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Movimento Médicos pelo Clima articula ações para a COP30

O Movimento prepara também uma marcha e carta de recomendações para lideranças mundiais

Foto: Divulgação

Pioneiro no Brasil ao mobilizar a classe médica no enfrentamento à mudança climática e à poluição do ar, o Movimento Médicos pelo Clima, idealizado pelo Instituto Ar, está articulando ações para a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2025 (COP30), em Belém (PA), com o objetivo de garantir que as decisões e compromissos assumidos considerem os impactos na saúde humana. O Movimento reúne profissionais de todas as regiões do país e integrou a construção do Plano de Ação de Saúde de Belém, proposta global coordenada pelo Ministério da Saúde para ajudar os países a adaptarem seus sistemas de saúde aos efeitos das mudanças climáticas.

Criado em 2020 com o nome de Médicos pelo Ar Limpo, o Movimento Médicos pelo Clima atua em três frentes principais — advocacy, produção e disseminação de conhecimento científico e mobilização da classe médica — para inserir a pauta de clima e saúde em políticas públicas. Com a aproximação da COP30, o Movimento tem intensificado sua atuação para ampliar o debate sobre a relação entre clima e saúde, fortalecendo a pauta junto a tomadores de decisão, entidades médicas e sociedade civil. 

De acordo com a fundadora do Instituto Ar, médica Evangelina Araújo Vormittag, “médicos engajados na causa ambiental, como porta-vozes da saúde diante da crise climática, têm responsabilidade e poder de influência para enfrentar esse que é o maior desafio para o futuro de nossas vidas”.

Plano de Ação – O Movimento Médicos pelo Clima integrou o grupo de instituições que participaram da elaboração do Plano de Ação de Saúde Belém, documento desenvolvido pelo Brasil para orientar compromissos internacionais e colocar a saúde como prioridade nas respostas à crise climática. Coordenado pelo Ministério da Saúde, o plano apresenta medidas que podem ser adotadas por diferentes países para fortalecer a resiliência de seus sistemas de saúde diante dos impactos do clima.

São três eixos de trabalho. O primeiro trata do fortalecimento da vigilância e do monitoramento em saúde, buscando ampliar a capacidade de resposta a ameaças relacionadas ao clima, como surtos de doenças transmitidas por vetores e impactos na saúde mental provocados por eventos extremos. O segundo eixo propõe acelerar a implementação de políticas baseadas em evidências, estimulando a cooperação entre governos, universidades, organizações da sociedade civil e outros atores estratégicos. O terceiro incentiva a inovação e a produção, com investimentos em pesquisa e tecnologia voltados às necessidades específicas das populações mais vulneráveis.

A participação do Movimento concentrou-se na inclusão de abordagens de saúde pública e do trabalhador. Entre as propostas apresentadas estão a ampliação da proteção a profissionais da linha de frente, com instrumentos adequados e atenção especial a questões psicossociais; a criação de protocolos claros e a garantia de financiamento para atender grupos em situação de vulnerabilidade durante eventos climáticos extremos; e a integração do cuidado climático preventivo à atenção primária, promovendo, assim, uma governança local alinhada aos princípios da saúde planetária.

O embaixador do Movimento Médicos pelo Clima, Dr. João Silvestre, doutor e mestre em Saúde Pública pela USP e médico do trabalho, explica que os impactos da crise climática não se limitam ao ambiente natural, mas atingem diretamente os locais onde as pessoas exercem suas atividades profissionais. “Quando temos aumento da temperatura, poluição atmosférica ou eventos extremos, esses fatores também se manifestam nos ambientes de trabalho. Isso leva ao adoecimento do trabalhador, aumenta a demanda por assistência médica e gera repercussões para as organizações e até para o sistema público de saúde e previdência”.

As consequências, destaca o embaixador do Movimento pelo Clima,  incluem desde doenças cardiovasculares, agravadas pelo calor, até sofrimento mental. “A literatura já mostra efeitos do calor piorando condições cardiovasculares, doenças renais, câncer de pele, problemas respiratórios relacionados a queimadas, além de infecções em cenários de enchentes, como hepatite e leptospirose. Também existe o sofrimento mental do trabalhador em situações de maior risco, como inundações e desabamentos”, afirma. “Falamos muito sobre o trabalhador rural, mas os trabalhadores que estão nos ambientes urbanos, como aqueles que estão na construção civil, que trabalham a céu aberto e estão mais susceptíveis a chuvas intensas e ondas de calor, ou mesmo trabalhadores do setor industrial, que vão sentir piora da sensação térmica no seu local de trabalho, também estão entre os grupos mais suscetíveis”, complementa. 

Na avaliação do embaixador, as empresas também precisam assumir maior protagonismo diante da crise climática. “É importante destacar a gestão integrada de saúde, segurança e meio ambiente nas organizações. A agenda ESG já traz essa pauta, envolvendo meio ambiente, responsabilidade social e governança, mas essa integração precisa ser mais efetiva diante da crise climática. As organizações devem se engajar junto à sociedade civil para melhorar tanto o meio ambiente em geral, quanto o ambiente de trabalho, garantindo ações de promoção da saúde e prevenção de adoecimentos”.

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