Por Dr. Leonardo Pimenta, Doutor em Fisiologia Humana Metabólica pela Faculdade de Medicina ABC, Mestre em Fisiologia Humana Metabólica pela USJT/USP.
A Organização Mundial de Saúde afirma que a obesidade é um dos problemas de saúde mais graves que temos que enfrentar. Só para se ter uma ideia, a estimativa é de que 2,3 bilhões de adultos estarão acima do peso em todo o mundo em 2025, sendo que 700 milhões desses indivíduos terão um índice de massa corporal (IMC) acima de 30, o que define a obesidade.
No Brasil, segundo dados da plataforma ABESO, essa doença crônica aumentou 72% em 13 anos, saindo de 11,8% em 2006 para 20,3% em 2019. Dados da ABESO apontam ainda que o excesso de peso acomete 55,4% da população, sendo maior entre os homens (57,1%) do que entre as mulheres (53,9%). São aqueles famosos 10 quilos a mais, capazes de impactar diretamente a obesidade, diabetes e hipertensão arterial e causar doenças cardiovasculares e câncer.
É importante salientar que a obesidade não deve ser tratada isoladamente somente com remédios prescritos pela medicina tradicional, pois o resultado rápido com a perda de peso na balança não condiz com a perda de gordura, o que realmente é o mais importante para o processo de emagrecimento ser permanente, afinal, a redução na balança é um valor bruto que não expressa o que realmente está acontecendo com o corpo.
A reeducação alimentar desinflamatória junto com modulação intestinal precisa estar associada com exercícios físicos e, em alguns casos, sessões de psicologia/psiquiatria para achar qual é o gatilho da compulsão, se é ansiedade ou depressão, que leva ao consumo exacerbado de alimentos engordativos, principalmente açúcares simples ou massas que causam o aumento da dopamina que logo diminui e nos incentiva a comer novamente para buscar a sensação de bem estar.
É importante se ter uma visão global da saúde, por isso é fundamental que todas as áreas atuem em conjunto multidisciplinar, pois o trabalho segmentado não está impactando de forma significativa na diminuição da obesidade como doença multifatorial.
No aspecto da medicina tradicional, no que se refere ao uso de medicamentos, os dados são avassaladores. Eles mostram que de cada 10 pessoas que utilizam medicamentos para redução de peso, nove voltam a engordar novamente com reganho de peso maior do que antes da utilização dos remédios. Infelizmente, os mesmos dados são para operação bariátrica, pois após 2 anos, muitos indivíduos recuperam o peso inicial antes da intervenção.
O uso de vários medicamentos para a perda de peso rápido sem modificação do estilo de vida parece fácil, mas está longe da solução real. Inibidores de apetite, aceleradores de metabolismo e as famosas e caras injeções semanais de semaglutida só causam inibição da fome, pois são produzidas com um componente análogo de GLP1 para atuar via intestino, sendo criadas principalmente para Diabetes do tipo 2 e não para perda de peso, como descrito na bula do remédio. Os efeitos adversos dessas injeções são inúmeros, desde dores de cabeça até náuseas, vómitos e intestino permeável (disbiose), comprometendo todo o sistema digestório e imunológico.
Do ponto de vista da reeducação alimentar, várias estratégias estão disponíveis para perda de peso como, a dieta cetogênica, que prevê o consumo de 8 a 12% de carboidratos, 50% a 60% de gorduras boas e o restante de proteínas de valor biológico. Inicialmente, ela promove uma perda de peso considerável “na balança”, o que não expressa modificações no metabolismo ou no aumento da massa muscular, e, ainda, pode comprometer negativamente os hormônios, principalmente a função tireoidiana, pois, na maioria dos casos, é feita sem apoio de um nutricionista. Essa opção nunca deve ser utilizada como primeira “estratégia”, pois não deve ser feita sem direcionamento fisiológico competente, quando eletiva, o que, na grande maioria dos casos não é. No máximo, ela deve durar dois meses.
Já, do ponto de vista do exercício físico, o impacto inicial é pouco quando o paciente não faz uma reeducação alimentar efetiva. O déficit calórico inicial, ou seja, gastar mais do que se consome, faz todo sentido fisiológico para uma pessoa obesa, mas, mesmo que ela faça uma caminhada, corrida ou HITT, e gaste 650 Kcal por treino, pouco adianta se à noite ela ingerir 1000 kcal a mais do que precisa no seu metabolismo total, pois ela não terá um emagrecimento consistente.
Vale salientar que as modalidades de exercícios acima são de caráter aeróbico, conhecidas pelo dispêndio de energia. Porém, a modalidade mais estudada hoje e capaz de proporcionar vários benefícios metabólicos é a musculação por ter impacto direto no aumento do metabolismo do indivíduo, melhorando suas funções hormonais para ganho muscular e as funções da tiroide para acelerar a perda de gordura geral no organismo.
Vale lembrar ainda que, como as pessoas obesas geralmente tendem a estar com a saúde sempre mais comprometida, antes de correr ou mesmo caminhar, precisam fortalecer os músculos para executarem um aeróbio eficaz e sem riscos de lesões. Por isso, quando a pessoa optar por um tratamento para obesidade é fundamental escolher um que associe reeducação nutricional, prática de exercícios físicos regulares adequados e apoio psicológico para integrar todas essas áreas e obter um resultado definitivo.