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Para além da maternidade: quando o congelamento de óvulos é recomendado por questões médicas

Técnica de preservação da fertilidade é indicada em diferentes contextos médicos e pode garantir a possibilidade de gestação no futuro

Imagem: Pixaby

O congelamento de óvulos tem ganhado espaço não apenas entre mulheres que desejam adiar a maternidade, mas também como ferramenta médica estratégica. Com o avanço das pesquisas e a ampliação do acesso, o procedimento passou a ser indicado em situações clínicas nas quais a função ovariana corre risco de ser prejudicada de forma irreversível.

Muito associado ao adiamento da maternidade por razões pessoais, o congelamento de óvulos foi criado, inicialmente, como um recurso essencial em cenários médicos delicados. “Quando a paciente enfrenta situações capazes de comprometer sua reserva ovariana, como em alguns tratamentos de câncer, endometriose e outras doenças, a preservação dos óvulos se torna uma medida urgente para garantir a possibilidade de engravidar mais tarde”, explica a Dra. Michelle Nagai, especialista em Reprodução Assistida do FertGroup, de São Paulo/SP.

Câncer e tratamentos oncológicos – Segundo um estudo publicado no Journal of Gynecologic Oncology, entre as principais indicações estão os casos de câncer. Quimioterapia e radioterapia são conhecidas pelo potencial de danificar os ovários, levando à infertilidade. Por isso, especialistas recomendam que mulheres em idade fértil realizem a criopreservação de óvulos antes do início do tratamento, em um prazo de até três semanas após o diagnóstico.

Os estudos indicam que a taxa de sobrevivência dos óvulos após congelamento chega a 90/95% em mulheres com menos de 35 anos, com taxas de gravidez em torno de 40% a 50% nessa faixa etária.

Doenças autoimunes – Condições como lúpus, artrite reumatoide e esclerose múltipla podem impactar a fertilidade, tanto pela doença quanto pelos tratamentos imunossupressores. Um levantamento da CoFertility revela que mulheres com lúpus têm risco significativamente maior de diminuição da reserva ovariana, 42,2% contra apenas 10,8% na população geral, além de produzirem menos embriões viáveis, mesmo quando estão em remissão.

“Em casos de doenças autoimunes, avaliamos com cautela o momento de estimular os ovários para não colocar a saúde da paciente em risco. A decisão é sempre multidisciplinar, envolvendo áreas médicas para além da ginecologia”, reforça a Dra. Michelle Nagai.

Endometriose avançada – Outra condição que pode levar à perda precoce da fertilidade é a endometriose. Diretrizes do Journal of Gynecologic Oncology recomendam a preservação de óvulos em mulheres com endometriomas bilaterais superiores a 3 cm ou em casos de recorrência unilateral, especialmente antes de cirurgias que possam reduzir ainda mais a reserva ovariana.

De acordo com a especialista, “não se trata apenas de maternidade: é sobre dar à mulher autonomia sobre o próprio corpo e escolhas reprodutivas, principalmente em casos como esse, onde muitas vezes temos que pensar sobre a fertilidade em idades ainda mais jovens”.

Alterações genéticas – O Journal of Gynecologic Oncology também aponta o congelamento de óvulos como uma alternativa para mulheres portadoras de alterações genéticas associadas à insuficiência ovariana precoce, como a pré-mutação do gene FMR1 (síndrome do X Frágil), síndrome de Turner e galactosemia. Nesses casos, a recomendação é considerar a criopreservação ainda jovem, antes que a função ovariana seja irreversivelmente comprometida.

Uma decisão que vai além do futuro reprodutivo – Mais do que planejar a maternidade, o congelamento de óvulos representa a chance de manter viva a possibilidade de escolha para pacientes que enfrentam condições médicas graves. “Nosso papel é garantir que a mulher não perca a oportunidade de pensar em maternidade, quando, de fato, se sentir pronta. Em muitos casos, esse é um gesto de esperança para o futuro”.

Além do aspecto emocional, a preservação dos óvulos também tem impacto direto na qualidade de vida das pacientes. A possibilidade de engravidar no futuro traz segurança e reduz a ansiedade diante de tratamentos complexos, reforçando a importância de discutir a preservação da fertilidade como parte do cuidado médico integral.

Conforme ressalta a Dra. Michelle, “o impacto psicológico da preservação da fertilidade é enorme, trazendo alívio e esperança em momentos de grande estresse médico”.

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