O cardiologista Rui Póvoa: “a hipertensão, quando associada ao diabetes, pode elevar a mortalidade”
A redução da pressão alta e dos níveis elevados de glicose no sangue, combinados com o uso de outros medicamentos preventivos como as estatinas, podem reduzir de forma significativa eventos cardiovasculares neste grupo de alto risco. Esta é a conclusão de uma série de pesquisas apresentadas no Congresso da Sociedade Europeia de Cardiologia (ESC 2020), que aconteceu no fim de agosto. Os resultados apresentados ratificam uma abordagem abrangente no tratamento de hipertensos com diabetes tipo 2, com foco crescente na prevenção das doenças cardiovasculares.
Dados do último levantamento do International Diabetes Federation (IDF) apontam que as condições cardiovasculares representam a maior causa de morbidade e mortalidade para diabéticos. Segundo o IDF, as revisões sistemáticas indicam um risco aumentado de até 20% de eventos cardíacos e derrames nessa população. A associação de hipertensão arterial e diabetes contribui de forma expressiva para o aumento de todas as doenças cardio-cerebrovasculares, tais como o infarto do miocárdio, o acidente vascular cerebral (derrames), insuficiência cardíaca e doença renal.
Para o cardiologista Rui Póvoa, a hipertensão, quando associada ao diabetes, pode elevar a mortalidade, principalmente por se tratar de uma doença silenciosa e de baixa adesão terapêutica, e por isso apresentando baixo controle. “O paciente com diabetes tem 80% de chance de ter hipertensão arterial, e estes dois fatores juntos aumentam de forma exponencial todos estes eventos cardio-cerebrovasculares nefastos. Mas, não é simples, porque a hipertensão é uma doença assintomática e, normalmente, há a necessidade de dois ou três medicamentos e nem sempre a adesão à terapia é adequada pelo paciente. O uso de um único comprimido auxilia muito. Pela primeira vez, esse tipo de fármaco, sem efeitos adversos significantes, está sendo lançado aqui no Brasil e isso potencializa o tratamento”, explica o especialista, que é Chefe do Setor de Cardiopatia Hipertensiva da Universidade Federal de São Paulo.
Em relação ao Atlas de 2017 do IDF, o Brasil teve um aumento de 31% na população com diabetes. De acordo com o documento de 2019, o país tem 16,8 milhões de pessoas com a doença, ocupando o 5º lugar no ranking mundial. Segundo Póvoa, quanto maior for a abordagem terapêutica, envolvendo diversas especialidades, e mais cedo for a orientação e prevenção de comorbidades, melhores resultados e qualidade de vida serão proporcionados aos pacientes. “Não basta apenas baixar a pressão, é preciso reduzir a mortalidade cardiovascular. Os estudos mostram que o perindopril (molécula inibidora de enzima conversora de Angiotensina – IECA) tem esse potencial, especialmente por sua capacidade anti-hipertensiva, anti-inflamatória e vasodilatadora. Além disso, o paciente hipertenso diabético retém muito sal, havendo a necessidade de um diurético. Entretanto, alguns destes provocam distúrbios metabólicos, diferentemente da indapamida, que causa apenas um ligeiro aumento na quantidade de urina produzida. Por isso, a associação do perindopril com a indapamida é muito boa. Um fármaco com essa combinação reduz muito os efeitos adversos e aumenta a eficácia no tratamento desses pacientes”, ressalta o cardiologista.