Novo coronavírus: há motivo para preocupação?

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Desde o surgimento da Covid-19, a ciência e a saúde pública têm se mantido em alerta para o risco de novos coronavírus que possam atingir humanos. Recentemente, pesquisadores chineses identificaram um novo coronavírus, denominado HKU5-CoV-2, em morcegos na região central da China. A descoberta traz à tona uma preocupação legítima: esse novo vírus pode desencadear uma nova pandemia?
De acordo com o infectologista Celso Granato, membro da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial (SBPC/ML), por enquanto, o risco é potencial, mas deve ser monitorado de perto. “Ele tem o mesmo local de ligação nas células humanas que o SARS-CoV-2, vírus responsável pela pandemia de Covid-19. Isso significa que, em tese, ele pode entrar em nossas células da mesma maneira. Embora ainda esteja restrito aos morcegos, seu potencial pandêmico existe”, afirma.
Um dos pontos mais preocupantes é que, mesmo para aqueles que já tiveram Covid-19 ou foram vacinados contra o SARS-CoV-2, não há garantias de imunidade contra o HKU5-CoV-2. “Esse é um outro coronavírus, não uma variante do SARS-CoV-2. As semelhanças se limitam à porta de entrada nas células, mas ele é suficientemente diferente para que não haja uma proteção cruzada eficaz”, explica Granato, acrescentando que essa informação reforça a necessidade de medidas preventivas para evitar sua disseminação, caso o vírus consiga transpor a barreira entre espécies e atingir humanos.
A principal estratégia para evitar surtos de coronavírus originados em animais passa pelo controle dos mercados que os comercializam. “A Covid-19 provavelmente surgiu de um vírus que passou de morcegos para outro animal intermediário antes de chegar aos humanos. Esse ciclo pode se repetir se não houver fiscalização rigorosa, especialmente nos mercados chineses que mantêm diversas espécies em condições sanitárias precárias”, alerta o especialista da SBPC/ML.
O controle desses mercados foi reforçado após a pandemia de Covid-19, mas ainda há incertezas sobre a eficácia das medidas implementadas. Granato destaca que o HKU5-CoV-2 também pode se adaptar a diferentes espécies, o que aumentaria suas chances de atingir os seres humanos por meio de um hospedeiro intermediário.
Caso o HKU5-CoV-2 se torne uma ameaça real à saúde humana, a experiência adquirida na pandemia de Covid-19 permitirá uma resposta mais ágil. “Com a sequência genética do vírus publicada, rapidamente podemos desenvolver testes moleculares, como o PCR, para identificá-lo. Além disso, testes rápidos imunocromatográficos poderiam ser desenvolvidos para permitir um diagnóstico mais acessível”, explica Granato.
Quanto ao tratamento, ele pondera que medicamentos usados contra a Covid-19, como o Remdesivir, podem apresentar algum grau de eficácia contra esse novo coronavírus, mas estudos laboratoriais serão necessários para confirmar sua utilidade. “Precisaremos testar a eficácia desses antivirais antes de recomendá-los, e, caso não sejam eficazes, novos tratamentos deverão ser desenvolvidos”, ressalta.
A resposta a qualquer nova ameaça viral deve se apoiar nos aprendizados adquiridos durante a pandemia de Covid-19. Medidas como uso de máscaras, higiene das mãos e distanciamento social continuam sendo eficazes para reduzir a transmissão de vírus respiratórios. No entanto, a maior arma contra uma eventual nova epidemia será a vacina.
“Diferente do que aconteceu em 2020, hoje temos um conhecimento mais consolidado sobre vacinas de RNA mensageiro, por exemplo. Se necessário, podemos desenvolver uma vacina específica para o HKU5-CoV-2 com muito mais rapidez”, destaca Granato. O desafio, segundo ele, será produzir e distribuir essas vacinas em tempo hábil para evitar uma crise sanitária global.
Embora o HKU5-CoV-2 ainda não tenha infectado humanos, seu potencial não pode ser ignorado. A vigilância epidemiológica e o fortalecimento de medidas preventivas são essenciais para evitar que o mundo reviva os desafios enfrentados com a Covid-19. “O que aprendemos nos últimos anos deve ser utilizado como ferramenta para garantir uma resposta rápida e eficaz caso esse novo coronavírus comece a se espalhar entre humanos. A ciência segue monitorando, e a sociedade deve permanecer atenta. O conhecimento é a melhor defesa contra pandemias futuras, finaliza Granato.