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Dependência de celular no trânsito: perigo iminente!

Psicóloga, especialista em trânsito, Adalgisa Lopes: “o trânsito caótico, a pressa da modernidade e o uso excessivo de telas formam uma combinação perigosa para a vida de todos”

Quando seu celular notifica, você olha para o aparelho? Para milhões de pessoas, essa é uma reação normal e aparentemente inofensiva. Mas, se você não consegue ficar muito tempo sem checar seu smartphone, pode estar colocando sua segurança em risco. A psicóloga especialista em trânsito e presidente da Associação de Clínicas de Trânsito do Estado de Minas Gerais (ACTRANS-MG), Adalgisa Lopes, alerta que a dependência tecnológica está comprometendo nossa capacidade de dirigir com segurança, transformando uma atividade cotidiana em um risco iminente.

Segundo a especialista, tarefas corriqueiras que executamos no dia a dia ficam comprometidas pelo uso excessivo de telas. Isso acontece porque, conforme pesquisas, navegar na internet por 15 minutos e, em seguida, realizar qualquer outra ação reduz o foco e a qualidade da atenção. “O ato de dirigir, que exige atenção constante, pode se tornar uma atividade mais perigosa e fatal quando abusamos do uso de telas”, afirma a psicóloga de trânsito. 

Acidentes – Manipulação e persuasão – Conforme Adalgisa explica, o uso do celular promove uma atualização constante de recursos e estratégias que roubam nossa atenção. “Quem nunca se deparou assistindo a um vídeo engraçado no Instagram e, no momento seguinte, estava comprando um produto que nunca viu e nunca pensou que precisava? Esses são os mecanismos de manipulação e persuasão mencionados nas pesquisas sobre as mídias sociais. Nos tornamos viciados sem perceber, checando compulsivamente o telefone e repetindo comportamentos inadequados que roubam nosso tempo, atenção, dinheiro e bem-estar imediato”, enfatiza.

Risco imediato e constante – O trânsito caótico, a pressa da modernidade e o uso excessivo de telas formam uma combinação perigosa para a vida de todos. “Estamos vivenciando uma saturação mental que impede um bom desempenho intelectual e das nossas funções psíquicas, provocando adoecimentos mentais irreparáveis. Somos impelidos a cometer erros nos afazeres da vida diária e estamos mais propensos a acidentes no âmbito doméstico, do trabalho e do trânsito”, destaca a especialista, ao alertar que a situação é ainda mais preocupante para motoristas de aplicativos e entregadores, que dependem do celular para executar seu trabalho.

Dirigir com atenção diminuída é o caminho certeiro para acidentes. “Não é à toa que quem mais sofre acidentes fatais são homens entre 18 e 27 anos. Muitos desses jovens trabalham como motoristas em plataformas digitais, fazendo crescer o número de pessoas com deficiências físicas e aposentadorias precoces por invalidez, devido a acidentes de trânsito”, comenta.

Desatenção: maior causa de acidentes no BrasilEstudos científicos têm associado o uso abusivo de tecnologias à depressão e ansiedade. No Brasil, as estatísticas são alarmantes: o brasileiro passa, em média, 9 horas e 29 minutos por dia na internet, bem acima da média global de 6 horas e 42 minutos. “A criação da web, segundo antropólogos culturais, é comparável à descoberta do fogo há 2 bilhões de anos. A internet mudou a forma como consumimos informações, entretenimento e reinventou os meios de interação social. Essa nova habilidade exigida pelos eletrônicos provoca mudanças no nosso cérebro, como perda da capacidade atencional e diminuição da criatividade”, comenta a psicóloga. 

Essa realidade ajuda a explicar o motivo de, em vez de reduzirmos o número de mortes no trânsito, registrarmos o crescimento de acidentes. “Os fatores humanos correspondem a 90% das causas de acidente. No Brasil, as estatísticas mostram que fatores relacionados à desatenção são as principais causas de acidentes de trânsito. Precisamos urgentemente promover mudanças em nossas vidas. A vida digital não pode ser mais importante do que as experiências da vida concreta. Usar as telas com moderação pode preservar nossa maneira de raciocinar, assegurar nosso equilíbrio emocional e até a nossa vida”, completa Adalgisa.

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