Muito alerta nesse verão: temperaturas altas podem causar infarto e AVC, o mesmo para temperaturas baixas
Dr. Marco Túlio Castagna: “estudos indicam que tanto as temperaturas frias como quentes extremas podem levar ao infarto agudo do miocárdio, devido a erosão dessa placa aterosclerótica, e no frio, devido a ruptura dessa mesma placa”
O Brasil vive intensas oscilações de temperaturas, variando entre frias e quentes, dependendo da época e da região do país. Em entrevista ao Portal Medicina & Saúde sobre esse assunto, o Dr. Marco Túlio Castagna, cardiologista clínico e intervencionista de Belo Horizonte/MG, informa que vários estudos destacam que temperaturas extremas (altas e baixas), são fatores de risco para o infarto agudo do miocárdio (IAM) e para o acidente vascular cerebral (AVC).
No inverno, por exemplo, pode ocorrer um aumento em torno de 30% das doenças cardiovasculares, com destaque para o infarto agudo do miocárdio, e de até 20% – para o Acidente Vascular Cerebral (AVC).
Marco Castagna é Doutor em Fisiologia e Bioquímica pela UFMG, Accredit fellow em Cardiologia Intervencionista pelo Wahisngton Hospital Center, e palestrante em congressos nacionais e internacionais. Ele é também o criador da startup Angelus Soluções em Saúde.
Dr. Marco Túlio, temperaturas muito frias ou muito quentes podem afetar o coração? Por que?
Vários estudos epidemiológicos têm relatado que temperaturas mais baixas e mais altas são fatores de risco para a incidência de infarto agudo do miocárdio. O mecanismo pelo qual o frio induz ao aumento desse risco ainda não está completamente esclarecido. As temperaturas baixas levam ao aumento dos níveis sanguíneo de catecolaminas resultando no aumento de frequência cardíaca e da pressão arterial e, por consequência, isquemia miocárdica e vulnerabilidade da placa ateromatosa na coronária. Temperaturas frias também elevam os níveis sanguíneos de colesterol, da atividade plaquetária e do fibrinogênio, aumentando a viscosidade do sangue. Em particular, a rápida exposição a baixa temperatura pode levar ao espasmo coronariano.
Da mesma forma, a temperatura quente, acima de 30 graus Celsius, também pode gerar repercussões importantes no sistema cardiovascular, por promover uma vasodilatação associada ao calor, levando a uma redução da pressão arterial e ao aumento importante da frequência cardíaca, principalmente quando a umidade relativa do ar está muito baixa. Esses fatores podem levar a desidratação e hipotensão arterial (baixa da pressão arterial), tonteira, desmaio e também ao infarto agudo do miocárdio e ao acidente vascular cerebral (AVC).
No frio isso pode acontecer devido a ruptura da placa aterosclerótica. No calor, pela erosão dessa mesma placa.
No frio, a partir de qual temperatura se deve ser ter mais cuidado? Depende da região e dos extremos da temperatura de que cada população está exposta. Temperatura abaixo dos 14 graus Celsius já é preocupante.
Em situações assim, o que ocorre com o coração?
O coração passa a bater mais rápido (taquicardia) e com mais força (aumento da pressão arterial) devido a uma vasoconstrição. Além disso há elevação de secreção de componentes bioquímicos no sangue que aumentam sua viscosidade e a agregação de plaquetas, levando a formação de trombos e espasmos (contração das artérias).
Quais as doenças cardíacas mais comuns devido a dias muito frios? Alterações na pressão arterial e frequência cardíaca. Como dito antes, o frio leva a vasoconstrição com aumento da pressão arterial e da frequência cardíaca. Aqueles que apresentam hipertensão arterial devem estar atentos a essas alterações atmosféricas.
E em temperaturas quentes, a partir de qual temperatura devemos nos preocupar?
Acima de 30 graus Celsius. No entanto, devemos considerar outros fatores como a umidade e a pressão atmosférica. Em situações extremas, com baixa umidade, menor que 30%, ou a alta umidade, maior que 80%, com calor extremo, pode haver repercussões importantes no sistema cardiovascular, levando a vasodilatação periférica, com redução importante da pressão arterial, tontura e síncope. Aqueles que fazem uso de medicamentos cardíacos para tratamento de hipertensão arterial, doença coronariana e insuficiência cardíaca devem consultar regularmente com seus cardiologistas para adequarem a medicação nessas situações.
Nesse caso, o que ocorre com o coração? Como se prevenir?
Como explicado anteriormente, o sistema cardiovascular é susceptível as variações atmosféricas da natureza. Essas podem levar a vasodilatação (no calor) ou vasoconstrição (no frio), alterações da frequência cardíaca, dos componentes bioquímicos do sangue com repercussões importantes. Portanto, os portadores de patologias cardíacas devem estar atentos a essas alterações e consultarem regularmente seus cardiologistas para adequarem a medicação e serem orientados sobre os devidos cuidados preventivos. No verão, é muito importante a hidratação e a ingestão de frutas para repor eletrólitos, como potássio, sódio, magnésio e outros.
No inverno, deve-se estar agasalhado de forma a manter o corpo aquecido. Também não se esquecer da hidratação, pois nossa estação é muita seca, principalmente no sudeste e centro-oeste do país.
Na sua experiência, quem têm mais problemas cardíacos em altas e baixas temperaturas, homens ou mulheres? Por que?
Independente do sexo, as temperaturas podem afetar indistintamente as pessoas. Logicamente, aquelas que têm uma sensibilidade maior ao frio ou ao calor estão mais sensíveis.
Sobre a doença arterial coronariana, tão alarmante no Brasil, o que o senhor gostaria de destacar?
A doença arterial coronariana é a principal causa de morte no Brasil e no mundo. Para se ter uma ideia, enquanto estávamos aterrorizados com a pandemia, o COVID-19 matou 6.935.889 pessoas em todo o mundo de 2020 até maio de 2023. Porém, só no ano de 2021 morreram 9.440.000 por doença arterial coronariana. Esses dados mostram a relevância da patologia e a importância de se atuar de maneira preventiva e melhorar a assistência médica aos indivíduos que têm patologias que levam à doença arterial coronariana.
Importante ter propósito na vida, atuar no tratamento adequado de hipertensão arterial, na obesidade, no sedentarismo, manter atividade física regular e frequente, dieta adequada e balanceada para evitar a diabetes e a dislilpidemias (elevação de colesterol e triglicérides), evitar ou suspender o tabagismo, controlar o estresse e manter um bom relacionamento social com familiares e amigos, além de tomar a medicação específica para cada situação, conforme recomendado pelo cardiologista.
O acompanhamento contínuo por um profissional habilitado vai servir também de norte para esses indivíduos terem uma vida mais saudável e com menor risco a patologias extremamente ameaçadoras à vida.