Em 2022, Brasil registrou quase 53 mil vítimas apenas nas estradas federais que cortam o país. FENIVE destaca a gravidade das ocorrências envolvendo caminhões
Foto: PRF- Divulgação
O trânsito urbano costuma ser um dos principais alvos das campanhas da Semana Nacional do Trânsito, comemorada sempre entre os dias 18 e 25 de setembro. Este ano, a Federação Nacional da Inspeção Veicular (FENIVE) quer propor uma reflexão sobre a importância de se fortalecer as campanhas e o rigor das fiscalizações quando o assunto é o trânsito rodoviário. O mais recente levantamento da Confederação Nacional dos Transportes (CNT) mostrou que, somente em 2022, ocorreram 64.447 acidentes nas rodovias federais que cortam o Brasil, com 52.948 vítimas, entre mortos e feridos. Isso equivale a dizer que apenas na malha rodoviária federal – que possui atualmente uma extensão total de 75,8 mil quilômetros – é como se a população inteira de cidades do porte de Avaré (SP), Macapá (AP), Itatiaia (RJ) ou Cianorte (PR) tivessem morrido ou ficado gravemente ferida em decorrência de acidentes nas estradas. Isso considerando apenas as rodovias federais. Existem ainda milhares de quilômetros de estradas que estão sob a gestão dos estados e que não entraram no levantamento da CNT.
Diferentemente das ocorrências dentro do perímetro urbano, destaca o diretor executivo da FENIVE, Daniel Bassoli, os acidentes registrados nas rodovias costumam ser mais graves. A pesquisa da CNT mostrou que, em 2022, a média foi de sete acidentes com vítimas a cada dez quilômetros de rodovias.
Pelo levantamento, foram 5.432 vidas perdidas nas estradas. Entre elas, 44,8% eram passageiros de automóveis. Em segundo lugar, 30%, dos óbitos eram pessoas que usavam moto como meio de transporte, seguidos dos motoristas e passageiros de caminhões, 14,2%. É nesse aspecto que Bassoli chama a atenção para um detalhe fundamental: “na pista, em uma colisão com qualquer veículo, o caminhão está em vantagem por sua estrutura”.
“Temos visto também, diariamente, notícias de caminhões sem freios, com problemas mecânicos, desgovernados, causando acidentes e provocando traumas em inúmeras famílias. Isso tudo por falta de uma maior fiscalização”, critica.
Um levantamento recente da Polícia Rodoviária Federal apontou que, nos quatro primeiros meses deste ano, quase metade (46%) das mortes registradas nas rodovias federais envolvia caminhões ou carretas. Ao todo, foram 1.211 vítimas com ferimentos graves nesses acidentes e 631 mortes, número maior do que no mesmo período do ano passado, quando foram registradas 624 mortes.
“A gravidade de um acidente desses é muito maior e é comum o motorista do caminhão sair ileso. É uma questão de física que não pode ser ignorada. Por isso é fundamental que os veículos de carga pesada que circulam pelo Brasil sejam inspecionados regularmente para garantir a segurança de todos os cidadãos”, reforça Bassoli.
Segundo a PRF, cerca de 5% dos acidentes em rodovias federais acontecem por falha mecânica. Tais falhas representam um fator comportamental, pois são causadas por falta de manutenção ou manutenção inadequada nos veículos. Problemas mecânicos poderiam ser evitados com a cultura da manutenção, que é fomentada por um programa de inspeção técnica periódica. “Infelizmente este programa, previsto no CTB desde 1997, ainda não foi implementado”, destaca o diretor.
Além do prejuízo humano, o diretor da FENIVE lembra que há ainda o impacto financeiro. A pesquisa da CNT apontou que o custo anual estimado dos acidentes ocorridos em rodovias federais brasileiras em 2022 chegou a R$ 12,92 bilhões. “É um dinheiro que poderia ser investindo em tantas áreas estratégicas, como saúde, educação e na própria infraestrutura rodoviária. Mas é desperdiçado”, pontua.
A Semana Nacional do Trânsito é um evento anual previsto no Código de Trânsito Brasileiro (CTB). As campanhas educativas devem ser realizadas ao longo de todo ano. Porém, em setembro, entidades que compõem o Sistema Nacional de Trânsito concentram as ações de educação e fiscalização como forma de alertar a população para a importância de um trânsito mais seguro e o impacto que o uso desordenado e excessivo dos veículos pode causar ao meio ambiente.
Neste ano, a Senatran propõe o tema “No trânsito, escolha a vida”, responsabilizando cada um pelas suas escolhas. Pois todo cidadão exposto ao tráfego tem a sua responsabilidade na redução de sinistros.