Por: Guilherme Ambar
Biólogo e CEO da Seegene do Brasil
A Organização Mundial da Saúde acaba de anunciar que “a Europa pode registrar 700 mil novas mortes por COVID nos próximos meses”, e isso sem considerar a variante Ômicron, que parece ter baixa letalidade, enquanto os Estados Unidos registraram 1,3 milhão de novos casos em 15 dias e viram a média de mortes subir para 1.420 diárias.
Diante desse quadro, a América Latina e, especificamente, o Brasil parecem extremamente preservados, com menos de 200 mortes diárias. Entretanto, essa situação ‘confortável’ do País pode não perdurar com a corrida pelas compras e as festas de fim de ano e, principalmente, quando dezenas de milhares de turistas chegarem do exterior, atraídos pelo Carnaval.
Por incrível que pareça, um dos motivos que beneficiam o Brasil no momento atual é o fato de termos começado a vacinar tardiamente. Assim, enquanto o vírus se espalha na Europa porque encontrou a maioria da população vacinada há mais de seis meses e, portanto, com nível de anticorpos já baixo, – e a Europa está no inverno -, por aqui a vacinação tomou ‘fôlego’, ultrapassando a casa do milhão de vacinados diariamente.
É claro que fomos beneficiados também porque aqui a maioria das infecções são de variantes que causam menos mortes.
Com a chegada em massa dos turistas do Carnaval essa situação vai mudar e não estamos conseguindo sucesso na aplicação da dose de reforço, que só foi aplicada em cerca de 10% da população.
É vital que o País esteja preparado para um incremento da COVID e a única resposta é a mesma que o diretor-geral da OMS deu, lá no início da pandemia: ‘é preciso testar, testar e testar’.
A verdade é que o Brasil não está testando e continua a avaliar a gravidade da epidemia pela contagem de mortos, ao contrário do que recomenda o CDC – Center for Desease Control -, dos EUA, que propõe a análise da velocidade de transmissão, correlacionando o número de casos positivos versus o número de PCR feitos.
Pretendíamos, no início da pandemia, fazer 24 milhões de testes PCR até dezembro do ano passado, mas não chegamos nem perto, tanto que o professor Daniel Lahr, da USP, disse que ‘estamos testando brutalmente menos do que deveríamos, 20 vezes menos’. Estatísticas mais recentes indicam que testamos 15 vezes menos que os Estados Unidos e 12,5 vezes menos que o Reino Unido. Enquanto internacionalmente a situação de um País é considerada razoável quando apenas 5% dos testes de determinada população dão positivo, no Brasil, mesmo testando muito pouco, o índice de positivos é sete vezes maior do que o esperado, 36,8% segundo o ‘Our World in Data’, ferramenta usada pela John Hopkins.
Diante da expectativa de um próximo incremento das infecções por COVID, sem pensar na ‘quarta onda’ tão temida pela Europa, o que pode ser feito é nos preparamos para testar em massa. Isso é possível, sim. Se o Brasil foi capaz de se mobilizar e vacinar até mais de dois milhões de pessoas num único dia, certamente seremos capazes de testar número semelhante. Esses testes, porém, terão que ser feitos da mesma maneira como os países asiáticos, que conseguiram combater com sucesso a pandemia, Coréia do Sul, entre eles. A tática empregada com grande sucesso e que continua sendo usada no Oriente é identificar com a maior rapidez os polos de difusão do vírus.
Na Coreia, que conheço bem, já que a empresa que dirijo é subsidiária da Seegene coreana, quando a contaminação começa a aumentar a testagem em massa é imediatamente desencadeada na região afetada. Esses testes indicam rapidamente e com precisão, o foco da contaminação, que pode ser uma escola, um centro comercial, às vezes alguns quarteirões de um bairro. Feita a identificação, as medidas devidas são tomadas e a dispersão do vírus é contida, simples assim. O exemplo existe, a questão agora é nos prepararmos devidamente, para não sermos pegos de surpresa quando o Carnaval chegar e com ele novas variantes do vírus, que tentará se espalhar, novamente.