Venda do dispositivo foi suspensa pelo governo, devido ao alto risco para o desenvolvimento de doenças respiratórias
Imagem de Ethan Parsa por Pixabay
Recentemente, o Ministério da Justiça determinou a suspenção da venda de cigarros eletrônicos para 32 empresas que comercializam o dispositivo no Brasil. O despacho publicado no Diário Oficial da União (DOU), do último dia 01, deu 48h para a interrupção da comercialização, sob pena diária de R$5 mil reais para o não cumprimento da ação. A decisão foi movida por dois fatores: os riscos do cigarro eletrônico, também conhecido como vape, para a saúde e sua ampla popularização entre o público jovem. Diante desse cenário, a Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) reforça o alerta para a relação entre o uso do cigarro eletrônico e o desenvolvimento de diversas doenças respiratórias.
De acordo com dados do relatório Covitel (Inquérito Telefônico de Fatores de Risco para Doenças Crônicas não Transmissíveis em Tempos de Pandemia), divulgado no primeiro semestre de 2022, pela Umane, associação civil sem fins lucrativos dedicada a apoiar iniciativas de prevenção de doenças e promoção à saúde, um a cada cinco jovens entre 18 e 24 anos faz uso de dispositivos eletrônicos de fumo no país, o que equivale a 19,7% da população. E ao contrário do que muitos acreditam, esse tipo de cigarro é bastante prejudicial à saúde.
Consequências – Dentre as principais substâncias liberadas pelo vape estão as nano partículas de metais pesados, solventes e outros químicos que variam de acordo com o que é colocado para fumo no dispositivo. Além de doenças inflamatórias e até fibrose pulmonar, o uso desse tipo de cigarro está fortemente ligado ao surgimento de doenças cardiovasculares e distúrbios neurológicos.
“As pessoas costumam pensar que o cigarro eletrônico oferece menos riscos porque o uso ainda não está associado diretamente ao câncer de pulmão, apesar do potencial risco. Mas, existem várias substâncias nesse tipo de dispositivo que causam danos pulmonares”, explica a oncologista do Comitê de Tumores Torácicos da SBOC, Dra. Aknar Calabrich.
Segundo dados do Instituto Nacional de Câncer (INCA), em adição aos já citados problemas de saúde, o cigarro eletrônico ainda funciona como porta de entrada para o tabagismo tradicional (que tem ligação direta com o surgimento de câncer de pulmão), aumentando em mais de três vezes o risco de experimentação do cigarro comum. Hoje, o tabagismo é considerado uma das principais causas de mortes evitáveis do mundo.
Combate ao uso – De acordo com Resolução (RDC) nº 46/2009, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a comercialização, venda e divulgação de cigarros eletrônicos é proibida no Brasil. Mesmo assim, pessoas de todas as idades têm fácil acesso a esses dispositivos, que podem ser encontrados ilegalmente na internet ou no comércio informal.
Ainda em tramitação na Câmara dos Deputados, há o Projeto de Lei (PL) 5.087/2020, que pretende reforçar a RDC 46 e proibir, em todo o território nacional, os cigarros eletrônicos ou outros aparelhos semelhantes para fumo.
Além da RDC e do PL, outras medidas que também podem contribuir para o combate ao uso de cigarros eletrônicos são: a fiscalização regular da venda ilegal tanto na internet, quanto no comércio informal; e a conscientização/disseminação de informações relevantes sobre os riscos desses dispositivos, principalmente entre os jovens.
Para Dra. Aknar, as autoridades sanitárias brasileiras deveriam estimular mais o debate sobre o assunto em escolas, envolvendo pais e filhos. “Precisamos buscar meios para informar melhor a população, reforçando a ideia de que o cigarro eletrônico é realmente prejudicial, além de derrubar o mito de que o vape é bom. Não é”, alerta.