Quanto tempo dura o luto?

Por Arthur Fernandes, médico de família e comunidade, Diretor do Departamento de Comunicação da Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade (SBMFC)

Foto: Pixabay

O luto é um processo de reação e adaptação a uma perda. É a forma pela qual reconhecemos e enfrentamos a nova realidade que se impõe com a ausência de alguém. É o nosso modo de reconhecer que a dor é imensa e que ela nos convida a refletir e repensar a nossa vida.

Nesse momento, algumas perguntas são comuns: “Como me adaptar?”, “Como reorganizar minha rotina, meu trabalho, minha casa?”, “Como dar apoio aos meus outros entes queridos que precisam de mim?”. Essas são questões absolutamente normais diante de um momento tão sensível.

Não existe fórmula mágica: a forma como cada pessoa lida com a perda é única e depende de diversos fatores, como a personalidade do enlutado, experiências de vida e perdas anteriores, a maneira como a perda ocorreu, o momento e a forma como a notícia foi recebida, o vínculo com a pessoa falecida e a existência (ou não) de uma rede de apoio.

É esperado que, de forma gradual e saudável, a pessoa enlutada consiga se reconectar com sua própria vida, reencontrando sentidos e propósitos após a perda. É como construir um novo caminho em que a pessoa falecida não está mais presente fisicamente, mas permanece nas lembranças e na saudade.

O apoio à pessoa enlutada é fundamental para que esse processo se torne menos doloroso. Evite julgamentos ou sugestões do tipo “você precisa superar” ou “já passou da hora de seguir em frente”. Conversas com a equipe de saúde que cuidou da pessoa falecida também podem ajudar o enlutado a compreender que ele não tinha controle sobre a morte e não pode ser responsabilizado por ela, tampouco poderia tê-la evitado.

Quanto à duração do luto, não há um tempo definido para que a dor cesse. O luto dura o tempo que precisa durar. Algumas pessoas vivenciam lutos mais intensos, que as “tiram do eixo” e dificultam a retomada da própria vida. Reações mais intensas, frequentes e duradouras devem chamar a atenção das pessoas próximas, para que se busque apoio profissional junto a uma equipe de saúde.

O luto é como um filme, não uma fotografia. É um processo contínuo, não um único evento. O enlutado não precisa fazer nada para o qual ainda não se sinta preparado. É essencial respeitar os próprios limites.

Práticas como escrever cartas, organizar fotos, criar momentos de partilha sobre quem se foi e manter rituais em datas simbólicas podem ajudar a reconhecer o luto e, ao mesmo tempo, valorizar a vida e a memória de quem partiu.

No final das contas, nosso trabalho enquanto especialistas em cuidado integral, como médicas e médicos de família e comunidade, é ajudar as pessoas a construir histórias das quais elas possam se recuperar.

É verdade que a vida não será mais como antes. E também é verdade que uma nova vida pode ser construída.

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