba de completar 10 anos de atuação com o desafio de incorporar as mudanças do setor de saúde na sua sistemática de atendimento. “Passamos por esse período vivendo com novas práticas e retomamos práticas antigas, como ficar em família. Certas coisas não vão deixar de existir. Vamos conviver com trabalhos presenciais e remotos e com um novo modelo de atendimento”, frisou o cirurgião Bruno Ferrari.
Para ele, a pandemia mostrou um novo modelo de gestão hospitalar, com redução de despesas, aumento do uso da tecnologia para o atendimento dos pacientes e também para a discussão de casos e iniciativas de capacitação. “A telemedicina não regulamentada é um retrocesso enorme. Hoje, não tem como não fazer o monitoramento do paciente em casa. O pronto socorro será usado apenas por aqueles que realmente precisam”, explica.
Cuidados com a equipe – No segundo painel, realizado em 13 de novembro, o diretor clínico do HVS, Márcio de Almeida Salles, mediou um debate que reuniu representantes de instituições de saúde de outros Estados, para fomentar a reflexão dos gestores hospitalares sobre a necessidade de tomar decisões rápidas, proteger a saúde dos colaboradores e corpo clínico e, ainda, oferecer um atendimento diferenciado para os pacientes. Participaram do debate a superintendente Assistencial e de Educação do Hospital Moinhos de Vento, Vânia Rohsig, a enfermeira, professora e representante da Associação Nacional de Acreditação, Camila Leal Deister Machado, e, ainda, a médica e diretora de Qualidade Assistencial da Rede D’or São Luiz, Helidea Lima.
Vânia Rohsig enfatizou que a pandemia tem exigido dos gestores agilidade nas decisões, criatividade e compreensão de que o sistema de saúde, enquanto equipe multidisciplinar, é importante. “Nunca a conexão entre assistência e suprimentos foi tão importante. Entendo que o futuro é via educação e pesquisa e que o valor do serviço que prestamos será baseado em desfechos clínicos. Não adianta falar em missão, valores etc. O que faz a diferença é o que está entregando de resultados e a mensuração dos mesmos”, avalia. Ela também disse que o próximo passo do serviço de saúde é a excelência e que o norte de tudo que é feito é o paciente.
A pandemia também resultou em oportunidades para o Moinhos de Vento, que abriu um laboratório próprio de microbiologia e inaugurou um novo hospital em um período de 30 dias. O momento também foi propício para avaliar a terceirização de áreas chaves do negócio. “Eu acho que bons parceiros nos alavancam. Trabalhamos com áreas terceirizadas, mas é preciso ter uma atenção muito grande nas entregas e monitoramento”, pontua.
Além de alterar o funcionamento e as práticas hospitalares, a pandemia da Covid-19 também inaugurou um novo momento para a certificação das instituições, como relatou Camila Leal Deister Machado. A necessidade de renovar ou dar continuidade aos processos já iniciados provocou uma grande mudança para as organizações certificadoras, a partir do uso da tecnologia.
“Há um consenso entre a ONA e as IAC’s em desenvolver propostas técnicas de avaliação remota para as visitas de manutenção ordinária, incluindo redução de custos para o cliente. E, depois, evoluindo para as avaliações de recertificação no modelo remoto”, sugeriu. O processo inclui, ainda, checklist de avaliação de riscos para a aplicação consenso para o uso das ferramentas tecnológicas, o que depende da organização interna dos hospitais quanto ao fornecimento dos documentos necessários.
“Tínhamos certa insegurança mas vimos que equipe de avaliadores está muito bem treinada e os clientes muito bem preparados. A avaliação acontece de forma muito segura e, depois da pandemia, pesamos em continuar com as avaliações remotas”, adiantou.
Ferramentas tecnológicas
Helidea Lima também acredita que as transformações causadas pela pandemia vão gerar novos modelos de saúde que, anunciados em 2008, ainda não se tornaram realidade. ”O paciente aparece ou é buscado, para ser atendido por uma equipe multidisciplinar. Na alta, ele recebe orientação para tratamento e plano preventivo. Ele também vai continuar recebendo apoio contínuo do sistema e estará na tela do radar, com monitoramento remoto e prontuário eletrônico”, projetou.
A médica acredita que a atuação preventiva e o entendimento de que a ciência e saúde são importantes para o Brasil são essenciais para ingressar neste novo modelo de gestão hospitalar. “O verdadeiro segredo é a mudança de cultura. A gente precisa manter a equipe local mobilizada para fazer as evidências das necessidades de melhorias. Aprendemos a trabalhar a distância, a usar a tecnologia para reuniões virtuais e que a tele consulta, depois de tanta discussão, veio para ficar e já mostrou que a população não quer mais enfrentar a emergência”, concluiu.