“A oclusão dentária é muito mais do que o simples fato de os dentes inferiores (da mandíbula) tocarem os dentes superiores (da maxila) quando fechamos a boca ou durante o ato de mastigar”
Foto: Divulgação
Uma boa oclusão possui mais complexidade do que os dentes encaixados e um sorriso perfeito. “Ela, literalmente, envolve todo o sistema estomatognático do indivíduo: ossos, músculos e seus ligamentos, articulações, periodonto (estruturas íntimas ao dente – gengiva, osso alveolar e ligamento) e os próprios dentes, explica o presidente da Câmara Técnica de Ortodontia do Conselho de Odontologia de São Paulo, Dr. Ronaldo Tuma, ao destacar dados da Pesquisa Nacional de Saúde Bucal, realizada em 2010, segundo a qual, 66% das crianças de 5 anos sofriam de oclusão dentária naquele período; o que demonstra a gravidade da realidade brasileira no tocante a essa condição.Nesse sentido, afirma, “a oclusão dentária é muito mais do que o simples fato de os dentes inferiores (da mandíbula) tocarem os dentes superiores (da maxila) quando fechamos a boca ou durante o ato de mastigar”.
O diagnóstico é feito por meio de análises e deve levar em conta diversos parâmetros, além do exame clínico, como marcações com papel carbono, observação de movimentos da mastigação e exames de palpação em músculos e articulações. Também é utilizado articuladores físicos ou digitais, escaneamentos intraorais e softwares específicos.
Justamente, devido a essa complexidade, a Pesquisa Nacional de Saúde Bucal de 2020 apresentou dificuldades em avaliar os problemas oclusais. Não houve consenso sobre o melhor instrumento de medida e, consequentemente, em sua avaliação. Outro problema foi também a pouca importância dada ao diagnóstico de problemas ortodônticos na população, em razão do elevado número de casos de pessoas com cárie dentária, junto de perdas dentárias que dificultam a má oclusão.
Conforme explica o cirurgião-dentista Ronaldo Tuma, uma pessoa poderá simplesmente avaliar a aparência do seu sorriso e perceber visualmente que sua oclusão não parece ser ideal. Em uma boa oclusão, a arcada superior é um pouco mais larga que a inferior, e, ao fechar, todos os dentes superiores cobrirão efetivamente os inferiores. Em um olhar frontal, os dentes superiores deverão encobrir os inferiores cerca de 2 a 3 mm. Caso isso não ocorra, provavelmente a pessoa tem uma má oclusão.
“Nas crianças, as coisas são um pouco diferentes: apesar de poderem desenvolver uma má oclusão ainda com os dentes de leite, às vezes existem movimentações naturais durante as trocas dentais que podem nos dar a impressão da instalação de uma má oclusão. Por isso, reforçamos a importância e recomendamos a visita a um cirurgião dentista, acompanhando desde cedo o desenvolvimento da dentição dos filhos”,sugere o presidente da Câmara Técnica de Ortodontia do CROSP.
Causas de uma má oclusão – São diversas. “Entre elas, podemos citar fatores genéticos, hábitos bucais nocivos (chupar chupeta, chupar dedo, roer unha, morder objetos, apertar dentes e bruxismo) com frequência, intensidade e duração suficientes”, observa o especialista, apontando também como causas perdas dentárias, cáries extensas, dietas de alimentos sem a devida consistência, alterações funcionais, fonação, deglutição e problemas respiratórios.
Sintomas – Pacientes com má oclusão podem apresentar uma série de sintomas, como incômodos nos dentes ao se tocarem ou durante a mastigação de alimentos, retração gengival – expondo as raízes dos dentes e provocando sensibilidade, dentes trincados ou fraturados, incômodos musculares, dores articulares, dores no ouvido e dores de cabeça frequentes, mas, de acordo com o Ronaldo Tuma, “devemos estar cientes que os fatores podem ou não estar diretamente relacionados a uma má oclusão: somente o cirurgião dentista poderá fazer um diagnóstico diferencial e determinar as reais causas”.
Tratamento – O melhor tratamento será indicado pelo cirurgião-dentista conforme o quadro clínico do paciente. Dentre as possibilidades estão os aparelhos ortodônticos, a ortopedia funcional dos maxilares, restauração dental, devolução dos dentes ausentes através de próteses – podendo ser ou não sobre implantes, placas interoclusais, fotobiomodulação, cirurgia ortognática e outros. Em determinadas situações, observa ainda o Dr.Ronaldo Tuma, “o tratamento para restabelecer uma boa oclusão com a harmonia e equilíbrio das estruturas envolvidas poderá ser muito complexo e exigir o envolvimento de diversas especialidades da Odontologia e de outros profissionais da saúde, como otorrinolaringologista, fonoaudiólogo e fisioterapeuta”.