Sociedade Paulista de Radiologia apoia o rastreamento de câncer de pulmão
Imagem: Divulgação-SBR
Embora ainda não haja uma política de rastreamento populacional no Brasil para câncer de pulmão, as evidências científicas apontam para perfis que poderiam se beneficiar desta investigação, com foco no diagnóstico precoce e redução de mortalidade. No Brasil, apenas 16% dos tumores de pulmão são identificados precocemente, quando as chances de sucesso do tratamento são muito maiores.
O aumento constante dos casos de câncer de pulmão no Brasil e em todo o mundo intensifica a preocupação com a prevenção e a detecção precoce da enfermidade. Segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA), apenas 16% dos tumores de pulmão são descobertos em estágios iniciais, quando a taxa de sobrevida em cinco anos é de 56%. Embora ainda não haja uma política de rastreamento populacional no país para este tumor, as evidências científicas internacionais apontam para perfis que poderiam se beneficiar desta investigação, conforme afirma o médico radiologista Márcio Sawamura, coordenador científico de radiologia torácica da Sociedade Paulista de Radiologia e Diagnóstico por Imagem (SPR). Segundo ele, “é necessário aumentar a detecção precoce especialmente entre aqueles com risco maior de desenvolver câncer de pulmão, a fim de reduzir as mortes relacionadas à doença”.
Rastreamento e diagnóstico precoce – O objetivo do rastreamento do câncer de pulmão é identificar a doença em indivíduos assintomáticos, mas expostos a fatores de risco que aumentam suas chances de desenvolvê-la. Muitos países já estabeleceram orientações para a implementação de programas de rastreamento, como Canadá, Croácia, Japão, Coreia do Sul, Alemanha, Austrália, França, Suíça Inglaterra e Estados Unidos. Embora o Brasil ainda não possua uma política de saúde pública voltada especificamente para o rastreamento do câncer de pulmão, já existem diretrizes bem estabelecidas por sociedades médicas internacionais, com o objetivo de prevenção e detecção precoce em indivíduos considerados de maior risco.
Para identificar quem está no grupo de risco, é necessário considerar algumas características estabelecidas com base em evidências científicas. Quem se encaixa nas categorias mencionadas abaixo tem risco substancialmente maior de manifestar o câncer de pulmão. A detecção precoce é amplamente reconhecida por melhorar as chances de sucesso nos tratamentos e contribuir para uma melhor qualidade de vida.
- Acima de 55 anos – A idade é um fator de risco significativo para o câncer de pulmão, com a incidência aumentando consideravelmente após os 55 anos.
- Ser fumante ativo – Indivíduos que fumam ou fumaram e que possuem uma carga tabágica superior a 20 maços/ano, estão categorizados como pessoas de alto risco para o câncer de pulmão. O cálculo da carga tabágica considera a quantidade de maços que a pessoa consome por dia multiplicada pelo número de anos. Por exemplo, um jovem adulto de 27 anos que tenha fumado um maço por dia durante dez anos terá uma carga tabágica de 10 maços/ano. Caso tenha fumado dois maços por dia ao longo de 15 anos, a carga será de 30 maços/ano.
- Ter parado de fumar há menos de 15 anos – O risco permanece elevado por um tempo mesmo após a cessação do tabagismo.
A expectativa das sociedades médicas é de que o país adote um programa de rastreamento do câncer de pulmão nos próximos anos na rede pública. “Isso vai além do diagnóstico e envolve também a organização de toda uma estrutura que inclui ações de cessação do tabagismo, seguimento e tratamento dos casos identificados”, observa Sawamura. Para ele, seria um grande ganho para todos, pois aumentaria o diagnóstico de pacientes com tumores ainda em fase inicial e reduziria os custos do tratamento.
Exames essenciais – A tomografia computadorizada do tórax com baixa dose de radiação é o exame preferencial para o rastreamento e detecção precoce do câncer de pulmão. “Estudos evidenciaram que as radiografias de tórax identificam apenas tumores em fases mais avançadas. Como uma fotografia, na radiografia algumas estruturas se sobrepõem à imagem do pulmão, dificultando o diagnóstico”, destaca Sawamura, ao explicar que já a tomografia é capaz de captar múltiplas imagens dos pulmões, facilitando a identificação de nódulos. “No entanto, os exames de raios-X ainda são um recurso muito utilizado, especialmente em regiões onde o acesso à tomografia é difícil”, pontua o médico.
A dose de radiação utilizada na tomografia computadorizada de baixa dose para rastreamento do câncer de pulmão é ainda menor do que aquela empregada em exames de rotina. “Há uma década, essa dose era o dobro ou até o triplo do valor atual”, ressalta Sawamura. A redução na dose de radiação é viável devido à baixa densidade do pulmão e a avanços tecnológicos que incluem a aplicação de softwares de inteligência artificial (IA) na otimização e reconstrução das imagens. “Os recursos de IA são capazes, por exemplo, de criar representações tridimensionais de achados, como nódulos, o que contribui para o diagnóstico preciso e o planejamento cirúrgico ao evidenciar sua posição em relação a outras estruturas pulmonares”, observa o radiologista.
Avaliação – Algumas características dos nódulos pulmonares, como tamanho ou formato, além da presença de fatores de risco, podem levar a recomendações de seguimento, realização de exames complementares ou até mesmo de biópsia do nódulo. No caso de ser necessário a realização de biópsia, ela pode ser feita por broncoscopia ou por via percutânea, guiada por tomografia, a depender das características do nódulo e das condições clínicas do paciente.
O primeiro é um equipamento composto por um tubo com microcâmera iluminada a ser inserido pelo nariz ou boca do paciente. Em geral, é indicado para nódulos centrais, próximos das vias aéreas ou para lesões dentro dos brônquios.
Já na biópsia percutânea guiada por tomografia, uma agulha fina é inserida na pele até a área suspeita, com auxílio de imagens de tomografia em tempo real. Isso permite coletar uma pequena amostra de tecido para análise, com alta precisão na localização.
A investigação pode ser seguida de mais exames para estabelecer o estadiamento da doença. Esta etapa pode envolver a realização de um exame PET/CT (Tomografia por Emissão de Pósitrons combinada com Tomografia Computadorizada) para avaliar se há outras lesões suspeitas (metástases). Essa técnica envolve a realização de uma tomografia completa do corpo após a injeção endovenosa de um marcador na corrente sanguínea do paciente. O marcador emite quantidades mínimas de radiação, permitindo a detecção de atividade tumoral localizada.
Outro exame que pode complementar a avaliação do estadiamento é a ressonância magnética craniana, com a finalidade de descartar metástases cerebrais relacionadas com o câncer de pulmão. “Precisamos encorajar as pessoas com risco elevado a fazer exames. Desse modo, estamos aumentando as chances de sucesso do tratamento e de anos com qualidade de vida”, diz Sawamura.