De acordo com a Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM), a baixa imunidade decorrente de quimioterapia e radioterapia pode agravar a infecção pela doença
Com cerca de 1 milhão de casos de dengue nos dois primeiros meses do ano, mais da metade do total registrado em 2023, e com a perspectiva de crescimento em março e abril, o Ministério da Saúde estima em 4,2 milhões os diagnósticos da doença em 2024. Diante deste panorama, a Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) alerta para a infecção em mulheres com câncer de mama. “Nestas pacientes, a imunidade tende a ser mais baixa e configura fator de risco para o desenvolvimento das formas mais graves da doença, principalmente entre as que estão em tratamento oncológico”, afirma o mastologista André Mattar, tesoureiro adjunto e membro do Departamento de Tratamento Sistêmico da SBM.
“Nós temos hoje uma epidemia de dengue no Brasil”, afirma Mattar. Mas para a SBM, a possibilidade de infecção da doença em mulheres com câncer de mama é motivo de grande preocupação. Nestas pacientes, o tratamento da dengue, segundo o mastologista, é basicamente direcionado aos sintomas, com melhora da dor, hidratação adequada via oral e mesmo aplicação de soro. “No entanto, há uma atenção redobrada com o grupo que se submete à quimio e à radioterapia”, alerta, ao explicar que nos dois procedimentos prescritos para o tratamento de câncer de mama, o organismo se ressente com a baixa imunidade. “Nestes casos, o quadro de dengue pode ser mais grave e, às vezes, temos que suspender as medidas contra o câncer, algo que não apenas atrasa o tratamento, mas compromete a saúde geral da paciente”, observa.
Eventualmente, a quimioterapia ataca o fígado da paciente com câncer de mama. A dengue também tem potencial para afetar as células do órgão e provocar lesões. Os efeitos que advêm da combinação das duas doenças podem ser severos”, destaca o especialista da SBM.
Por conter o vírus vivo atenuado, a vacina da dengue é contra indicada para pessoas imunossuprimidas. “E aqui nós incluímos as pacientes com câncer de mama”, afirma. Mesmo para o grupo de mulheres que se submete somente à radioterapia, a vacina não é recomendada. Segundo Mattar, mulheres que passam por quimio ou radioterapia devem esperar seis meses após o tratamento para se vacinarem.
Cepas – O vírus da dengue é transmitido pela picada da fêmea do mosquito Aedes aegypti. Atualmente, há quatro sorotipos diferentes circulando no Brasil. De acordo com o Ministério da Saúde, todas as faixas etárias são igualmente suscetíveis à doença. No entanto, idosos, pessoas com doenças crônicas e mulheres diagnosticadas com câncer de mama têm maior risco de evolução para casos graves da doença.
Na chamada dengue clássica, os sintomas mais comuns são febre súbita, entre 39° C e 40° C, dores de cabeça, no corpo, nas articulações e atrás dos olhos. “Estas dores não melhoram e é essencial que a pessoa procure ajuda médica quanto antes”, afirma Mattar.
Prevenção – Nos casos de dengue grave, também conhecida como dengue hemorrágica, há queda acentuada da pressão arterial, seguida de insuficiência circulatória severa, que pode levar à falência de múltiplos órgãos e até à morte.
Como forma de evitar a dengue, o especialista da SBM recomenda a prevenção. Segundo o Ministério da Saúde, 74% das larvas do mosquito Aedes aegypti são encontradas próximas às residências e no entorno das casas. “Como se reproduzem em qualquer reservatório sem proteção com água limpa, desde uma simples tampinha de garrafa a uma piscina sem cloro, é importante manter a limpeza de quintais e terrenos, não se descuidando nem mesmo dos vasos de plantas”.
O uso de repelente, especialmente no final da tarde, quando há maior circulação do mosquito, também é indicado pelo especialista. “Deve-se observar a frequência recomendada para as aplicações e utilizar produtos com pelo menos 20% de icaridina. Este princípio ativo é eficaz contra mosquitos provenientes de climas úmidos e tropicais”, observa.
Conforme ressalta Mattar, “nunca é demais ressaltar que a infecção por dengue entre pessoas saudáveis já é extremamente preocupante. Mas em mulheres com câncer de mama, a doença deve ter a prevenção elevada ao máximo de rigor”.