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Vida de Médico: entrevista com o urologista Ailton Faion

Dr. Ailton Faion: “a relação médico paciente é o principal pilar do tratamento médico”

É sempre prazeroso conhecermos o lado pessoal da vida dos nossos médicos. Isto nos aproxima mais, fortalecendo a relação médico-paciente.

Dessa vez o Portal Medicina e Saúde entrevistou o Dr. Ailton Faion, diretor clínico do Hospital Urológica em Belo Horizonte, membro efetivo do Colégio Brasileiro de Cirurgiões, onde ele conta um pouco de sua história e aborda os desafios, sua rotina de trabalho e as diferenças da medicina praticada no início do exercício de sua profissão e atualmente, entre outros aspectos. Confira:

Dr. Ailton, quando e por que o senhor decidiu fazer medicina?

Ao término do meu segundo grau, em 1983, que foi um curso técnico em Química, no interior de Minas Gerais – eu sou de Andradas -, como eu gostava muito de Ciências Biológicas, e admirava muito a profissão de médico (tinha grandes exemplos em minha cidade), resolvi fazer o vestibular para Medicina.

Quais os desafios que encontrou no início de sua carreira?

Todo começo é sempre difícil, mas acho que minha maior dificuldade foi não ter nenhum familiar médico, que pudesse me ajudar no início da minha carreira. Inicialmente, havia planejado voltar para minha cidade, Andradas, mas várias circunstâncias acabaram por me fazer permanecer em BH.

Como é sua rotina de trabalho?

Como urologista, uma especialidade que tem uma parte cirúrgica e clínica importante, divido meu tempo entre o consultório e o bloco cirúrgico. Trabalho de segunda à sexta e às vezes aos sábados. Atualmente não dou mais plantão. Porém, eventualmente, tenho cirurgias de urgência fora de horário. Por mais que tenha tentado diminuir minha carga de trabalho, afinal já são mais de 30 anos de profissão, ainda não consegui. E quando falo isso, tenho de deixar claro que me sinto realizado profissionalmente e muito feliz com a carreira que abracei. O fato de ainda não ter conseguido diminuir o ritmo de trabalho tem muito a ver com a responsabilidade de ser médico. É daí que vem a expressão de que medicina é um sacerdócio. Você não consegue simplesmente falar: vou diminuir ou parar de trabalhar. Existe toda uma responsabilidade envolvida na profissão de médico.

Quais as diferenças entre o curso de Medicina de sua época e o atual?

Puxa, são enormes! Por ter dois filhos fazendo medicina (e uma nora também!), o que me deixa cheio de orgulho, estou bem a par das novas tendências do ensino médico, principalmente o PBL (sigla em inglês para aprendizado baseado no problema). Acho o ensino atual muito mais efetivo do que em minha época. De uma forma geral, eu e toda minha geração de médicos até poucos anos atrás, aprendíamos medicina por partes (da célula aos tecidos e depois ao órgão e, então, depois da fisiologia e anatomia normal, aprendíamos sobre as alterações anatômicas e fisiológicas, depois as doenças e, então, como tratá-las. Hoje, parte-se da doença e se faz o caminho inverso: pela fisiologia e anatomia alteradas pela doença, como tratá-la e, então, estuda-se o órgão e o tecido sadio. Por maior relutância que minha geração possa ter a essa fórmula, estou convicto de que ela é mais eficiente!

Hoje, o aluno tem mais visão humanística ou mais visão mercadológica?

O estudante de medicina atual entra na escola com uma visão mercadológica que ele obteve no ensino médio, que também não existia em minha época. Por mais que as escolas queiram transmitir uma visão humanística (que é parte inerente da medicina) essa parte mercadológica não pode ser negada ou negligenciada, nem pelo aluno nem pela escola.

A concorrência é muito grande? Como se destacar?

A concorrência sempre foi grande, e vai continuar sendo. Nunca pensei em termos de aumento de escolas de Medicina, já que ainda temos uma discrepância grande entre número de habitantes e número de médicos sugeridos pela OMS (Organização Mundial de Saúde). O que ocorre é uma má distribuição dentro desse nosso país continental. Já se destacar na profissão passa por se especializar e se diferenciar, se for ficar em um grande centro, ou ser um ótimo generalista e ir para o interior.

Como é a relação médico-paciente na medicina moderna?

A relação médico paciente é o principal pilar do tratamento médico. Sem ela, não se faz diagnósticos e muito menos algum tratamento. Uma vez que essa relação não ocorra ou em algum momento seja quebrada (e isso pode acontecer por diversos motivos), o melhor é ser franco e encaminhar o paciente a outro colega. Já dizia Giordano Bruno, no fim da idade média: “os magos curam pela fé mais que os médicos pela ciência”. Tem de existir empatia entre médico e paciente. A melhor forma de construir isso é através do olho no olho, sendo franco sobre seus conhecimentos e sobre suas dúvidas e nunca tirando a esperança do paciente. Hoje, esse aprendizado não é feito por uma disciplina, mas sim, no dia a dia no ambulatório e no leito do hospital, ao lado do paciente.

O senhor faz trabalhos voltados para a comunidade?

Até hoje, com muito orgulho, atuo em um grande hospital de Belo Horizonte, o Hospital da Baleia, que faz um serviço maravilhoso para a cidade, o estado e o país. Atendo e opero, junto de uma equipe capacidade de colegas e residentes médicos, para a população mais carente.

Em um país com diferença social acentuada como no Brasil, como o médico deve se preparar para uma visão mais social?

O estudante que pensa em fazer medicina tem de trazer do ensino médio (ou, quem sabe, do próprio berço) o sentimento da responsabilidade social que cabe ao profissional de saúde. Na Bíblia, o livro mais sábio do mundo, está escrito que cabe a nós multiplicar e dividir os talentos que nos foram confiados!

O que poderia dizer para os jovens colegas que estão no caminho da medicina?

É a melhor profissão do mundo! Vai dificultar seu convívio familiar, você será muito cobrado pelos seus familiares, pelos seus pacientes, pelos seus colegas. Tudo isso, 24 horas por dia, sete dias por semana. Mas você poderá dizer um dia: combati o bom combate! Sucesso e força a todos que estão começando ou estão no meio  dessa trajetória maravilhosa de ser médico.

Na correria do dia a dia, como é o apoio de sua família?

Comprometimento total comigo, até por que meus filhos estão fazendo medicina! Algumas cobranças por mais tempo perto deles, mas de uma forma muito amorosa.

Finalizando, gostaria de saber o que o senhor faz para relaxar? Tem algum hobby?

Leio muito, escrevo, assisto séries e filmes e pratico corrida. Aliás, minhas corridas, feitas de madrugada, com amigos de longa data, são minha melhor terapia.

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