Dr. Wellington Ued: “a realização da cirurgia quando o feto ainda está no útero, além de permitir corrigir doenças antes do nascimento, também traz benefícios para a saúde do bebê”.
A primeira cirurgia para o tratamento de um feto ainda no útero da mãe, realizada no interior de Minas Gerais, aconteceu em Uberlândia, no Hospital UMC. O procedimento inédito visou a correção de uma anomalia congênita comum do sistema nervoso central, chamada mielomeningocele ou espinha bífida aberta, no bebê de uma grávida com 26 semanas de gestação. Liderada pelo especialista em Gestação de Alto Risco e Medicina Fetal, Prof. Dr. Welington Ued Naves, a cirurgia é um marco para transformar a história da assistência à medicina fetal em Uberlândia, ampliando as possibilidades de tratamento para uma série de condições fetais na cidade.
Para possibilitar a realização de um procedimento complexo, como a cirurgia fetal, é essencial contar com profissionais capacitados e uma estrutura adequada, como explica o especialista responsável pela cirurgia. “No Brasil há pouquíssimos cirurgiões fetais, sendo este o principal desafio para a ampliação desta atividade. Além disso, há equipamentos específicos necessários para permitir a realização de uma cirurgia fetal e estes instrumentos estão disponíveis no Hospital – Complexo Uberlândia Medical Center UMC. Sem uma estrutura propícia e a disponibilização dos equipamentos, não seria possível trazer este avanço para Uberlândia”, comenta Dr. Welington Ued.
Além da correção da espinha bífida aberta que é a condição congênita mais comum do sistema nervoso central, que acomete aproximadamente 1 a cada 1.000 nascidos vivos no Brasil, a cirurgia fetal também possibilita o tratamento de outras condições em fetos, como o derrame pleural (ou acúmulo de água no pulmão), hérnia diafragmática congênita, anemia fetal e transfusão feto-fetal entre gemelares, entre outras anomalias.
A realização da cirurgia quando o feto ainda está no útero, além de permitir corrigir doenças ainda antes do nascimento, também vai trazer benefícios para a saúde do bebê. Com o procedimento fetal, as chances de ter um crescimento completo são maiores e a qualidade de vida do bebê é melhor.
Espinha bífida aberta – Também conhecida por mielomeningocele, ela é uma condição que merece atenção especial durante a gestação. É a anomalia congênita que afeta o sistema nervoso central mais comum e consiste em uma má formação da coluna vertebral e da medula espinhal que acontece nas primeiras semanas de desenvolvimento do feto.
A condição existe quando a pele e os músculos que recobrem a medula do bebê não se formam adequadamente. Por conta disso, o tecido e as raízes nervosas ficam expostas, causando alterações nas estruturas cerebrais que levam até mesmo à hidrocefalia (acúmulo anormal de líquidos nas cavidades cerebrais).
A correção da condição também pode ser feita depois do nascimento, mas realizar o tratamento ainda no ventre da mãe é mais vantajoso, pois “reduz as chances do bebê ter sequelas neurológicas no pós-natal. Aumenta também a chance de deambular (andar) com ou sem a ajuda de aparelhos. Além disso, em casos de tratamento pós-natal, é comum a necessidade do uso de um dreno para aliviar a pressão no cérebro, causada pelo acúmulo de líquido após a realização de cirurgia. No entanto, com a cirurgia fetal, as chances de precisar utilizar este equipamento são menores”, destaca o Dr. Welington.