Ginecologista-obstetra do Neocenter Maternidade/BH, Dra. Tamires Lima: “Durante o pré-natal, é possível detectar se há riscos de que a mulher possa ter um parto prematuro”
Todos os anos, 340 mil bebês nascem antes das 37 semanas de gestação no Brasil, o que coloca o país na décima e incômoda posição mundial em partos prematuros (dados são da Unicef/2021, e da Fiocruz/2016). A média mundial é de 10% e a nacional é de 11,5%, aproximadamente duas vezes maior que a dos países europeus, em torno de 5%. A boa notícia é que esses índices podem ser diminuídos por meio da prevenção e antes mesmo da gravidez, com planejamento familiar, e, logo após o diagnóstico, com a realização de todas as etapas que compõem o pré–natal.
Para informar e conscientizar a sociedade, gestores públicos e profissionais de saúde a respeito dos riscos da prematuridade para os bebês e para as mães, o Neocenter Maternidade aderiu ao movimento Novembro Roxo, que visa tratar desse tema tão sensível. “A cor roxa representa a sensibilidade e a individualidade, duas características dos prematuros”, ressalta a médica ginecologista-obstetra e plantonista do Neocenter Maternidade, Tamires Lima. Frente aos números do país, o Novembro Roxo é um convite para que a sociedade trate de um tema necessário e que passa pelos cuidados com as gestantes de uma forma geral. “Todo parto que acontece antes das 37 semanas de gestação é prematuro, o que aumenta os riscos para a sobrevida e desenvolvimento do bebê e para a qualidade de vida da mulher, em decorrência do afastamento com o filho, logo após o nascimento”, destaca a médica.
Riscos – Durante o pré-natal, é possível detectar se há riscos de que a mulher possa ter um parto prematuro. Entre eles está o parto prematuro anterior; gravidez gemelar; colo do útero curto, útero com formato diferente do tradicional ou se já passou por alguma cirurgia; se a gestante faz uso de drogas lícitas ou ilícitas (tabagismo e cocaína), infecções urinárias ou renais (pionefrite) ou está abaixo do peso e se a gestação é muito próxima da anterior, o que aumenta a probabilidade consideravelmente.
Mas há outros sintomas que devem ser observados pela gestante no dia a dia. Entre eles estão contrações, que é o endurecimento da barriga, associada a dor, a cada 10 minutos, principalmente se ritmada e com duração entre 40 segundos e um minuto. Da mesma forma, mudanças no padrão da secreção vaginal, cólicas que não cessam com o medicamento, dores abdominais, sangramento vermelho vivo e febre são situações que demandam cuidados extras.
Classificações – A prematuridade tem classificações. Quando o bebê nasce após as 34 semanas, é tardia. Entre as 32 e 34 semanas, é moderada. Quando não chega a 32 semanas, é muito prematuro e quando a criança não alcança 28 semanas, extremamente prematura. Dos casos brasileiros, aproximadamente 75% a 85% são moderados e/ou tardios.
“Quanto menor o tempo da gestação, maiores os riscos para o bebê”, enfatiza Tamires Lima. A lista inclui lesão e hemorragia cerebral, infecção bacteriana grave, problemas respiratórios, icterícia, alterações congênitas e alteração da idade escolar, com aprendizado e desenvolvimento comprometidos.
Nascer fora do tempo também pode resultar em problemas cardíacos, alterações intestinais (enterocolite necrotizante) e retinopatia, que pode levar a cegueira se não for diagnosticado e tratado o quanto antes.
Para a mãe, a separação do filho logo nas primeiras horas do nascimento, pode deixar sequelas como depressão, fadiga e ansiedade, principalmente quando o período de tratamento do bebê, na unidade hospitalar e, principalmente, na de terapia intensiva, é mais longo.
Superando a prematuridade – Em 2007, após superar desafios durante a gravidez, incluindo a necessidade de intervenção médica para manter o bebê no útero, Sheila Ramos deu à luz seu filho, Guilherme Ramos dos Santos, com apenas 27 semanas de gestação e um peso de 1,140 kg. Devido à prematuridade, Guilherme necessitou de cuidados intensivos na UTI Neonatal do Neocenter. Hoje, 16 anos depois, ele nos conta um pouco da sua história.
“Tive hemorragia cerebral, operei o coração e fiquei quatro meses na UTI do Neocenter. Na época, os médicos disseram que eu tinha poucas chances de sobreviver e que caso sobrevivesse eu teria sequelas, mas, contrariando todas as probabilidades, estou aqui, bem e sem nenhum problema relacionado à prematuridade. O que posso dizer para as mães que estão passando pelo que minha mãe passou é para terem esperança na recuperação dos seus filhos”.
Outra história inspiradora de prematuridade é a de Alice Menezes Bonfim, filha de Gabrielle Ferreira Bonfim, que nasceu de 26 semanas e quatro dias, de parto normal de uma gestação gemelar. “Infelizmente nossa segunda filhinha virou anjo e, depois disso, vivemos quatro meses de lutas e vitórias com a Alice. A equipe da UTI foi a nossa segunda família, sempre cuidando de uma forma carinhosa e competente de nossa filha, além de nos auxiliarem em todos os momentos. Alice recebeu alta e hoje é uma criança de 5 anos, muito inteligente, esperta e carinhosa”, conta Gabrielle.