Dr. Francisco Carnevale: “Trata-se de um procedimento minimamente invasivo, orientado com equipamentos de imagem para dirigir um cateter até as hemorroidas”
As hemorroidas geralmente são causadas por esforço durante evacuações, por obesidade ou gravidez. O desconforto é um sintoma comum, além de possível coceira e sangramento. A condição, que afeta a qualidade de vida e tem incidência alta na população mundial, pode atingir cerca de 50% a 65% das pessoas em algum momento da vida. Hoje, o que se conhece para tratar a doença são dietas ricas em fibras, acompanhada da ingestão de líquidos, medicamentos e cirurgias – que podem causar grande desconforto no pós-operatório e durar semanas.
De acordo com o médico Dr. Francisco César Carnevale, professor livre-docente da FMUSP e chefe do Serviço de Radiologia Vascular Intervencionista do Instituto de Radiologia (InRad), que está à frente do trabalho, “trata-se de um procedimento minimamente invasivo, orientado com equipamentos de imagem para dirigir um cateter até as hemorroidas. Chegando nelas, as mesmas são “entupidas”, isto é, embolizadas”, proporcionando rápida recuperação e menos desconforto, define o médico.
A doença hemorroidária interna está relacionada ao aumento no fluxo sanguíneo arterial, que ocorre devido ao alargamento do diâmetro das artérias e veias retais que irrigam tecidos, musculatura e vasos sanguíneos.
Nesta nova técnica, um cateter de 2 mm de diâmetro é introduzido pela virilha (mesma técnica do cateterismo), e chega à artéria do intestino, que é responsável pela formação das hemorroidas. É feita uma fotografia e também uma tomografia das artérias, por meio de um software inédito, desenvolvido pela General Electric (GE) dentro do Hospital das Clínicas, para confirmar a localização destas veias e artérias hemorroidárias.
Assim, é feita a “obstrução delas”, diz Carnevale. “Fazemos uma obstrução intencional (embolização) no local do sangramento, usando microesferas de resina acrílica inofensivas, juntamente com micromolas metálicas. Estes materiais não causam problemas para o paciente e não se deslocam. A embolização é muito segura porque é guiada por imagens altamente sofisticadas”, detalha o médico.
Uma outra vantagem da embolização de hemorroidas é ser feita sob anestesia local e o paciente fica acordado 100% do tempo.
“O paciente retorna rapidamente às suas atividades, tanto laborais quanto sociais e familiares. A grande vantagem da embolização é que traz resultados similares aos cirúrgicos, sem a necessidade de internação hospitalar (alta após 3-6 horas), com anestesia local, menos dor pós-tratamento, resultando, assim, em melhor qualidade de vida para o paciente”, afirma o médico.
Especialização na França – A embolização de hemorroidas já é feita em vários países do mundo, como Rússia (onde foi feita pela primeira vez), Europa e Estados Unidos. “No Hospital das Clínicas da USP (HCFMUSP), desenvolvemos um protocolo de pesquisa, após especialização com o Dr. Vincent Vidal, na França. O grupo francês é o mais renomado cientificamente e com uma das maiores experiências mundiais”, diz Carnevale.
Já tratamos vários pacientes com uma técnica um pouco modificada da técnica francesa, com o objetivo de melhorar os resultados daquele grupo. O intercâmbio França-Brasil visa o aperfeiçoamento da técnica da embolização no tratamento das hemorroidas. Pretendemos que esse procedimento seja utilizado rotineiramente dentro das instituições médicas de saúde de uma maneira geral. Inclusive, alguns pacientes já vêm sendo tratados fora do HC em São Paulo.
Dr. Francisco César Carnevale é também o precursor da embolização de próstata, um tratamento reconhecido internacionalmente para a hiperplasia prostática benigna. A doença tem como sintoma principal a dificuldade para urinar, decorrentes da próstata aumentada. “O método desta cirurgia minimamente invasiva é o mesmo para as hemorroidas. Nada mais é do que uma técnica de cateterismo, só que, ao invés de fazer o cateterismo do coração, nós fazemos o cateterismo da próstata e, agora, para as hemorroidas.”