Brasileiros têm chegado com câncer de próstata em estado avançado para iniciar o tratamento. Brasil registra número de óbitos elevado da doença
O câncer de próstata é o tipo de câncer mais comum entre os homens no Brasil, sendo a segunda maior causa de morte por câncer nessa população. A prevenção, diagnóstico precoce e tratamento adequado, em tempo oportuno, representam grandes desafios para o sistema público de saúde. Há 13 anos, em 2011, o Instituto Lado a Lado pela Vida criou o Novembro Azul – campanha anual dedicada à conscientização da saúde masculina, em especial ao diagnóstico precoce do câncer de próstata. Desde então, a campanha tem aberto espaço para outras questões de saúde masculina, incentivando um olhar integral sobre o autocuidado e a busca por acompanhamento médico regular, além da orientação sobre os seus direitos.
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que a expectativa de vida dos homens no Brasil é, em média, cerca de 7 anos menor do que a das mulheres por uma combinação de fatores, desde a exposição a comportamentos de risco até a menor frequência para consultar profissionais de saúde. Segundo pesquisa realizada pelo Instituto Lado a Lado pela Vida, soma-se a isso, o fato de que 62% dos homens só procurarem ajuda médica quando a dor passa a ser insuportável.
De acordo com Marlene Oliveira, fundadora e presidente do Instituto Lado a Lado pela Vida, o objetivo da campanha deste ano é incentivar o autocuidado para que os homens fiquem atentos aos fatores de risco e salientar que cada passo conta nessa jornada. “O câncer de próstata, quando diagnosticado precocemente, tem grande chance de cura. O que não pode acontecer é, por preconceito, não buscar ajuda médica, deixar de se cuidar e o sistema de saúde não conseguir dar acesso para o diagnóstico precoce da doença”, enfatiza.
No Brasil, a situação é alarmante, pois os pacientes têm chegado na rede pública com a doença avançada. Dos 44.660 casos diagnosticados em 2023, 54% são dos estádios 3 e 4; e 62% dos homens só procurarem ajuda médica quando a dor passa a ser insuportável. Os números apresentados fazem parte do levantamento Câncer de Próstata no Brasil: Análise de base de dados públicos 2022 a 2024, realizado pelo Instituto Lado a Lado Pela Vida, que faz o cruzamento das informações também com os dados do Instituto Nacional de Câncer (INCA) e do Ministério da Saúde (MS), ou seja, são dados referentes ao Sistema Único de Saúde (SUS).
“Temos desafios grandes para enfrentar. O primeiro é em relação ao homem vencer a resistência em procurar o serviço de saúde, depois melhorar o acesso no que envolve as Unidades Básicas de Saúde (UBS) e a regulação. Os pacientes têm chegado com o diagnóstico muito tardio, quando não há muito o que se fazer. É mais que urgente mudarmos esse cenário”, afirma a fundadora do Instituto Lado a Lado pela Vida.
Segundo o oncologista Igor Morbeck, também membro do Comitê Científico do Instituto Lado a Lado pela Vida, o diagnóstico tardio torna o tratamento mais complexo e pode diminuir as opções terapêuticas disponíveis. “O câncer de próstata não difere de outros tipos de tumores, que podem apresentar rápido crescimento, com células malignas se multiplicando e disseminando a doença para outras partes do corpo. Quando o paciente chega com o tumor em estado avançado, o câncer – que antes poderia ser removido cirurgicamente em estádios iniciais, pode se tornar inoperável se o tratamento for adiado, com metástases que podem se formar, exigindo terapias mais agressivas e, consequentemente, maiores efeitos colaterais para o paciente”, explica.
Em 2023, foram gastos R$ 18,8 milhões em prostatectomias (procedimento cirúrgico) e R$ 202,5 milhões em hormonioterapia, seguidos de R$ 131,6 milhões em radioterapia e R$ 82,4 milhões em quimioterapia. Diante deste cenário, é possível afirmar que o tratamento tardio fica mais oneroso também, elevando os gastos da saúde. Para o Dr. Morbeck, esse é um ponto de atenção, já que o câncer de próstata se diagnosticado precocemente, nos estádios 1 e 2, apresenta indicação para cirurgia. “Este é padrão ouro de tratamento quando o câncer ainda é inicial. Mas temos visto mais casos avançados quando o tratamento é realizado com hormonioterapia, quimioterapia e radioterapias”, completa o oncologista.
Na Região Sudeste, os estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais são os três mais populosos e, consequentemente, com maior estrutura para diagnóstico e tratamento. Por isso, são os que mais acumulam registro de casos de câncer de próstata. Quando comparada com as demais regiões, como a Norte, que tem menor número de casos da doença, é possível se levar em conta a possibilidade de subnotificação e falta de estrutura, acesso e vazios assistenciais.
Em 2022, 89,95% dos diagnósticos de pacientes com câncer de próstata foram realizados pelos Centros Especializados em Oncologia (CACONS) e Unidades de Alta Complexidade em Oncologia (UNACONS). Já no ano de 2023, a participação foi de 89,11% – o que não difere muito dos registros apontados até o presente momento em 2024, que é de 84,93%. Os dados destacam a importância das unidades de alta complexidade em oncologia na realização do diagnóstico do paciente, que deveria estar sendo realizado em ambiente de média complexidade.