Por Michélle de Toledo Guirlanda/ Fhemig
O pediatra André Marinho: “O confinamento não foi um fator protetor como poderíamos esperar” – crédito: Divulgação/Fhemig
Em tempo de pandemia, as casas se tornaram abrigos seguros para as famílias se distanciarem do risco de contaminação. Escolas e comércios fecharam as portas, temporariamente, e a circulação de pessoas diminuiu consideravelmente, principalmente desde o anúncio dos primeiros casos no país. As consultas e os atendimentos de urgência também caíram drasticamente nesse período. Até mesmo os atendimentos pediátricos diminuíram em uma época de maior incidência de infecções respiratórias, consequência do afastamento das crianças e jovens das escolas e de outros locais de convívio social. Porém, os números de atendimentos na urgência pediátrica do Hospital João XXIII destoam desse cenário.
“O confinamento, em nossa opinião, não foi um fator protetor como poderíamos esperar. Alguns acidentes, como a ingestão de corpos estranhos, foram mais frequentes em 2020”, analisa o coordenador da Pediatria do Hospital João XXIII/Belo Horizonte, André Marinho. O termo “corpo estranho” se refere a qualquer objeto ou substância ingeridos ou colocados pela criança nas narinas ou ouvidos e podem apresentar um risco maior quando são aspirados para o pulmão. O atendimento a esses casos representou 25% do total na Pediatria, sendo, portanto, o mais comum nesse ano.
De acordo com André Marinho, com o longo período dentro de casa, as crianças tendem a ficar mais agitadas e situações corriqueiras podem se transformar em acidentes. A criança começa a explorar novos lugares no ambiente e a mexer em tudo o que alcança. Entre os casos mais atendidos no HJXXIII estão quedas (de camas, sofás, lajes, escadas, bicicleta etc.), acidentes com animais peçonhentos, intoxicações diversas – produtos de limpeza, por exemplo -, e queimaduras, principalmente agora que o novo “vilão”, o álcool líquido, voltou a circular como agente de prevenção à pandemia. No entanto, tais acidentes podem ser evitados, mesmo que seja humanamente impossível a vigilância dos pais por 24 horas. Para isso, ele orienta os pais a investirem em práticas e ambientes seguros, rotinas de cuidado e a direcionarem o acesso dentro de casa para diminuir o risco. Conhecer o perigo e orientar as crianças é tão fundamental quanto o acompanhamento das imunizações, da alimentação e do crescimento”, afirma o pediatra.
A Pediatria no Hospital João XXIII – A equipe de Pediatria do Trauma no Hospital João XXIII é referência na assistência em nível estadual e reconhecida em todo o país pelo trabalho que seu corpo clínico desenvolve há gerações no atendimento de crianças vítimas de queimaduras, atropelamentos, quedas e cortes, entre outros casos.
André Marinho lembra que “os pediatras do HJXXIII se dedicam diuturnamente a acolher e a cuidar dos pequenos acidentados, conduzindo-os à recuperação, muitas vezes longa e dolorosa, ou, após muito trabalho, portar notícias que nenhum pai ou mãe espera ouvir. É uma vocação”, destaca.
Para o coordenador, o médico pediatra é um agente axial na promoção da saúde infanto-juvenil, inclusive, enquanto provedor das orientações de segurança. “Cada marco do desenvolvimento traz consigo riscos em potencial que devem ser ensinados a cada consulta. Somente nessa ação repetida e pactuada podemos modificar culturas. Criar culturas de segurança infantil é uma necessidade que precisamos multiplicar”, conclui, ao observar que “brincar é um direito da criança, garantido pela Constituição. É por meio da brincadeira que ela aprende, experimenta o mundo, possibilidades, relações sociais, elabora sua autonomia de ação e organiza suas emoções. E para garantir que brincadeira seja sempre sinônimo de alegria, é preciso que a segurança esteja em primeiro lugar”.
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