Dra. Thaís de Paula Guimarães: “minhas expectativas são de que os resultados do nosso trabalho contribuam para uma reflexão mais ampla sobre o uso de antibióticos no fim de vida e ajudem a promover práticas mais alinhadas aos princípios dos cuidados paliativos em terapia intensiva”
Infecções e episódios febris são complicações frequentes em pacientes em fase terminal, e o uso excessivo de antibióticos em cuidados paliativos aumenta o risco de surgimento de patógenos multirresistentes, reforçando a necessidade de avaliar criticamente seu emprego no fim de vida. Esta é a base do estudo da Dra. Thaís de Paula Guimarães, médica intensivista do Hospital Felício Rocho de Belo Horizonte/MG, apresentado no ESICM 2025 – Congresso Europeu de Terapia Intensiva, realizado entre os dias 25 e 29 de outubro, em Munique/Alemanha. A Dra. Thaís Guimarães é especialista em Medicina Intensiva (AMIB), mestre em Cuidados Paliativos (MSc – Critical Care pelo Queen Mary University of London), pós-graduada em Cuidados Paliativos – Adulto pelo Hospital Sírio-Libanês e especialista em Gestão em Saúde também pelo Sírio-Libanês.
O trabalho “Uso de antibióticos no fim de vida em pacientes de cuidados paliativos na UTI” foi desenvolvido em coautoria com as médicas Izabella Caroline Prado Gomes, Paula Gomes Campos e Priscila Nogueira Rodrigues, todas médicas do Hospital Felício Rocho.
Conforme a Dra. Thaís explica, “este estudo descreve o perfil epidemiológico de pacientes em cuidados paliativos internados em UTI que evoluem para óbito e analisa as práticas relacionadas ao uso de antibióticos, além de avaliar o impacto da atuação de uma equipe especializada em cuidados paliativos. Os resultados apontam possível uso excessivo de antibióticos e ressaltam a relevância da intervenção precoce de equipes especializadas”.
Para a médica, “apresentar este trabalho no ESICM 2025 foi uma experiência extremamente enriquecedora. O congresso reuniu especialistas de terapia intensiva de diversos países, proporcionando um ambiente científico de alto nível e discussões profundas sobre temas contemporâneos da medicina intensiva. Poder compartilhar nossos achados sobre o uso de antibióticos no fim de vida em pacientes paliativos na UTI gerou trocas valiosas, com feedback qualificado de pesquisadores e clínicos que enfrentam desafios semelhantes em seus serviços. Além disso, a participação reforçou a importância do tema na agenda internacional e abriu portas para possíveis colaborações futuras, expandindo minha visão e fortalecendo minha atuação na área”.
A partir da repercussão de sua apresentação no ESICM 2025 de Munique, “minhas expectativas são de que os resultados do nosso trabalho contribuam para uma reflexão mais ampla sobre o uso de antibióticos no fim de vida e ajudem a promover práticas mais alinhadas aos princípios dos cuidados paliativos em terapia intensiva”, destaca a especialista.
O uso de antibióticos no fim da vida exige cuidado, uma vez que pode combater infecções, como também causar efeitos colaterais indesejáveis, além de criar resistência bacteriana.
Nesse sentido, a Dra. Thaís espera que os dados do trabalho apresentado estimulem revisões de protocolos, promovam uma maior integração precoce das equipes de cuidados paliativos e ofereçam uma abordagem mais criteriosa e individualizada das prescrições antimicrobianas. Além disso, acrescenta, “acredito que o estudo possa abrir espaço para novas pesquisas colaborativas, aprofundando a compreensão sobre decisões terapêuticas em pacientes críticos com prognóstico limitado e, eventualmente, influenciando políticas institucionais e diretrizes clínicas”.
Em 2024, A Dra. Thaís apresentou outro trabalho na edição 37º ESICM, realizado entre os dias 07 e 09 de outubro, em Barcelona/Espanha. O tema apresentado foi “Modelo prognóstico de mortalidade em pacientes idosos (≥ 80 anos) internados em uma Unidade de Terapia Intensiva”.
Pacientes considerados muito idosos, maiores que 80 anos, representam uma população em rápido crescimento no Brasil e no mundo, e compreender suas particularidades é essencial para avaliar o benefício da admissão em UTI, garantindo alocação adequada de recursos e cuidado hospitalar de qualidade, destaca a médica.
Este estudo, acrescenta, “teve como objetivo identificar variáveis clínicas associadas à mortalidade hospitalar desses pacientes internados em uma UTI de um hospital privado, terciário em Belo Horizonte, e desenvolver um modelo prognóstico de mortalidade baseado em diferentes perfis clínicos”. Nesses casos, “a idade cronológica, isoladamente, não deve orientar decisões médicas, pois o risco de mortalidade aumenta quando ela se associa a comorbidades, gravidade da doença aguda, maior fragilidade e perda funcional; por isso, destaca-se a importância de validar escores prognósticos específicos para idosos críticos”, observa.
Para 2026, a Dra. Thaís iniciou outra pesquisa, a ser apresentada em eventos da área, desta vez sobre a “Avaliação dos fatores relacionados à mortalidade após alta da UTI”, em colaboração com residentes de Clínica Médica e Terapia Intensiva do Hospital Felício Rocho, com o objetivo de fomentar o pensamento crítico e científico, além de estimular a pesquisa durante a formação médica.
Para o futuro, ressalta, “pretendo expandir essa linha de investigação, aprofundando o conhecimento sobre desfechos de pacientes críticos, integrando análises epidemiológicas e clínicas, de forma a contribuir para a melhoria da tomada de decisão baseada em evidências na terapia intensiva”.
