A Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia – SBOT se somou ao Conselho Federal de Medicina – CFM e à Associação Médica Brasileira – AMB no repúdio ao discurso do Ministro da Saúde, Ricardo Barros
A Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia – SBOT se somou ao Conselho Federal de Medicina – CFM e à Associação Médica Brasileira – AMB no repúdio ao discurso do ministro da Saúde, Ricardo Barros que, em pronunciamento em Brasília sugeriu que ‘vamos parar de fingir que pagamos os médicos e os médicos parar de fingir que trabalham’.
A nota conjunta do CFM e da AMB culpa o ministro por “na incapacidade de responder aos anseios da população, transferir para as categorias da área da saúde, sobretudo para o médico, a culpa pela grave crise que afeta a rede pública e, no entanto, polêmicas infundadas não eximem o Estado de suas responsabilidades”.
Ao lembrar que pesquisa do Datafolha comprovou que a profissão médica é a que tem maior credibilidade e desperta a confiança da população, a SBOT se manifestou em nome de seus 14 mil associados, muitos dos quais escreveram à entidade repudiando a manifestação do ministro.
A SBOT insiste que o sistema público de saúde está fracassando, à medida em que se alongam as filas de pacientes não atendidos, não por culpa dos médicos, mas do Governo, que prometeu muito, mesmo sabendo que não teria como cumprir as promessas. Essa carência da atuação dos órgãos públicos é que leva a SBOT a investir em campanhas de prevenção, de orientação dos pacientes e de melhoria da capacitação dos médicos através da divulgação do conhecimento científico, campanhas custeadas pelos próprios ortopedistas via a entidade que os representam, para que os 200 milhões de brasileiros que não contam com o atendimento a que tem direito não venham a sofrer mais ainda pela incúria das autoridades.
Na colocação dos ortopedistas, o fato do médico ter até empregos, como acusa o ministro, é decorrência dos baixos salários, tanto que frequentemente, depois de estudar anos para se formar e especializar, o profissional de Medicina recebe menos da metade do que o Governo paga aos cubanos do discutível Programa Mais Médicos.
“Será que fingimos que trabalhamos quando somos acordados de madrugada e entramos em uma cirurgia de um politraumatizado com fratura exposta grau 3 de tíbia, fratura pélvica com disjunção de sínfise e hemorragia retroperitoneal”, pergunta um médico, “ou quando atendemos uma fila de 70 pacientes com porta aberta no pronto socorro do SUS, muitas vezes faltando até gesso para reduzir fraturas”, questiona outro, ou quando hospitais com profissionais capacitados a fazer várias artroplastias totais de quadril diariamente operam apenas duas ou três por semana por limitação do SUS, o que resulta em fila de espera de até três anos, sacrificando a população?
A SBOT lembra que o ministro é recorrente em falas infelizes, tendo dito que “a maioria dos pacientes que procuram as unidades de atenção da Rede Pública só imagina estar doente, mas não está”, e acusou o paciente de ter “uma cultura que o faz se considerar bem atendido só quando são pedidos exames ou recebida prescrição de medicamento”.
Para a SBOT, o ortopedista brasileiro é extremamente dedicado à profissão e ao paciente que atende, tanto que só obtém o título de especialista após seis anos de faculdade, mais três de residência e especialização e depois de um completo exame de capacitação. Mesmo depois o profissional participa do Programa de Educação Continuada, para se manter atualizado, acompanhando a evolução do conhecimento de sua área.
Por tudo isso é injusto que o ortopedista brasileiro, cujas pesquisas, conhecimento e ensinamento são levados aos mais importantes congressos internacionais e cujo exaustivo trabalho frequentemente sem as condições e a infraestrutura necessária na sala cirúrgica recupera a cada ano dezenas de milhares de pacientes, seja injustamente acusado de ‘fingir que trabalha’ justamente pelo ministro que tem como uma de suas funções defender a Medicina e o profissional que nela atua.