Em sociedades globalizadas e repletas de trocas de informações como as atuais, manter uma relação profunda com outra pessoa pode ser uma ferramenta importante para a saúde mental e qualidade de vida. Somado a isso, a amizade pode ser uma das fórmulas mais eficazes para melhorar também a saúde do corpo.
Como ressalta a psicóloga Ingrid Susan, do Centro Universitário Módulo/São Paulo, o ser humano é, essencialmente, relacional e essas relações se tornam cada vez mais benéficas ao longo da vida. Segundo a especialista, ter amizades nutritivas tem um efeito protetor sobre o cérebro porque ajuda a exercitar a mente, melhorando a capacidade cognitiva e diminuindo o declínio cognitivo.
A literatura científica vigente indica que manter amizades faz com que o corpo fique mais imune a problemas de saúde. Por outro lado, quem não tem uma vida social ativa e, desse modo, é mais solitário, tende a se sentir mais indefeso. Com isso, aparecem dificuldades para dormir e mais facilidade de desenvolver ansiedade. “Quanto mais pessoas você se relaciona, mais experiências de vida tem, o que enriquece o intelecto e o emocional. A amizade age como um fator de proteção social que traz benefícios à autoestima, bem-estar e maior estabilidade emocional”, afirma.
Segundo estudos que relacionam a interação social às capacidades do principal órgão do sistema nervoso, “ter amigos protege o cérebro e ajuda a exercitar a mente”, ressalta a psicóloga. Através do contato com o outro que se forma a capacidade de estabelecer vínculos com pessoas nutritivas emocionalmente, que são fatores de proteção ao adoecimento emocional. Conversar com frequência com amigos e estar com as pessoas de quem gostamos é, portanto, uma das formas de prevenir a decadência da saúde cognitiva”, observa.
Além das questões emocionais e mentais, a amizade já é estudada como um fator importante na melhora da saúde física. Conforme explica Susan, isso acontece porque a amizade ajuda o cérebro a produzir ocitocina, o “hormônio do amor”, além de aumentar a produção de neurotransmissores positivos no organismo, o que ajuda o órgão a manter-se ativo e exercitado. Dessa forma, ter amigos traz inúmeros benefícios para nosso corpo diminuindo o risco de doenças cardiovascular, consequentemente aumentando a expectativa de vida.
A amizade protege contra problemas relacionados à imunidade, de modo que o estresse também afeta o sistema imunológico. Estudos experimentais têm demonstrado que a presença de amigos pode reduzir respostas cardiovasculares, estresse e imunidade. Outro benefício da amizade é conseguir manter seu coração mais saudável. As emoções positivas influenciam nos batimentos cardíacos. Portanto, pessoas felizes apresentam um risco 22% menor de ter infarto ou de desenvolver outras doenças cardíacas.
De acordo com Ingrid Susan, o estresse é um dos maiores fatores de risco para o surgimento dessas doenças. Daí “a amizade fazer muito bem para o coração, pois diminui o estresse psicossocial”. Susan ainda comenta que os amigos desempenham, para muitas pessoas, o papel fundamental de fornecer uma relação recíproca e menos estressante, uma vez que as famílias nem sempre estabelecem vínculos semelhantes. “Amigos oferecem companhia, oportunidades para o riso, para o partilhar de atividades e experiências e gostos em comuns”, explica a psicóloga.
Amizade e envelhecimento saudável – O ser humano vive em rede e, certamente, sofre influência e afeta quem está ao seu redor. Os hábitos cultivados tendem a ser similares ao ambiente em que determinados grupos vivem. O raciocínio se intensifica quando é analisado um recorte mais específico, como adultos de idade avançada. Ingrid conta que idosos com redes maiores de boas amizades aumentam em até 22% suas chances de ter uma vida mais longa que idosos com poucos ou sem amigos. “Envelhecer implica em diversos desafios, e um deles está relacionado a solidão. Estudos demonstram que idosos solitários tendem a adoecer mais facilmente que idosos com suporte emocional”, afirma. Assim, durante a velhice, é essencial ter vínculos afetivos que não necessariamente os de consanguinidade.
“Hoje em dia o conceito de formação das famílias considera vínculos que não tem consanguinidade, como os amigos”, pondera a psicóloga, observando que idosos que vivem em ILPIs (Instituições de Longa Permanência para Idosos), anteriormente conhecidas como asilos, têm uma longevidade reduzida, que pode ser explicada parcialmente pelo isolamento. Nesse sentido, segundo estudos, um outro benefício da amizade é a longevidade. “Quem mantém os amigos por perto melhora em 50% a chance de viver mais. Segundo o estudo, quem passa a vida sem interações sociais tem prejuízos relacionados à longevidade”, pontua.