Os estados de São Paulo, Santa Catarina e Rio de Janeiro apresentam até o dobro do número de casos quando comparados com os estados da região Norte. Maus hábitos alimentares, que privilegiam a dieta industrializada, são um importante fator de risco. No mundo, projeta a OMS, a incidência anual pode saltar de 1,9 milhão para 3,1 milhões de novos casos em 2040, um aumento de 63%
O câncer colorretal (intestino grosso e reto) é o segundo tumor maligno, excluindo o câncer de pele não melanoma, mais comum em homens e mulheres, atrás apenas, respectivamente, de câncer de próstata e mama. São 41 mil novos casos previstos para 2021, segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA). Embora multifatorial, há uma forte ligação entre hábitos alimentares e a incidência desta doença.
No Brasil, a doença é mais prevalente nos estados de São Paulo, Santa Catarina e Rio de Janeiro. Entre os homens, São Paulo registra 33,1 casos para cada 100 mil, seguido por Santa Catarina (32,4) e Rio de Janeiro (25,3). Entre as mulheres, Santa Catarina lidera com 25,1 casos para cada 100 mil, seguido por São Paulo (20,9%) e Rio de Janeiro (18,7). Por região, a maior prevalência se dá na região Sudeste, no qual o câncer colorretal representa 11,3% de todos os cânceres em homens e 10% de todos os casos em mulheres. Comparativamente, na região Norte, a doença representa 5,3% dos casos em câncer em homens e 6,3% dos cânceres diagnosticados nas mulheres.
“O câncer colorretal é multifatorial, mas as evidências científicas apontam que a dieta baseada em produtos industrializados aumenta exponencialmente os riscos de desenvolvimento da doença”, destaca o cirurgião oncológico e presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO), Alexandre Ferreira Oliveira.
Em âmbito mundial, o câncer colorretal representa 9,1% de todos os cânceres em homens e 9,2% de todos os casos de câncer que acometem as mulheres. Os dados são do levantamento Globocan 2020 do IARC, braço de pesquisa sobre o câncer da Organização Mundial da Saúde (OMS). Ainda segundo o IARC/OMS, se medidas de prevenção de câncer mais eficazes não forem adotadas nas próximas duas décadas, a doença, que atualmente registra uma incidência anual de 1,9 milhão de novos casos, saltará para 3,1 milhões de novos casos em 2040, um aumento de 63% no período.
Doença evitável e importância do acesso à colonoscopia – O câncer colorretal é uma doença que pode ser evitada com a realização de colonoscopia, exame que é recomendado a partir dos 50 anos ou a partir dos 40 anos caso haja histórico de câncer na família. De acordo com o levantamento SEER, do National Cancer Institute, dos Estados Unidos, quando a doença está restrita ao intestino grosso, as chances de cura superam os 90%. Por sua vez, quando há metástase, o percentual cai para 14%.
Por ser uma avaliação que exige sedação em ambiente hospitalar, foi um procedimento impactado pela pandemia de COVID-19, com alguns serviços com volume reduzido ou até fechados. No A.C.Camargo Cancer Center, em São Paulo, referência em Oncologia na América Latina, houve redução de 46,3% dos novos casos diagnosticados de câncer colorretal entre março e julho de 2020 em comparação com o mesmo período de 2019. O número de pacientes diagnosticados caiu de 108 no período referente a 2019 para 58 em 2020. O dado foi publicado na revista científica Journal of Surgery, da Oxford Academic. O autor principal do estudo é Samuel Aguiar Junior, cirurgião oncológico e membro do Comitê de Cirurgia Minimamente Invasiva da SBCO.
Como prevenir – Recomenda-se a adoção de uma dieta que contemple o consumo de frutas e hortaliças, assim como evitar o consumo de alimentos processados e de bebidas alcoólicas, refrigerantes e outras bebidas açucaradas. Moderação também é a palavra-chave em relação à carne vermelha e alimentos calóricos e/ou gordurosos. Os demais fatores de risco são sedentarismo, obesidade e tabagismo.
O cirurgião oncológico e vice-presidente da SBCO, Heber Salvador, acrescenta que é importante estar alerta também às síndromes relacionadas com maior predisposição para desenvolvimento da doença. No câncer colorretal, a hereditariedade representa entre 5% e 10% dos casos, sendo a síndrome de Lynch a mais prevalente. Há também a polipose adenomatosa familiar, que é quando os pacientes apresentam um maior número de pólipos, devendo ser submetidos mais frequentemente à colonoscopia.