Por Renata Bento – Psicóloga, membro da Sociedade Brasileira de Psicanálise do Rio de Janeiro, da International Psychoanalytical Association – UK, e da Federación Psicoanalítica de América Latina – Fepal.
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A influência digital negativa nos jovens tem sido uma preocupação constante e crescente, devido aos impactos adversos em várias áreas de suas vidas. O uso excessivo das redes sociais e a exposição a padrões irreais de vida podem contribuir para o aumento da ansiedade e da depressão entre os jovens, o que pode ter consequências graves para a saúde mental. O desenrolar da vida acontece dentro de um processo relativamente lento e não linear, diferente das redes sociais onde há uma variedade de informações e todo tipo de estímulos, de forma fácil e rápida. Mas que tipo de conteúdo os jovens estão consumindo diariamente?
As redes sociais frequentemente promovem um ideal de vida “perfeita”, levando os jovens a sentirem pressão para corresponder a esses padrões irreais de sucesso, beleza e felicidade. Muitos jovens não estão cientes dos riscos de privacidade online, compartilhando informações pessoais que podem ser exploradas por terceiros, podendo ser expostos a conteúdo inadequado, como violência, pornografia e discurso de ódio, que pode afetar negativamente sua visão de mundo e comportamento em uma fase da vida onde ainda estão pavimentando todo seu alicerce emocional. Nesse período as relações sociais são muito importantes.
O vício em dispositivos digitais e redes sociais pode levar os jovens a passar horas excessivas online, prejudicando seu tempo de estudo, sono e interações pessoais e leva-lo ao isolamento social, uma vez que os jovens podem preferir interações virtuais em detrimento das interações face a face.
Outro ponto importante é que alguns jovens podem desenvolver uma dependência de validação social nas redes sociais, buscando constantemente as famosas curtidas, comentários e aprovação de seus pares. As interações nas redes sociais tendem a ser mais superficiais do que as interações presenciais, o que pode levar os jovens a desenvolver relacionamentos menos significativos e menos profundos. Tem-se a ilusão da relação social online, mas apresentam dificuldade na interação social na presença física do outro, o que é completamente diferente. On-line pode se estar com o outro, mas nunca na presença do outro.
A exposição à luz azul, emitida por dispositivos eletrônicos antes de dormir, pode interferir no sono, levando a distúrbios e a constante interrupção do sono causada por notificações. O hábito de verificar constantemente dispositivos pode também dificultar a concentração e a sua atenção.
Quando os jovens estão fisicamente presentes em interações sociais, o uso constante de dispositivos para verificar redes sociais pode ser percebido como falta de atenção e respeito pelos outros, há dificuldade em se estar presente na presença.
É importante notar que o impacto das redes sociais pode variar de pessoa para pessoa e depende da quantidade de tempo gasto, do conteúdo consumido e da maneira como os jovens lidam com as experiências online.
Para mitigar esses impactos negativos, é fundamental promover a conscientização sobre o uso responsável das redes sociais, estabelecer limites de tempo de tela, incentivar a comunicação aberta sobre as experiências online e promover relacionamentos saudáveis offline. Além disso, os pais e educadores desempenham um papel crucial na orientação dos jovens sobre o uso adequado das redes sociais de forma saudável e responsável. A curiosidade e a falta de noção dos perigos da internet têm levado os jovens a navegar sem proteção por lugares que os próprios adultos/pais/educadores desconhecem.
Existem sites e aplicativos onde crianças e jovens podem se conectar de forma rápida e fácil, sem nenhum tipo de cadastro ou confirmação de identidade do indivíduo. Podem trocar fotos e vídeos com pessoas aleatórias, sem que passe por qualquer filtro de privacidade e segurança. Esses sites são assim denominados “talk to strangers” ou em português, “fale com estranhos”.
É imprescindível que os pais se informem, supervisionem e orientem o consumo online dos filhos e não se deixem ofuscar pela ilusão de que os filhos são ingênuos e incapazes de buscar esse tipo de conteúdo.