Para Ricardo Chaves, psicólogo e especialista em saúde mental e trabalho, existem formas de prevenir esse tipo de quadro e melhorar a qualidade de vida desses profissionais
A sobrecarga de atividades no trabalho, em muitos casos, tem o potencial para ser o estopim para uma série de problemas e desconfortos. A Síndrome de Burnout, por exemplo, também conhecida como síndrome do esgotamento profissional, se assemelha a episódios duradouros de estresse relacionados não apenas à carga de trabalho, mas, também, à falta de conexão, identidade e propósito com a função exercida.
De acordo com uma pesquisa realizada pela Pebmed, um em cada três trabalhadores brasileiros sofre com o Burnout, afetando mais de 30 milhões de pessoas no Brasil. No mundo, esse número é ainda maior e fez com que a OMS reconhecesse a síndrome como uma doença do trabalho.
Para Ricardo Chaves, psicólogo e especialista no desenvolvimento de líderes e profissionais de alta performance, são diversos os sintomas apresentados pelo Burnout, que não se dissipam apenas com descansos ou férias. “Pode ser considerado um estresse crônico ocupacional que culmina com a sensação de esgotamento e exaustão emocional. Nesse sentido, é necessário aprofundamento nas questões da dinâmica psíquica da pessoa que sofre com esse quadro, a fim de trazer luz e manejo clínico à situação”, relata.
Além do esgotamento de energia, aumento da distância mental do trabalho e redução da produtividade, o Burnout afeta as competências já desenvolvidas pelos profissionais para lidar com as rotinas práticas da profissão. “O que acontece é o deslocamento da energia existencial, que se dissipa sem nenhuma sensação de avanço ou realização. É como acelerar o carro a fim de gastar os pneus, rodando em falso no asfalto até que os pneus estourem”, exemplifica o psicólogo.
De acordo com o especialista, é de conhecimento dos profissionais da saúde mental que alguns sintomas podem ser confundidos com síndromes depressivas, sendo necessário um diagnóstico diferencial para se alcançar assertividade na identificação das implicações na saúde mental. “Os sintomas apresentados no Burnout emitem alguns sinais comportamentais, como evitamento de reuniões, esquiva de novas tarefas e projetos, diminuição do contato visual com as pessoas, uso de adjetivos depreciativos, resistência a mudanças e transferência de responsabilidades. Além desses, a redução dos contatos sociais, desvalorização do lazer, negligência nos cuidados pessoais, automedicação e a resistência em buscar ajuda afetam ainda mais esse quadro, podendo culminar em outros agravamentos da doença”, revela.
Chaves acredita que existem diversas variáveis que contribuem para esse tipo de distúrbio, mas afirma que algumas pessoas contam com uma predisposição à Síndrome de Burnout. “São indivíduos de personalidade dinâmica, que exercem liderança e têm grandes responsabilidades, são idealistas, mas, muitas vezes, estão diante de metas irrealistas em seus trabalhos”, declara.
Alguns dos fatores de risco que aumentam as chances de Burnout são:
- Excesso de trabalho sem conexão pessoal;
- Conflitos éticos;
- Remuneração desproporcional;
- Metas inatingíveis;
- Constantes mudanças no ambiente de trabalho;
- Ambiente com competitividade em excesso.
A lei que considera a doença um motivo para afastamento no trabalho está prestes a completar um ano e, nesse período, o grande aprendizado é que a prevenção sempre custará menos que a correção ou, no caso, a intervenção após o adoecimento. “Assim, acredito que investir em capacitação de lideranças humanizadas e de alta performance é o caminho mais saudável para o enfrentamento não apenas do Burnout, mas, também, de outras doenças, como depressão e ansiedade”, pontua Ricardo Chaves.
O palestrante acredita que as empresas podem adotar filosofias e metodologias que têm a capacidade de diminuir esse tipo de ocorrência. “O job crafting, por exemplo, é uma estratégia recente, cujo objetivo é redesenhar o sentido do trabalho e das funções que as pessoas exercem. Assim, os líderes e profissionais conseguem ressignificar sua função, abrindo possibilidades para melhorar seu engajamento e os resultados da empresa. Pequenas práticas de descompressão emocional podem ser aliadas poderosas para aliviar os níveis de estresse vinculados ao trabalho e evitar prejuízos maiores na qualidade de vida”, finaliza.