Hospital São Francisco de Mogi Guaçu realiza, pela primeira vez, implante coclear bilateral simultâneo
O otorrinolaringologista Thiago Zago: “o procedimento nos dois ouvidos em uma mesma cirurgia é incomum em nosso país”
O Hospital São Francisco de Mogi Guaçu, interior de São Paulo, realizou uma cirurgia incomum.Na última terça-feira, 14 de setembro, o Dr. Thiago Zago e sua equipe, operou os dois ouvidos de uma criança de forma simultânea por meio de uma cirurgia de Implante Coclear Bilateral. O procedimento, em um mesmo dia, é algo inédito na cidade. O Hospital é considerado referência em tratamentos auditivos em seu município e também na Região Metropolitana de Campinas.
O implante coclear, conhecido como ouvido biônico, é indicado para pacientes completamente surdos. A criança operada no Hospital está com quatro anos de idade e teve o problema detectado durante a triagem auditiva no neonatal pelo SUS. Atualmente, ela está em acompanhamento com o otorrinolaringologista Thiago Zago, especialista em microcirurgia de ouvido e implante coclear pela Universidade de Bordeaux, na França, país pioneiro na triagem auditiva neonatal.
Em média, o hospital realiza cinco operações como essas por ano. Porém, pela primeira vez, um implante coclear foi realizado nos dois ouvidos de um paciente de forma simultânea, algo raro no Brasil, mas já é de praxe nos Estados Unidos. “Costuma-se fazer o primeiro implante em torno dos dois anos de idade e o segundo, aos três ou quatro anos”, comenta o cirurgião otorrino. A cirurgia feita no último dia 14, durou seis horas.
A urgência da implantação simultânea está ligada à capacidade do córtex cerebral em aprender a ouvir e reconhecer linguagens. O paciente se encontrava na idade limite da capacidade neural. “Feito até os quatro anos de idade, o procedimento permite que a criança se desenvolva normalmente, comparativamente a um adulto. Por isto, quanto mais precoce melhor”, complementa Dr. Thiago Zago.
Procedimento – Conforme explica, o ouvido biônico também pode ser colocado em pacientes mais velhos que ficaram totalmente surdos por outras razões, como, por exemplo, uma infecção viral. “Temos casos até mesmo de pacientes idosos implantados, geralmente de um lado só, justamente por melhoria de qualidade de vida”, destaca o médico.
A cirurgia envolve a instalação de um componente interno dentro do ouvido, na cóclea, para estimular diretamente o nervo auditivo. Embaixo da pele é colocado um eletrodo que se junta a um componente externo por meio de magnetismo, fixado algumas semanas depois após a cicatrização, carregando um microfone e um processador de fala. A ativação do aparelho é feita cerca de dois meses depois.
Após o procedimento há um trabalho árduo de aprendizagem, mapeamento de sons e ajustes de frequências. “Esse é um processo longo, a criança vai aprender a ouvir, passando por fases e módulos, e fonoterapia”, explica o médico.
Implante de BAHA – Após o tratamento da criança, a equipe realizou um implante de BAHA, Prótese Auditiva Ancorada ao Osso, em um adulto. O procedimento é considerado simples e com poucos riscos. A operação é similar ao Implante Coclear. Entretanto, o aparelho externo é menor. Ela é recomendada a pacientes com perda auditiva parcial ou severa unilateral, mas que já falam e conseguem identificar sons. Por isso é um procedimento mais comum, em uma faixa etária mais avançada.
A prótese funciona como um dispositivo de condução e tem como intuito usar o ouvido bom processando, por meio do osso, uma simulação de audição bilateral. Cerca de 40 dias após o procedimento, o dispositivo pode ser ativado e o paciente já passa a ouvir normalmente. O pós-implante requer alguns cuidados com ressonâncias, em um campo limite, e detectores de metal.