Psicóloga Ana Beatriz Sahium: “o uso de remédios é maior, pois no mundo imediatista que vivemos, as pessoas querem resultados rápidos”
Apenas 5,1% dos brasileiros fazem tratamento com psicoterapia, uma indicação geralmente adotada como terapia primária para lidar com questões de saúde mental. Cerca de 19% chegaram a se consultar em algum momento com um psicólogo ou um psiquiatra no decorrer do último ano, porém a maioria não passou de cinco encontros. O estudo está no Índice Instituto Cactus-Atlas de Saúde Mental (iCASM), levantamento feito pelo Instituto Cactus, entidade filantrópica ligada à promoção do bem-estar psíquico, junto à AtlasIntel, empresa especializada em pesquisas e dados.
O estudo, realizado em 2023, mostra ainda que, dos poucos brasileiros que acessam a terapia, 43% haviam começado há menos de um ano. A pesquisa destaca a diferença considerável entre a adesão à psicoterapia e o número de pessoas que fazem uso de medicamentos contínuos para problemas emocionais, comportamentais ou relacionados ao uso de substância. Segundo o levantamento, 16,6% da população (1 a cada 6 brasileiros) fazem uso de remédios, sendo 77,7% há mais de um ano.
Para a psicóloga Ana Beatriz Sahium, de Goiânia/GO, o uso de remédios é maior, pois no mundo imediatista que vivemos, as pessoas querem resultados rápidos. “Só o medicamento vai resolver parcialmente, vai contribuir para a pessoa sentir menos o sintoma da tristeza, o desânimo. Só que se eu não trato o que que está me causando aquilo, eu não tenho uma melhora 100%. A pessoa sente que está muito bem. Contudo, na verdade, aquilo pode voltar a qualquer momento porque ela não está tratando a causa. Se eu for para a terapia e tratar e descobrir qual que é o início destes sintomas da depressão, da tristeza, eu vou ter uma melhora muito grande dos meus sintomas. Se estou aprendendo técnicas de como resolver aquele problema e, ainda, tenho a medicação, aí temos o que hoje nós chamamos de tratamento padrão ouro, que é medicação e terapia”.
Por meio da terapia, explica a psicóloga, o paciente encontra o autoconhecimento, a base para o fortalecimento das emoções. “Ele compreende o que tem de bom, o que precisa melhorar, e se fortalece como indivíduo. Consegue resolver conflitos, consegue se impor, consegue ter essa força própria. Trabalha sua autoestima e passa a acreditar em sua capacidade. Com autoconhecimento, cada um consegue resolver problemas com mais facilidade porque também consegue compreender o que é seu e o que é do outro”.
Dificuldade de se expor – De acordo com Ana Beatriz, normalmente o processo de começar a fazer terapia está ligado ao incômodo do paciente com um problema específico que afeta o seu bem-estar profissionalmente, emocionalmente e suas relações sociais. Porém, ela nota que muitas pessoas possuem dificuldade de expor suas questões, algo cultural em sua visão. “Eu vejo que isso é muito enraizado na nossa sociedade. O ponto de ter uma fraqueza, de precisar de ajuda, também existe muito o preconceito do psicólogo, do estar em tratamento. A nossa sociedade condena, de certa forma, uma pessoa que está, às vezes, precisando de tratamento. Então, as pessoas têm dificuldade de assumir que está com alguma dificuldade emocional”.
Ela também explica como se dá o processo de terapia. “Ali é um ambiente aberto, sem julgamentos, para que o paciente fale do assunto que ele quiser, do jeito que ele quiser, da forma que ele quiser e quando ele quiser. É um ambiente pronto para receber isso e tratar essa dificuldade”, detalha.
A frequência no processo terapêutico vai depender muito de cada caso. “Em algumas situações, o indicado é que a gente comece com duas vezes na semana, mas o padrão é de uma vez na semana. Com a evolução do tratamento, nós espaçamos para 15 dias e depois caminhamos para o processo de alta”, completa.