A pediatra Evelyn Cunha Rabelo: “quando identificamos a presença de anticorpos em bebês podemos avaliar a real necessidade da vacinação em gestantes”
Nome popular para a triagem neonatal, o teste do pezinho é feito a partir de gotas de sangue colhidas do calcanhar do recém-nascido para a identificação precoce de doenças metabólicas, genéticas e infecciosas que, quando tratadas precocemente, possibilitam o desenvolvimento físico e mental adequado às crianças. O exame é tão importante que tem uma data para ser lembrado, o Dia Nacional do Teste do Pezinho, comemorado em 6 de junho.
O teste completa 45 anos no Brasil em 2021 e traz duas novidades, a conquista da ampliação das doenças detectadas no exame gratuito, disponibilizado pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e uma pesquisa em andamento feita pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) sobre o resultado do teste em bebês que já nasceram com anticorpos para a Covid-19, após as mães terem sido infectadas pelo coronavírus durante a gestação.
A pediatra Evelyn da Cunha Rabelo, que atende na Clínica Bela Infância, localizada no Órion Complex, em Goiânia, explica a importância do estudo mineiro. Segundo informa, “quando identificamos a presença de anticorpos em bebês podemos avaliar a real necessidade da vacinação em gestantes, conforme já estabelecido, visando a queda de partos prematuros e complicações gestacionais; prevenção do desenvolvimento da doença na forma grave em bebês e do seguimento das sequelas nos primeiros anos de vida, caso haja”.
Resultados preliminares da pesquisa da UFMG mostram que a maioria das mães que se infectaram pelo Sars-Cov-2, durante a gestação, passou os anticorpos para os bebês por meio da transferência placentária. A análise é feita através da mesma gota de sangue no papel filtro coletada para o teste do pezinho. Dessa forma, os bebês não passam por nenhum procedimento diferente do habitual. Até o momento foram testadas 506 mães e em 71 casos os anticorpos foram detectados. A meta é testar 4 mil mães. O estudo também quer descobrir quanto tempo dura essa imunidade. Os bebês que apresentarem anticorpos serão monitorados por dois anos para verificar se eles terão algum comprometimento no desenvolvimento.
Teste ampliado – No final do mês de maio foi sancionada a lei que amplia o número de doenças rastreadas pelo teste do pezinho feito pelo SUS, o que antes era possível apenas em testes ampliados disponíveis na rede particular. “O estudo passará de seis para mais de 50 doenças congênitas que são graves na infância e que seu diagnóstico precoce aumenta a sobrevida, a qualidade de vida e saúde das crianças acometidas”, destaca a pediatra Evelyn Rabelo.
As seis doenças abrangidas atualmente são: fenilcetonúria, hipotireoidismo congênito, síndromes falciformes, fibrose cística, hiperplasia adrenal congênita e deficiência de biotinidase. Com a nova lei, o exame passará a abranger 14 grupos de doenças, que podem identificar até 53 tipos diferentes de enfermidades e condições especiais de saúde. Ela entra em vigor um ano depois de ser publicada, ou seja, a partir de maio de 2022. O processo de ampliação do teste será feito de forma escalonada. O Ministério da Saúde tem até quatro anos para concluir a ampliação do exame.
A coleta de sangue deverá ser feita, preferencialmente, entre o terceiro e o quinto dia de vida e sempre após 48 horas da primeira amamentação/alimentação do recém-nascido. Não há impedimento para as crianças que passarem do prazo indicado. “O teste do pezinho deve ser realizado até 28 dias de vida do bebê. É extremamente necessário diagnosticar precocemente doenças que causam altos índices de adoecimento e mortalidade. Caso haja diagnóstico e tratamento precoces dessas doenças congênitas, reduzimos drasticamente sua evolução negativa. Além disso, ajuda as famílias a serem triadas em aconselhamentos genéticos para que saibam as possibilidades de ter novos filhos com a mesma doença e, assim, evitá-las”, salienta Evelyn Rabelo.