Estudo da Dra. Renata Bossi acaba de ser publicado na revista JBRA Assisted Reprodution e, associado a uma nova tecnologia adquirida pela clínica Origen/BH, poderá tornar tratamentos ainda mais assertivos
Que as mulheres são múltiplas, versáteis, conseguem se desdobrar em várias, isso não é novidade. Mas que elas vêm ganhando cada vez mais espaço na produção científica, faz pouco tempo. A crescente constante é fruto da maior escolarização feminina nas últimas décadas. Ainda assim, segundo a Unesco – agência da ONU para a Educação, a Ciência e a Cultura -, apenas 30% dos cientistas no mundo são mulheres. No Brasil, segundo o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq, 2021), há uma profunda desigualdade de gêneros nas áreas de Ciências Exatas, Engenharias e Computação: os homens assinam 75% dos artigos de computação e matemática. No entanto, nas Ciências da Saúde, elas correspondem a 60,2% do total de 20.444 doutores envolvidos em atividades de pesquisa e ensino das ciências de saúde, segundo o Painel Lattes/CNPq (2016).
Nesse rol de maioria de mulheres com doutorado em suas áreas de atuação está a embriologista-chefe da clínica Origen, Renata de Lima Bossi, MsC. e PhD. em Reprodução Humana, uma das áreas de estudo que mais se desenvolveram nos últimos anos, fruto da grande demanda de casais e indivíduos por tratamentos de reprodução assistida.
Graduada em Ciências Biológicas pela PUC Minas, a Dra. Renata Bossi é mestre e doutora em Patologia Ginecológica e Reprodução pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e embriologista certificada pela Sociedade Europeia de Reprodução Humana e Embriologia (Eshre).
Neste mês dedicado a homenagear as mulheres pelo dia internacional delas (8/3), a Dra. Renata Bossi concedeu, com exclusividade, ao Portal Medicina e Saúde, a entrevista abaixo, sobre sua pesquisa mais recente, enfocando como melhorar as técnicas de cultivo embrionário, que acaba de ser publicada na revista JBRA Assisted Reprodution, publicação trimestral em inglês da Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA).
Quando teve início essa pesquisa e qual sua importância para a melhoria dos tratamentos de reprodução assistida?
– A pesquisa teve início em 2019, foi conduzida por um dos fundadores da Origen, Selmo Geber (1955-2021), e visou entender o comportamento dos diversos meios de cultivo de embriões buscando compreender o que menos o afeta. Os resultados podem influenciar positivamente nos processos de reprodução assistida desenvolvidos na clínica. Analisamos o comportamento da osmolaridade – relação de sais e água no meio de cultivo, nas diferentes situações: estufa úmida, estufa seca, óleo mais denso, óleo menos denso, meio de cultivo contínuo, meio de cultivo sequencial. Nosso objetivo é manter a osmolaridade mais uniforme, ou seja, uma menor evaporação da água no meio de cultivo, levando o desenvolvimento embrionário aos menores índices de estresse. Nossa busca é melhorar o cultivo do embrião para gerarmos melhores resultados nos tratamentos de reprodução assistida.
Quais foram os principais achados desse trabalho?
– Um dos primeiros resultados observados pela equipe foi que o óleo mais denso e a estufa mais úmida afetaram menos a osmolaridade (evaporação do meio de cultivo) e, possivelmente, levariam o embrião cultivado a uma carga menor de estresse. Vale ressaltar que na prática essa pesquisa não envolveu embriões, nem pacientes. Avaliamos somente os meios de cultivo, comparando as melhores opções entre eles e como o embrião reagiria nessas condições.
Vocês adotaram alguma tecnologia de ponta nessa pesquisa?
– Nesse trabalho, não. Usamos apenas equipamentos que já tínhamos e conhecíamos. Mas, paralelamente a esse estudo, estamos dando sequência às análises de morfocinética embrionária, usando um aparelho cuja tecnologia nos permite refinar todo esse trabalho de análise dos embriões. O equipamento, único no Brasil da empresa australiana Genea Biomedx, foi adquirido em 2021 para melhorar ainda mais as condições de cultivo do embrião. Geri, como é chamada a incubadora, usa a tecnologia Time Lapse, que tem um sistema de inteligência artificial que fornece melhores resultados dessas análises necessárias na reprodução assistida. A incubadora expõe bem menos o embrião a mudanças de temperatura e fatores ambientais do que a técnica que é usada amplamente na atualidade. A maneira que usamos hoje é feita com muitos protocolos de segurança, claro, mas a tecnologia nos permite cada vez mais refinar esses processos básicos que fazem parte da fertilização in vitro.
E como a Geri funciona na prática? Ela tem a capacidade de selecionar ou melhorar, a qualidade de um embrião?
– Há uma série de fatores que podem fazer com que esse embrião não evolua. Com a incubadora nova, avaliamos esse passo a passo mais de perto e sem manipular os embriões como no método tradicional, que exige que eu retire a placa de cultivo da incubadora e leve ao microscópio. Isso dura menos de 2 minutos, mas sempre podem haver microvariações no PH, na temperatura do meio de cultivo, por mais que haja um controle rígido. O que esse equipamento traz é essa segurança a mais, pois não há necessidade de manusear a placa onde o embrião está sendo cultivado.
E sobre o artigo publicado na JBRA Assisted Reprodution , é verdade que os cientistas são mais reconhecidos quando publicam resultados de seus trabalhos em publicações científicas?
– Sim, é verdade. Ao compartilhar o passo a passo de um estudo relevante com a comunidade científica, por meio de uma revista ou jornal científico, estamos não apenas indicando que também fazemos ciência, mas validando nossos achados com nossos pares, ou seja, outros cientistas da mesma área. O JBRA é uma publicação oficial da SBRA, da Rede América Latina de Reprodução Assistida (RedLara) e da Associação Brasileira de Embriologistas (Pronucleo). Por isso, divulgar nossas pesquisas é de suma importância, pois queremos sempre aprimorar as técnicas que envolvem a medicina reprodutiva.