Os riscos psicológicos da adultização na infância

                                                                                      Imagem : Daniela Dimitrova por Pixabay 

Por:  Andréa Ladislau / Psicanalista

Algumas brincadeiras ditas como inocentes, nem sempre são tão inocentes assim. Comprova-se isso quando pensamos em nossas crianças e em insinuações do tipo: “Que lindos!!! São namoradinhos”. Típicas brincadeiras que fomentam a “adultização” de nossos pequenos. Isto porque a infância é conhecida como o período da inocência e quando crianças não compreendemos o mundo a nossa volta como os adultos, pois estamos em fases distintas, cognitivamente falando. Portanto, existe uma sensibilização enorme no que diz respeito a promover a aceleração destes estágios de desenvolvimento.

A infância necessita de um olhar um pouco mais cuidadoso, mas, às vezes, ao lidarmos com nossas próprias crianças esquecemos de que um dia vivenciamos aquele período e acabamos por projetar nelas comportamentos nossos, de adultos. Um desses comportamentos é o namoro, algo intrinsicamente adulto que atribuímos a criança como se fosse algo normal.

Mas vamos pensar juntos, qual o maior problema disso? A grande questão é que o desenvolvimento é pautado por etapas e cada etapa possui o seu nível de importância para um desenvolvimento saudável. Assim, quando atribuímos a uma criança o ato de namorar, estamos precocemente “adultizando” uma fase que não deveria ser “adultizada”. O resultado é que, quando uma criança fala que namora, ela imita um comportamento que vê em casa ou na sociedade a sua volta, sem compreender o que aquele comportamento significa.

Ao incentivar o namoro de crianças, o perigo encontrado é o encurtamento da infância e a sexualização precoce. Esse encurtamento acontece quando se leva ao universo infantil um conteúdo (o namoro) que pertence ao universo do adolescente e do adulto. Ou seja, assim como os marcos do desenvolvimento infantil e outras diversas situações do universo das crianças, não existe nenhum manual ou regra que determine qual a idade certa para começar a namorar. No entanto, não devemos romantizar o crescimento precoce.

A compreensão do sentimento amoroso e do desejo sexual é algo do mundo adulto, pois, por mais que a sexualidade esteja presente desde o nascimento, a criança ainda não entende sua complexidade. Ela busca o outro pelo desejo de contato humano, e olhar isso através da ótica da erotização é algo provocado pelos adultos e que as empurra para um tipo de interação para qual ainda não estão preparadas e que pode lhes causar muita angústia.

Mas e se a criança um dia chegar em casa dizendo que têm um namoradinho, o que fazer? Nosso papel como pais, responsáveis e educadores é explicar que namoro é coisa de adulto e que as crianças possuem amigos e colegas. Lembre-se que a criança não tem maturidade para compreender o que significa namoro e por isso não deve ser estimulada a tanto. É importante que ela receba a orientação de que, certas coisas, só poderá fazer quando “crescer”, respeitando suas etapas e períodos de crescimento. Portanto, apesar de termos evidências de que a erotização da infância acontece hoje com uma naturalidade assustadora, não podemos nos omitir ao dever de educar e orientar a criança, abominando atos que possam roubar a inocência. Afinal, criança feliz é aquela que vive a infância sendo criança e que completa, em sua plenitude, todas as etapas de seu desenvolvimento infantil.

Sair da versão mobile