Mara Gabrilli testa exoesqueleto antes de equipamento chegar ao Brasil

A expectativa é que ao menos três máquinas venham para o país em agosto e possam atender pessoas com deficiência e doenças motoras.

Após experimentar o exoesqueleto em abril deste ano, a senadora Mara Gabrilli retornou aos Estados Unidos em meados de junho para testar o aprimoramento da nova tecnologia que será implantada em centros de reabilitação do Sistema Único de Saúde em São Paulo.

Em maio o Governo de São Paulo por meio da Secretaria Estadual de Saúde e a Rede Lucy Montoro firmaram parceria com a empresa Wandercraft para a compra de dois exoesqueletos modelo Atalante X, o mesmo usado e testado pela senadora. A ideia é que os equipamentos sejam disponibilizados nas unidades da Rede Lucy Montoro na cidade de São Paulo e em Fernandópolis, região metropolitana de São José do Rio Preto. Há ainda a expectativa de que mais um exoesqueleto venha para o Centro Paralímpico Brasileiro.

O primeiro contato de Mara com o exoesqueleto foi acompanhado pela doutora Linamara Rizzo Battistella, presidente do conselho diretor do Instituto de Medicina Física e Reabilitação do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo. A partir de então, com grandes esforços, o potencial de uso da máquina foi decisivo para que o equipamento viesse para o país.

Como Mara é tetraplégica e possui poucos movimentos de braço, este foi o primeiro exoesqueleto que se ajustasse a essa condição. A máquina foi projetada para que pessoas com lesões medulares similares possam também usufruir do equipamento. Dentre as funções do equipamento, destaca-se a possibilidade dos usuários se moverem de forma multidirecional e independente, mesmo sem movimento de braços.

A ideia é possibilitar a prática do caminhar em pessoas que perderam movimentos do corpo ou que precisam aprimorá-los em consequência, por exemplo, de sequelas de AVC (acidente vascular cerebral), lesão medular, Parkinson, esclerose múltipla, esclerose lateral amiotrófica, traumatismo crânioencefálico, entre outros.

“Imagine a transformação na saúde de uma pessoa com deficiência que passa a maior parte do tempo sentado ou deitado. São ganhos imensuráveis: melhoramos a função circulatória, digestiva, respiratória. Melhoramos a qualidade de vida em todos os aspectos. Sem contar o upgrade na autoestima, colaborando para combater doenças como a depressão e a ansiedade”, relata a senadora, que durante anos buscou um equipamento que possa atender o maior número de pessoas com diferentes tipos de lesões e paralisias.

Outra vantagem do modelo Atalante X em relação a outros exoesqueletos já existentes no mercado é a capacidade de ser adaptado para diferentes perfis de pessoas. O equipamento funciona com uma programação de acordo com o objetivo do paciente. Ele pode se inclinar, sentar e levantar, andar de frente, de costas e de lado, além de subir degraus e rampas.

O paciente “veste” o exoesqueleto e uma vez que o robô contém um sistema de controle de equilíbrio, permite maior estabilidade. Isto é, mesmo que o paciente se incline e faça movimentos com o tronco, o robô mantém o equilíbrio sem cair. Essa condição é crucial para que o Atalante X seja usado por pessoas com diferentes tipos de comprometimento.

Outra vantagem é o peso do equipamento. Ele é feito de material mais leve e se adapta a diferentes alturas e corpos. Os modelos mais comuns no Brasil não são modulares e por isso não podem ser ajustados para todos os tipos de pacientes.

“A experiência extremamente inspiradora e grandiosa que eu tive o privilégio de viver merece ser compartilhada com o maior número de pessoas que pudermos. Trazer essa qualidade de vida para os brasileiros com diferentes tipos de déficit de mobilidade virou objetivo de vida, um projeto maior para compartilhar bem-estar e saúde com os brasileiros”, celebra Mara.

Na última experiência com o exoesqueleto, a senadora estava acompanha da jornalista e amiga Flávia Cintra, também tetraplégica. Juntas, num dos momentos mais emocionantes da viagem, caminharam com o equipamento.

História de lutas

“Flávia e eu temos uma longa história de luta e militância. Ela foi a primeira mulher tetraplégica que eu conheci após o meu acidente. Em 2006, o Brasil estava entre os países que aprovaram a Convenção da ONU sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e, incentivada por ela, nós duas estávamos lá. E juntas, com a sociedade civil, participamos dessa construção que se tornou um marco na nossa luta por inclusão, respeito e liberdade. Estar novamente na sede da ONU, dezessete anos depois, vendo a Flávia caminhar com o exoesqueleto, é extremamente emocionante e gratificante. Passa um filme na minha cabeça, um filme de duas mulheres que ficaram tetraplégicas, mas que nunca pararam de se mexer. Duas mulheres que nunca deixaram de acreditar na vida, nas possibilidades de realizar e produzir. Duas mulheres cadeirantes que puderam reviver a experiência de caminhar. É muita emoção! Marca, literalmente, nossa linda caminhada até aqui. Agora, nossa alegria maior é saber que em breve outros brasileiros terão a mesma oportunidade que Flávia e eu tivemos. É a vida da pessoa com deficiência acontecendo como a gente sempre acreditou: com movimento!”

O que é um exoesqueleto?

Os exoesqueletos são estruturas “vestíveis” que ajudam no suporte e movimento do corpo humano. Eles já são vistos por especialistas como aliados na recuperação física e emocional. Segundo a Wandercraft, empresa criadora do exoesqueleto, o equipamento já foi usado para tratar mais de 330 pessoas no ano passado.

De acordo com a OMS, há 1 bilhão de pessoas com alguma forma de deficiência no mundo. Já o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), aponta que 8,4% da população brasileira acima de 2 anos – o que representa 17,3 milhões de pessoas – têm algum tipo de deficiência. Desse contingente, 7,8 milhões, ou 3,8% da população acima de dois anos, apresentam deficiência física.

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