Vida de Médico: entrevista com o gastroenterologista Vitor Antonino Mendes de Sá

Dr. Vitor Sá: “Infelizmente, a percepção mais ampla de quem pratica uma Medicina de modo mais consciente é que o mercado tem ganhado um espaço progressivamente maior que o eticamente aceitável”

O Portal Medicina e Saúde constatou grande interesse dos nossos leitores pelo espaço “Vida de Médico”. Sem dúvida, conhecer o lado pessoal do médico é muito enriquecedor, pois sempre o vemos em situações muito específicas.

Dessa vez, nosso entrevistado o médico gastroenterogista Vitor Antonino Mendes de Sá, que nos conta um pouco de sua trajetória, desafios, rotina de trabalho, Educação Médica, e visão mercadológica. Aborda também a relação médico- paciente e apresenta sua visão social da profissão, entre outros aspectos.

Dr. Vitor Sá formou-se em Medicina em 1999, pela UFMG. Tem residência em Clínica Médica e Gastroenterologista pelo MEC, no Hospital da Previdência, e em Endoscopia Digestiva pela SOBED. É Médico da Procuradoria da República de MG, FHEMIG e do HPS João XXIII. É ainda assistente na Gastroclínica e na Gastrobelvedere.

Dr. Vitor, quando e por que o senhor decidiu fazer medicina?

Ainda adolescente, logo após a morte do meu pai, resolvi encarar o desafio de lutar pela vida e pela saúde.

Por que escolheu a Gastroenterologia?

A mudança se deu durante a Residência, quando tive a oportunidade de conhecer o Prof. Renato Dani e o Dr. Guilherme Santiago, do qual me tornei amigo e sócio.

Quais os desafios que encontrou no início de sua carreira?

O estabelecimento da clínica privada em uma cidade repleta de profissionais referência na especialidade

Como é a sua rotina de trabalho?

Apesar de laboriosa e muito apertada em termos de horários, consigo conciliar bem a distribuição de consultório, salas de exames e hospital. Trabalho bastante, mas trabalho com o que amo fazer. E isso ameniza qualquer cansaço.

Quais as diferenças entre o curso de Medicina de sua época e o atual?

A Educação Médica, como a de diversas áreas de nível superior, mudou e continua mudando muito. Não sei se necessariamente para melhor. A introdução de novos projetos pedagógicos, em especial o PBL, aproximou precocemente o aluno da assistência. Isso tem vantagens e também desafios. A enxurrada da ampliação de vagas e novos cursos, pouco respaldados e introduzidos sem adequados mecanismos de avaliação de resultados, certamente vem cobrando um alto preço de formandos e mesmo da sociedade. Esse é um tema árduo, bastante polêmico, pois envolve interesses financeiros gigantescos de muitos grupos. Dois temas que também afetam diretamente a Educação Médica são a aplicação automática e pouco reflexiva da chamada “Medicina Baseada em Evidências” e o distanciamento do acadêmico e residente de médicos outrora essenciais na educação, que se identificavam como referências, verdadeiramente os “professores”.

Hoje, o aluno tem mais visão humanística ou mais mercadológica da profissão?

Infelizmente, a percepção mais ampla de quem pratica uma Medicina de modo mais consciente é que o mercado tem ganhado um espaço progressivamente maior que o eticamente aceitável. A medicina privada deve comportar diferenciação em suas ofertas, seja em termos qualitativos ou quantitativos. Isso é natural, e mesmo salutar. O que não se pode é transformar uma profissão, cujo compromisso primeiro é com a vida humana, em um balcão de negócios, como às vezes temos observado.

A concorrência é muito grande? Como se destacar?

Para o profissional dedicado, competente, compromissado e proativo, não faltam boas oportunidades para exercer com dignidade e felicidade sua profissão. É o que faço questão de frisar para os que estão iniciando.

Como o senhor vê a relação médico-paciente?

Como toda relação humana, deve se basear em empatia, respeito mútuo e verdade. Esse tripé, se bem aplicado, torna o ambiente dessa relação equilibrado e saudável. Qualquer desses itens, se faltante, impõe alto risco de deterioração e conflito.

O senhor faz trabalhos voltados para a comunidade?

Atendo voluntariamente pacientes encaminhados por colegas médicos e amigos. Faço isso de maneira sistemática no consultório, e até mesmo no domicílio, inclusive no interior do Estado. Também apoio minha esposa, que se voluntaria intensamente no Projeto Amor que Cura, voltado para crianças carentes em tratamento de câncer.

Em um país com diferença social acentuada como no Brasil, como o médico deve se preparar para uma visão mais social?

A base familiar e sociocultural que a maioria dos profissionais médicos felizmente possui deve sempre servir de exemplo e motivação. Muitas das pessoas que atendemos são carentes, no sentido mais amplo da expressão. E isso transcende o social em sua vertente financeira. Engloba carência nas teias comunitária, pessoal, emocional, profissional. É necessário perceber e estratificar isso, para cada paciente. No fim, é necessário Humanidade e Humanismo para se exercer a Medicina dignamente.

O que poderia dizer para os jovens colegas que estão no caminho da medicina?

Invistam prioritariamente nos valores essenciais: caráter, compromisso, respeito, ética. O conhecimento científico está amplamente disponível e pode mesmo ser fornecido por mecanismos de gerência de comandos artificiais, mas a humanidade, aquilo que efetivamente nos faz diferentes e únicos, não pode ser ofertado por ninguém, além de nós.

Finalizando, gostaria de saber o que o senhor faz para relaxar?

Meu lazer é a convivência social com minha família e amigos próximos. Pode ser em casa, na fazenda, num restaurante ou num estádio de futebol. Estar com eles é sempre meu maior prazer.

Sair da versão mobile