A cardiologista Maria Cristina Izar, diretora de Promoção e Pesquisa da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo-SOCESP.
As estatinas – remédios indicados para pessoas com colesterol elevado, doença cardiovascular, diabéticos ou portadores de problemas renais, entre outras comorbidades, podem ser uma opção para tratamento complementar da Covid-19. “As estatinas possuem ações que protegem a parede vascular e modulam a inflamação, reduzindo o risco de trombose, podendo ser benéficas aos infectados pelo novo coronavírus”, diz a cardiologista Maria Cristina Izar, diretora de Promoção e Pesquisa da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo – SOCESP, lembrando que cada situação deverá ser avaliada individualmente.
Pacientes com Covid-19 apresentam uma inflamação das células que revestem os vasos sanguíneos. “A explicação para os benefícios das estatinas está nos efeitos imunomoduladores, anti-inflamatórios e na capacidade de melhorar a função vascular”, diz Maria Cristina. “Além disso, o uso combinado de estatinas e de medicamentos normalmente prescritos para controle da pressão arterial não promove aumento do risco de mortalidade em pacientes com Covid-19 e hipertensão, como já comprovado cientificamente.”
De acordo com a especialista, um estudo retrospectivo feito na China, com 13.981 indivíduos infectados pelo novo coronavírus, demonstrou que, na fase hospitalar, a terapêutica com estatinas esteve associada ao menor risco de morte por todas as causas.
Uma das preocupações de quem testa positivo para a Covid-19 é sobre a continuidade ou não de medicamentos de uso contínuo durante o período de convalescença. Mas no caso dos remédios para controle de colesterol, eles devem ser mantidos. “Mesmo em se tratando de estudos retrospectivos, o paciente que já faz uso de estatinas para proteção cardiovascular deve manter o tratamento porque, além de não trazer malefícios, esses pacientes ainda podem se beneficiar com a terapêutica.”
Sedentarismo e pandemia – O sedentarismo, um dos “efeitos colaterais” da pandemia, pode aumentar os níveis de triglicérides e reduzir o bom colesterol. A ingestão de alimentos ricos em gorduras saturadas tende a aumentar os níveis do colesterol ruim, o LDL. “Por isso, é altamente recomendável que nesse momento os exercícios possam ser mantidos, mesmo em casa, com modalidades que se adequem ao menor espaço, de preferência supervisionadas ou orientadas por profissional, utilizando ferramentas digitais disponíveis”, explica Maria Cristina.
Segundo a cardiologista, algumas recomendações alimentares simples podem fazer muita diferença para a saúde. Apesar da tendência de abusarmos de guloseimas por estarmos mais tempo em casa, devemos dar preferência ao consumo de produtos de origem vegetal, in natura ou minimamente processados. Também é indicado comer variado – grãos, raízes, tubérculos, farinhas, legumes, verduras, frutas, castanhas, leite, ovos, carnes, feijão, grão de bico, arroz, milho, batata, mandioca, tomate, abóbora, laranja, banana, frango, peixes etc. –, e utilizar óleos, gorduras, sal e açúcar em pequenas quantidades.
“Fazer refeições com regularidade e atenção, em ambientes apropriados e, sempre que possível, com companhia, tornam esses eventos agradáveis, o que contribui para a sensação de bem-estar”, lembra. Outra dica importante em tempos de pandemia é, quando solicitar entrega de refeições, escolher estabelecimentos que façam comida na hora/mesmo dia. “Essas dicas simples ajudam a enfrentar momentos de crise com saúde e alegria.”
Todas essas dicas e outras mais fazem parte de uma campanha de alerta que a Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo promove na semana de 8 de agosto, Dia Nacional de Controle do Colesterol Elevado, fator de risco cardiovascular que atinge 40% da população adulta e impacta também nos infectados pelo coronavírus. “Boa parte dessas pessoas não controla o colesterol e corre sério risco de sofrer um infarto ou um AVC. Cerca de 400 mil pessoas morrem, todos os anos no Brasil, por doenças cardiovasculares, principal causa de óbitos no país”, complementa.
O Estudo Epidemiológico de Informações da Comunidade – EPICO – da SOCESP constatou que apenas 16% das pessoas apresentavam valores de controle do colesterol dentro das metas determinadas pela Diretriz Brasileira de Dislipidemia e Prevenção da Aterosclerose. “O colesterol foi o fator de risco cardiovascular menos controlado pela população”, destaca a cardiologista que completa: “0% tinha os três fatores de risco controlados – colesterol, hipertensão e diabetes”. O estudo coletou dados de mais de 9.000 pacientes, no Estado de São Paulo, de ambos os gêneros, em unidades básicas de saúde de 32 cidades paulistas.