O oncologista Amândio Soares: “dependendo do tipo e do estágio do câncer, há mais risco de falecimento pela doença do que ao ser infectado pela Covid-19”. Crédito: Oncomed
O Portal Medicina e Saúde tem publicado matérias que falam da importância das pessoas procurarem um médico para consultas iniciais ou de acompanhamento de tratamento, nas mais diversas especialidades, pois o momento de pandemia do coronavírus tem afastado pacientes dos consultórios, dos exames laboratoriais e também dos prontos atendimentos dos hospitais. Entretanto, esses locais estão com protocolos de cuidados com os pacientes relacionados à prevenção da Covid -19. O tema merece toda a atenção, pois, com a demora de buscar atendimento, a situação de saúde dos pacientes pode se agravar muito, com sérias consequências. Uma sugestão aos pacientes é entrarem em contato com os estabelecimentos de saúde onde têm que ir e verificar como estão as regras de segurança ao cliente.
No caso da Oncologia, por exemplo, milhares de consultas e cirurgias foram canceladas no Brasil, devido ao medo da contaminação pela coronavírus. Especialistas temem que, no pós-pandemia surja uma outra epidemia: casos de tumores avançados, onde certamente o prognóstico é pior.
Segundo levantamento da Sociedade Brasileira de Patologia, a quantidade de exames de análises de biópsias de pacientes oncológicos operados diminuiu consideravelmente em relação ao mesmo período do ano passado. Somente no estado de Minas Gerais, entre 25 de março a 25 de abril, deste ano, houve uma queda de mais de 87% na realização dos exames de biópsia. Há mais dados preocupantes no território nacional. A Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica e a Sociedade Brasileira de Patologia, junto aos principais serviços de referência do país (nas redes pública e privada), divulgaram que de 50 a 90 mil brasileiros podem ter deixado de receber a confirmação do câncer nos dois primeiros meses de pandemia, ou deixarão de ser diagnosticados nas próximas semanas.
O oncologista Amândio Soares reforça que, o diagnóstico tardio para o tratamento de câncer está entre os maiores riscos de insucesso. Segundo o médico, adiar ou cancelar consultas e exames pode significar, no fim das contas, um atraso na descoberta do câncer. “Com diagnóstico tardio, muitos tumores podem ser descobertos em uma fase mais avançada do que aconteceria normalmente, se não estivéssemos nesse contexto de pandemia”, explicou. Vale lembrar que, quanto mais evoluída a doença no momento do diagnóstico, mais os casos se tornam inoperáveis, passam a depender de abordagens mais agressivas e tóxicas e têm menor chance de cura.
Segundo o Dr. Amândio Soares, o risco de infecção pelo coronavírus é muito alto e ele se caracteriza pela grande capacidade de disseminação, porém, tem baixa letalidade. A alta mortalidade deve-se ao grande número de pessoas infectadas. “Dependendo do tipo e do estágio do câncer, por exemplo, há mais risco de óbito ao deixar o tratamento, ou por diagnóstico tardio, do que ao ser infectado pelo coronavírus. Percebemos que os pacientes crônicos, principalmente com idade mais avançada, têm evitado procurar os serviços de saúde com medo de serem contaminados pelo coronavírus. Isso aumenta consideravelmente as chances de um pico de mortalidade por estas doenças nos próximos meses”, alerta.
Segundo Amândio, no caso do câncer, em tipos menos graves, é possível adiar consultas ou cirurgias, mas existem estágios da doença que não permitem uma interrupção no tratamento. “Por isso, para pacientes crônicos, a recomendação é não deixar de fazer os exames, pois só com a análise clínica, o médico pode orientar adequadamente o paciente”, afirmou o oncologista. “Muitos tumores evoluem de maneira muito rápida, por isso, a pausa no tratamento ou adiamento de exames e consultas preventivas é crucial para potencializar o tratamento e diagnóstico tardio, impactando nos resultados terapêuticos”, concluiu o médico fundador da Oncomed BH.
Para finalizar, o oncologista orienta que os pacientes não tomem decisões sozinhos. É preciso conversar com o médico que acompanha cada caso, para que possa adaptar as diferentes fases do tratamento durante a pandemia, além de informar quais exames, cirurgias e demais tratamentos podem (ou não) ser adiados e em que situações isso pode ocorrer.
É importante que os serviços públicos e privados adequem seus protocolos para receber seus pacientes oncológicos, dentro das limitações do momento. “Os pacientes com casos mais urgentes precisam acessar os serviços médicos para que tratamentos não sejam suspensos, deixem de serem iniciados ou adiados de forma indefinida e para não corrermos o risco de complicar o prognóstico de milhares de brasileiros”, encerrou Amândio Soares.