Testamento da cantora Madonna reacende o tema Diretiva Antecipada de Vontade
Academia Brasileira de Cuidados Paliativos explica o que é e a importância do tema.
Foto: Divulgação
A cantora Madonna, que recentemente sofreu uma grave infecção bacteriana e teve que ser entubada, ficando na UTI, atualizou o seu testamento, deixando a herança bilionária dividida igualmente entre os seis filhos, para evitar disputas, e definiu, também, o uso de sua imagem após sua morte. O assunto abre o debate para a Diretiva Antecipada de Vontade (DAV), manifestação que faz relação aos cuidados e tratamentos para momentos em que a pessoa está incapacitada de se manifestar. Este é um tema recorrente e que faz parte dos Cuidados Paliativos – causa central da multiprofissional Academia Brasileira de Cuidados Paliativos (ANCP).
Como explica a psicóloga e diretora de Comunicação da ANCP, Daniela Aceti, a DAV é uma manifestação que qualquer pessoa pode fazer de forma antecipada em relação aos cuidados e tratamentos para algum momento em que ela esteja incapacitada de se manifestar ou de tomar decisões. “Isso não precisa ser feito, exclusivamente, em um momento que a pessoa recebe algum diagnóstico de uma doença grave. Ele pode ser feito a qualquer momento, mas é muito comum que pessoas que recebem este tipo de notícia parem para pensar sobre isso”, pontua Daniela.
Para a também diretora de comunicação da ANCP, a médica Érika Aguiar Lara Pereira, as DAV são importantes pois são uma forma de documentar expressamente os desejos de uma pessoa sobre os cuidados com sua saúde em caso de uma doença grave, irreversível e incurável. “Sabemos que os registros de DAV aumentaram nos últimos anos, sobretudo durante a pandemia de COVID-19, mas, ainda, são tímidos e refletem a dificuldade da sociedade em lidar com a finitude”, diz Érika, ao explicar a importância das reflexões no caso da cantora pop.
“No caso recente da cantora Madonna, que ficou internada com um quadro grave de saúde e após essa internação revelou desejos que devem ser respeitados após sua morte, tangencia o assunto das diretivas de vontade, embora pareçam ser desejos “post mortem” do que DAV propriamente ditas. De toda forma, vale a reflexão sobre o assunto quando pessoas mundialmente famosas falam abertamente sobre a própria morte, despertam o potencial de mobilização da sociedade e provocam reflexões importantes”, observa a médica.
DAV em Cuidados Paliativos – Em 2021, o Colégio Notarial do Brasil – Seção SP, divulgou um aumento expressivo de DAV, saltando de 35 em 2008 para 731 em 2015, o maior índice até então registrado.
A DAV tem total relação com os cuidados paliativos. Érika explica que, uma vez diante de uma doença grave, a ameaça concreta da finitude traz à tona a importância de se pensar na própria morte e quais são valores e preferências que a pessoa deseja que sejam respeitados. “Na prática, as vontades expressas da pessoa são fundamentais nas decisões sobre como ela deverá ser tratada, auxiliando na tomada de decisões da equipe de saúde e da família, alinhando com o que seria coerente ou não para os cuidados com aquela pessoa”, ressalta.
Essa opinião é compartilhada pela médica e membro da diretoria da ANCP, Úrsula Guirro. Segundo ela, a DAV anda de mãos dadas com os cuidados paliativos. As diretivas antecipadas constroem um cuidado de uma maneira consciente e refletida junto com o principal interessado que é a pessoa adoecida, mas somada aos seus amigos, familiares e cuidadores informais, aquelas pessoas que estão próximas e alinhadas com o cuidado.
Conforme destaca Érika, “a ANCP entende esse movimento como relevante, mas aponta para a necessidade de amadurecermos e evoluirmos enquanto sociedade que se coloca participante e protagonista da vida e da própria morte”. Isso implica em qualificação dos serviços de saúde com implementação de Cuidados Paliativos em toda a trajetória de cuidados da pessoa, finaliza.