Glaucoma: a única forma de prevenir a doença é consultando o oftalmologista com regularidade

A oftalmologista Clarice Dayrell: “um diagnóstico de glaucoma nos tempos atuais não é, de forma alguma, uma sentença de cegueira para o paciente”

Os olhos são de uma importância imensa na vida das pessoas. Daí, uma consulta regular com o oftalmologista é fundamental para que tenhamos sempre uma boa visão, evitando problemas mais graves. O Glaucoma é uma das patologias mais temidas na área da Oftalmologia. Para que se tenha ideia da gravidade desta doença, no Brasil, de acordo com dados do Conselho Brasileiro de Oftalmologia (2017), ela atinge cerca de 1 milhão de brasileiros, sendo 2% a 3% da população acima de 40 anos.

Para saber mais sobre o glaucoma, o Portal Medicina e Saúde entrevistou a oftalmologista Clarice Dayrell de Souza. Ela é chefe do Departamento de Glaucoma do Centro Oftalmológico de Minas Gerais e Professora Assistente da Semiologia Oftalmológica da PUC Minas.

O que é Glaucoma?

O Glaucoma é uma neuropatia óptica irreversível, causada por um conjunto de fatores. No fundo dos olhos, na sua parte mais próxima ao cérebro, existe um nervo que leva as informações que vemos até o cérebro e nele essas informações são interpretadas. Esse nervo, denominado Nervo Óptico, é formado por um conjunto de fibras nervosas. O glaucoma acontece quando ocorre a morte dessas fibras nervosas.

Qual a sua causa? É uma doença familiar, genética?

O glaucoma possui vários fatores de risco, sendo os principais: aumento da pressão intraocular, história de glaucoma na família, ser míope e ser da raça negra. Os olhos possuem uma pressão interna ideal, que é sustentada pela produção de um líquido dentro deles. Esse líquido, o Humor Aquoso, é produzido constantemente em uma estrutura ocular e deverá ser drenado em outra estrutura também dentro dos olhos. Quando o sistema de drenagem intraocular é ineficiente, a pressão intraocular irá aumentar e de forma mecânica lesionar as fibras nervosas do nervo óptico. Quem possui história familiar de glaucoma têm até 6 vezes mais chance de desenvolver a doença, o mesmo acontece com a raça negra que, além disso pode também desencadear formas mais graves da doença. O glaucoma pode ainda ser causado por uma irrigação sanguínea insuficiente desse nervo.

Quando essa doença se manifesta (idade)? E de que forma ela se manifesta?

A doença se desenvolve mais a partir dos 40 anos. Quanto mais velho, maior o risco. Normalmente, o glaucoma não causa sintomas, salvo em casos em que o paciente tem uma crise aguda de aumento da pressão intraocular, o que causa dor ocular e/ou baixa visão súbitos. Por ser na maioria das vezes assintomática e por acometer a visão periférica primeiro e de forma irreversível, ela é uma doença muito perigosa.

O glaucoma atinge um dos olhos ou, geralmente, os dois?

O glaucoma é normalmente bilateral e pode atingir os dois olhos ao mesmo tempo ou em épocas diferentes.

Ela afeta homens e mulheres, indistintamente? E crianças?

Ela afeta tanto homens quanto mulheres e em menor número também pode atingir crianças. Existe um tipo de glaucoma, o congênito, em que a criança já nasce com a doença e pode ter como sinais olhos grandes ao nascimento, muito azulados, com lacrimejamento excessivo e desconforto à luz.

Qual a sua incidência no Brasil?

De acordo com dados do Conselho Brasileiro de Oftalmologia ( 2017), no Brasil, estima-se em cerca de 1 milhão os casos da doença, com incidência de 2% a 3% na população acima de 40 anos.

Quais são os seus sintomas?

Normalmente é uma doença assintomática e por ser uma lesão irreversível o paciente pode perceber um embaçamento na visão apenas quando seu caso já estiver bastante avançado. Já na crise aguda poderá causar baixa visão, dor ocular, dor de cabeça e lacrimejamento. A dor ocular é muito confundida com a cefaleia ou dor de cabeça.

Há como prevenir o surgimento da doença?

A única forma de prevenir a doença é consultando o oftalmologista com regularidade. Devemos fazer exames oftalmológicos pelo menos uma vez ao ano. Uma consulta oftalmológica básica consiste em exame para grau dos óculos, exame das estruturas externas dos olhos, medida da pressão intraocular, além do exame do fundo dos olhos, onde está a retina e a cabeça do nervo óptico.

Há cura para quem tem glaucoma? Quando diagnosticado, qual o tratamento, ou como retardar seu avanço?

– O glaucoma não tem cura, mas tem controle. Um diagnóstico de glaucoma nos tempos atuais não é de forma alguma uma sentença de cegueira para o paciente, principalmente se a doença for diagnosticada no princípio. O tratamento consiste em baixar a pressão intraocular do paciente com o auxílio de colírios antiglaucomatosos e/ou com laser. Casos avançados da doença e aqueles que não respondem bem ao tratamento medicamentoso necessitarão de cirurgia. O controle rigoroso dessa pressão irá estacionar a perda das fibras nervosas e preservar a visão desses pacientes. É importante destacar que só o oftalmologista pode diagnosticar esta doença. E isso se faz através de exames específicos como, a medida da pressão intraocular, do exame do fundo dos olhos e de campo visual.

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