O médico Dirceu Valladares: “as pessoas estão apavoradas e estressadas por causa de um inimigo desconhecido, imprevisível e invisível, que é o vírus, e isso prejudica muito a qualidade do sono”
A insônia é uma queixa médica frequente da população. O problema afeta geralmente entre 10% e 30% da população adulta em todo o mundo. Os motivos para esse desconforto são variados e colocam em risco a saúde e a qualidade de vida das pessoas. Mas, desde o início do ano passado, porém, este distúrbio do sono parece estar se tornando ainda mais comum. É que a pandemia do Covid 19 trouxe um ambiente desfavorável para a boa noite de sono, em especial pela mudança de hábitos e das rotinas diárias.
Segundo o médico Dirceu Valladares, diretor da Clínica do Sono, na Grande BH, e fundador da Fundação Nacional do Sono (FUNDASONO), a pandemia gera de fato uma carga de estresse extra. “As pessoas sofreram mudanças grandes no ritmo de vida e estão ‘desreguladas’. Muitas estão com medo, não fazem ginástica e não tomam sol como antes, o que eleva a pressão psíquica e as mantém em sinal de alerta e com dificuldade para dormir”, afirma.
Desde então, também, acrescenta, as pessoas passaram a conviver com distanciamento social, confinamento, uso de máscaras e álcool em gel, sem contar que grande número delas agora trabalha em casa ou, simplesmente, perdeu o emprego.
De fato, muitas empresas, por causa da pandemia, reduziram atividades ou fecharam definitivamente as portas. Em síntese, a conjuntura aumentou a tensão de todos em relação ao presente e as perspectivas dos próximos anos.
Na entrevista abaixo, o médico, que se especializou em Medicina do Sono nos Estados Unidos (Universidade da Califórnia), fala sobre insônia, a necessidade de pedir ajuda em casos crônicos e a necessidade de deixar os conhecidos “tarja preta” sem uso e na gaveta.
Inicialmente, Dr. Dirceu, o que é a insônia?
A insônia é a dificuldade persistente para se conseguir dormir. O problema pode ser causado por diversos fatores e tem potencial para criar problemas para a pessoa e outros que convivem com ela. Os casos são considerados crônicos quando a dificuldade para dormir passa de três meses. Antes de chegar a este ponto, porém, o ideal é o paciente procurar ajuda especializada para receber o diagnóstico correto, que pode ter mais de uma causa. Tem pessoas que apresentam dificuldades de iniciar o sono. Outras não têm sono restaurador ou dormem, acordam durante a noite e não conseguem dormir novamente. Há também casos em que a pessoa acorda mais cedo do que precisa.
Quando se deve procurar o especialista?
Quando o indivíduo se dá conta de que não consegue reverter o quadro sozinho. Digo isto porque, de fato, muita gente consegue dormir após se fixar em pensamentos e sentimentos positivos ou adotar medidas simples, como retirar a dose de café noturna, tomar banho quente antes de ir para a cama, relaxar ou ficar em um ambiente acolhedor e escuro. Porém, se as tentativas falham as pessoas tendem ao consumo excessivo e desnecessário de medicamentos. Desta forma, é importante levar em conta que antes de cair na tentação da automedicação o melhor caminho é solicitar auxílio médico. Se a pessoa não encontra um especialista em Medicina do Sono em sua localidade, já que eles são relativamente ainda raros no Brasil, pode buscar orientação junto a psiquiatras, que saberão na maioria dos casos dar a recomendação adequada.
O que é essencial para dormir?
Antes de mais nada, a pessoa precisa de paz e segurança para dormir. E hoje isso está em falta graças às inseguranças geradas pela pandemia. As pessoas estão apavoradas e estressadas por causa de um inimigo desconhecido, imprevisível e invisível, que é o vírus, e isso prejudica muito a qualidade do sono.
É possível mudar essa percepção?
Sim. Neste momento o desafio de todos é manter a tranquilidade em uma situação de aparente caos, e encarar isto como uma nova e eficaz estratégia de sobrevivência. É preciso reduzir o tamanho material e emocional da pandemia – sem se descuidar, claro, das medidas protetivas, para sofrer menos. Essa medida, por si só, já diminui a carga de estresse que, além de prejudicar o sono, também compromete a imunidade do organismo.
As principais terapias para a insônia visam o bem-estar. E não é possível chegar a este estágio de tranquilidade com cobranças pessoais e raiva contínuas pela situação e também pela falta de sono. Tem muita gente que se cobra porque não dorme.
Muitas pessoas têm abusado neste momento de pandemia das bebidas alcoólicas para relaxar e dormir…
Essa não é a melhor decisão porque, ao contrário do que as pessoas pensam, o álcool de forma abusiva fragmenta o sono, ou seja, não é uma boa ideia para induzir o sono. A pessoa pode até “apagar”, mas depois acordará confusa à noite e enfrentará as consequências durante o dia.
E os medicamentos tarja preta?
O consumo de medicamentos para insônia aumentou consideravelmente, entre eles as classes de ansiolíticos e drogas fitoterápicas que não precisam de receita médica. Muitas pessoas estão presas a essa muleta, mas o melhor é procurar ajuda especializada para tratamento, principalmente nos casos de transtorno mental, quando já existe o comprometimento do sono, para conseguir reduzir a carga de remédios à dose necessária e não desenvolver uma dependência psíquica/física.
A automedicação é outro risco, porque a pessoa só sabe que não está dormindo e arruma remédio com um amigo ou parente para tomar. Isso é uma loucura porque sem observar e entender as causas e buscar sanar os fatores desencadeantes não é possível uma solução para a insônia.
A falta de sono também pode ter causas respiratórias?
Sim. Pessoas que estão com problemas de memória, baixa concentração, que passam o dia sem disposição ou ânimo e/ou que acordam cansadas ou sentem sono durante o dia, podem ter problemas respiratórios associados com a rinite, por exemplo, que é uma situação epidêmica, já que acomete 40% da população. Mas cada caso deve ser investigado.
Serviço:
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