Vida de Médico: entrevista com a Dra. Beatriz Deoti

Dra. Beatriz Deoti: “a concorrência não tem dimensão, porque o que rege é a competência com que cada um desempenha o seu trabalho”.

O espaço Vida de Médico do Portal Medicina & Saúde apresenta a visão de profissionais conceituados sobre temas contemporâneos da Medicina e, também, a trajetória de vida desses médicos.  A nossa entrevistada dessa vez é a Dra. Beatriz Deoti, cirurgiã geral e coloprocotologista, ex-professora da UFMG e atual professora da UFSJ/Universidade Federal de São João del-Rei. Também é presidente FUPEC-Fundação de Pesquisa e Ensino da Cirurgia. Nessa entrevista ao Portal Medicina & Saúde, Dra. Beatriz Deoti fala sobre desafios que encontrou, rotina de trabalho, concorrência, preconceito com mulheres médicas, entre outros aspectos. Confira:

Dra. Beatriz, quando e por que a senhora decidiu fazer medicina?

Decidi no primeiro ano colegial quando comecei a ter aula no Laboratório de Química e percebi a vastidão da aplicação dos medicamentos na vida das pessoas

Por que escolheu a Cirurgia Geral?

Escolhi a Cirurgia Geral pela pluralidade da especialidade e pela imensa resolutividade nas doenças

Quais os desafios que encontrou no início de sua carreira?

Os desafios foram encontrar uma equipe sincronizada, disciplinada e regular.

Como é a sua rotina de trabalho?

Minha rotina de trabalho é a minha rotina de vida, porque descobri que ser útil é ser uma pessoa feliz, e de vez em quando, para me socializar, me distraio com os prazeres da vida.

Quais as diferenças entre o curso de Medicina de sua época e o atual?

A interferência da mercantilização da profissão.

Hoje o aluno tem mais visão humanística ou mais mercadológica da profissão?

Hoje o aluno tem uma visão mercadológica.

A concorrência é muito grande?

A concorrência não tem dimensão, porque o que rege é a competência com que cada um desempenha o seu trabalho.

Como se destacar, principalmente em um universo masculino como a cirurgia geral?

Isto é um desafio constante por ser um aspecto cultural camuflado. É preciso preparo, estratégias e enfrentamentos, acreditar na capacidade e manter um trabalho constante

Alguma vez a senhora percebeu preconceito de colegas médicos?

Percebi inúmeras vezes: nas escalas de plantão, nas escalas de cirurgias de diferentes portes, nos convites para eventos, tudo muito sútil.

Como anda a cirurgia geral no Brasil? E em Minas Gerais

A Cirurgia Geral anda desprestigiada e desvalorizada. Ser cirurgião geral perante a sociedade é não ter status, é ser inferior com ar de não oferecer resolutividade. Em Minas Gerais, idem.

Como a senhora vê a relação médico-paciente, em um tempo em que as consultas, em geral, são muito rápidas?

É preciso analisarmos as mudanças, equacionarmos o que é essencial e sabermos quais consultas podem ser online e rápidas e quais consultas demandam cuidados especiais. Tem muitos atendimentos que podem ser agilizados e com atendimento de qualidade e eficaz. Já outros não podem seguir neste formato.

A senhora faz trabalhos voltados para a comunidade?

Sim, através do Projeto FUPEConecta, que realiza mutirão de cirurgias gratuitas para a população de determinadas regiões.

Falando de trabalho voluntário, fale de seu trabalho na FUPEC, entidade idealizada pelo Dr. Alcino Lázaro da Silva.

No momento, presido a FUPEC – Fundação de pesquisa e Ensino em Cirurgia. Temos uma equipe de cirurgiões voluntários. Fazemos parcerias com as prefeituras para otimizar as filas de cirurgias. Nos deslocamos para os municípios parceiros, junto com alunos de medicina e enfermagem e fazemos uma força tarefas para os cirurgiões das pequenas cidades. Com isso, os pacientes esperam menos tempo para operar, a doença não progride e não se torna complexa e grave. O paciente é tratado na própria cidade, não se desloca, os acompanhantes não precisam faltar ao trabalho, a prefeitura evitas muitas viagens, com menor risco e custo. Recebemos, ainda, casos complexos, que ficam na fila por não conseguirem chegar no tratamento em hospitais terciários. Assim, nós fazemos esta ponte, além de otimizar as Santas Casas de misericórdia da cidade, que ficam produtivas com o movimento cirúrgicos.

Em um país com diferença social acentuada como no Brasil, como o médico deve se preparar para uma visão mais social?

Como professora, sempre tiro meus alunos do hospital referência. Sempre os levo para os diversos tipos de unidades de saúde para eles entenderem que podem fazer sempre algo que faz diferença na saúde do paciente estando em ambientes diferentes do hospital escola. Eles vivem o sistema de saúde real e as diferenças de assistência oferecida para a população, criando uma consciência social muito diferenciada e podendo atuar de forma efetiva fazendo o que se prepararam: atender doentes.

O que poderia dizer para os jovens colegas que estão no caminho da medicina?

Para os jovens colegas destaco que o sentido da nossa profissão é manter como centro das atenções para o paciente e não o médico.

Finalizando, gostaria de saber o que a senhora faz para relaxar?

Desfruto da companhia de familiares e amigos.

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