Como você se sentiria se dependesse de um transplante de fígado para continuar vivendo? Ou alguém de sua família, ou amigo necessitando que alguém morra para receber o órgão? Esse é o drama de cerca de milhares de pacientes hoje no Brasil. Eles aguardam a misericórdia de milhões de brasileiros que poderiam ser doadores, mas que, infelizmente, não se dispõem a salvar a vida de quem aguarda na fila de espera por essa benção.
Diante dessa grave realidade, o Portal Medicina e Saúde ouviu a gerente administrativa do MG Transplantes, Ediléia Gonçalves/Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais
A resistência na maioria das vezes está relacionada aos tabus que envolvem a doação, principalmente quanto ao entendimento do conceito de morte encefálica. Ademais, a falta de conhecimento quanto ao processo gera insegurança e dificulta a decisão da família pela doação. A qualidade do atendimento hospitalar anterior ao diagnóstico influencia no processo decisório familiar. Além disso, o acolhimento e abordagem familiar inadequados, já no processo de doação, podem aumentar a resistência e acarretar na não doação dos órgãos.
Como vencer essa resistência? Através de campanhas? Junto à mídia? Nas escolas? Outros locais…O que vem sendo feito nesse sentido?
Para vencer a resistência é preciso levar informação à população. As campanhas são de grande importância para conscientizar e incentivar a discussão sobre a doação, tornando o assunto mais disseminado.
Na mídia, as campanhas têm um amplo alcance, inclusive em redes sociais que, atualmente, exercem uma grande influência em todos os públicos.
Nas escolas seria interessante inserir o conteúdo e fomentar discussões sobre o tema, no intuito de quebrar os tabus e trazer esclarecimentos.
Atualmente, são realizadas campanhas permanentes, através de parcerias com instituições externas, como o projeto “Entrelaçando Vidas”, que tem como base as histórias entrelaçadas de doadores de órgãos, bem como de receptores e pessoas que se encontram em filas de espera. A exposição conta com dez histórias de vida e perguntas e respostas que, frequentemente, geram dúvidas nas pessoas, e possui o objetivo primordial de sensibilizar a população quanto à importância da doação de órgãos. Todo o trabalho foi pensado em prol da redução das grandes filas de espera atualmente existentes em Minas Gerais. Esta é uma exposição itinerante, passando por diversas instituições hospitalares e outros estabelecimentos públicos, para que o maior número de pessoas possível possa ser atingido.
No mês de setembro, em que se comemora o Dia Nacional da Doação de Órgãos (27 de setembro), são realizadas diversas ações de campanha (Setembro Verde) pelo MG Transplantes e instituições parceiras. No último ano, foi criado um novo selo de campanha e apresentadas imagens que incentivam a doação de órgãos em diversas mídias, como spot rádio, backbus, busdoor, bunner web, VT cinema, TV ônibus e TV Metrô.
Além de campanhas é extremamente importante a qualificação e preparo dos profissionais envolvidos no processo de doação. Em 2018 e 2019 foram realizados pelo MG Transplantes dois importantes cursos em Minas Gerais que possibilitaram o aperfeiçoamento de diversos profissionais em todo o Estado: o primeiro foi o curso de DME – Diagnóstico de Morte Encefálica, sendo treinados 960 médicos, e o segundo, de Comunicação em Situações Críticas, com a participação de 264 profissionais diversos da área de saúde.
Há alguma lei que disponha sobre a especificação em documento de identidade e/ou na carteira de habilitação que aquela pessoa seja doador de órgãos?
Atualmente não há lei que dispõe sobre a especificação em documento de identidade. A doação é autorizada por parentes de até segundo grau do possível doador.
Há alguma lei que dispõe sobre o assunto?
Em 1997 foi publicada a lei de nº 9.434, que versava sobre a remoção de órgãos, tecidos e partes do corpo humano para fins de transplante, a qual previa a doação presumida do brasileiro que não registrasse em carteira de identidade ou carteira nacional de habilitação a vontade de não doar. Em 2001 a lei foi alterada para incluir a necessidade da manifestação familiar no processo. Em 2017 foi publicado o Decreto 9175, regulamentando a lei, estabelecendo a consulta à família como determinante na decisão de doação.
Quem pode ser doador?
Qualquer pessoa em morte encefálica, vítima de dano cerebral irreversível, pode ser doador de múltiplos órgãos e tecidos. Em caso de coração parado pode-se doar tecidos (córnea).
Na doação Inter vivos, qualquer pessoa saudável, que concorde com a doação, pode doar um dos rins, parte do fígado ou do pulmão e medula óssea.
Crianças também podem? Em quais circunstâncias?
Sim. Crianças a partir de 7 dias completos, respeitando os critérios de definição da morte encefálica.
Quais os órgãos do corpo humano que podem ser doados?
Podem ser doados, o coração, pulmões, fígados, pâncreas, intestino, rins, globos oculares (córneas e escleras), vasos, pele, osso e tendões.
Em Minas Gerais, atualmente, são realizados transplantes de rim, pâncreas, rim/pâncreas, coração, fígado, córnea e esclera.
Após a morte do doador, quanto tempo o MG Transplante tem para retirar o órgão e leva-lo até o receptor?
Cada órgão tem um tempo de isquemia fria (tempo de durabilidade em meio de preservação adequada). O prazo para retirada e enxertia do coração é de 4 horas, do fígado é de 4 a 6 horas, dos rins até 12 horas e córneas, após preservação, até 14 dias.
Qual é a atual lista de espera do MG Transplante para cada órgão?
Atualmente temos um total de 4132 pacientes em fila de espera por um transplante. A saber:
- Coração: 18
- Córnea: 1270
- Fígado: 33
- Pâncreas: 0
- Medula: 38
- Rim: 2714
- Rim/Pâncreas:59
Quantas doações são feitas hoje pelo MG Transplante?
Em 2019, foram realizados um total de 2512 transplantes em Minas Gerais, dentre órgãos sólidos e tecidos.
As doações têm crescido?
O número de doadores cresceu significativamente no último ano. Em 2018 tivemos 207 doares de múltiplos órgãos em Minas Gerais, e, em 2019, o número já saltou para 294. O que representa um crescimento de 42,02% no quantitativo anual de doares de múltiplos.
Qual o sucesso de um transplante de órgão: discriminar percentual de sucesso para cada órgão?
Atualmente no estado não é feito o acompanhamento pós transplantes com o objetivo de levantamento de dados estatísticos. No último plano estadual, aprovado na CIB/SUS, em setembro de 2019, está prevista a implantação de políticas pós transplantes. Estas deverão avaliar os riscos e as condições de sobrevida do paciente após a realização da cirurgia, a fim de garantir que os receptores recebam a atenção necessária após a realização do transplante.
No caso do transplante de fígado, a doação pode acontecer inter vivos ou somente no caso de morte do doador?
Pode ser realizado inter vivos. Em Minas Gerais, atualmente não é realizado.
Alguma outra informação que julgar importante?
- Doe órgãos, doe vida! Fale sobre isso, avise sua família!
Portal Medicina & saúde: (31)3586-0937 | FAÇA CONTATO