Doença de Chagas
Dr. Milton Henriques Guimaraes Junior: “para conscientizar e levar informação à população sobre essa enfermidade, é celebrado em 14 de abril o Dia Mundial da Doença de Chagas. A conscientização sobre a doença, frequentemente diagnosticada em seus estágios finais, é essencial para melhorar as taxas de tratamento e cura precoces, juntamente com a interrupção de sua transmissão”.
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Silenciosa e silenciada, a Doença de Chagas (DCA) é classificada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como uma das 17 doenças tropicais negligenciadas. Ela é causada pelo protozoário Trypanosoma Cruzi (T.cruzi) e ainda tem um grande impacto na América Latina, onde afeta principalmente populações carentes.
Em 1909, o jovem médico e pesquisador brasileiro Carlos Chagas, em um ambiente com poucos recursos e com um aguçado senso científico, descreveu não só o agravo causado aos humanos pelo protozoário, como também descreveu todo o ciclo da doença e a transmissão, tendo como vetor o barbeiro. Seu trabalho jogou luz sob essa doença até então negligenciada dos livros de medicina, voltados para doenças de países desenvolvidos, e é, sem dúvida, um dos grandes trabalhos da ciência médica brasileira do século XX.
De acordo com o Dr. Milton Henriques Guimaraes Junior, cardiologista da Fundação São Francisco Xavier, a Doença de Chagas ainda afeta mais de 6 milhões de pessoas no mundo, com importante problema da subnotificação, visto que apenas uma em cada 10 pessoas é diagnosticada com a enfermidade, de acordo com a Organização Médicos Sem Fronteiras.
No Brasil, a doença afeta pelo menos 1 milhão de pessoas e resulta em mais de 4 mil mortes por ano, segundo o Ministério da Saúde. Movimentos migratórios também fazem com que pessoas em diversas partes do mundo convivam com a doença.
Contaminação – Dr. Milton explica que a via clássica de contaminação é através dos barbeiros da família Triatominiae. Ao picarem os humanos para se alimentarem, esses barbeiros defecam e eliminam os protozoários nas fezes, que, então, contaminam os humanos ao penetrarem pelas feridas na pele ou mucosas. Há outras formas de transmissão, como a por via oral, que tem recebido bastante atenção atualmente, destaca o médico, ao explicar que através dessa transmissão a contaminação dos humanos se dá pela ingestão de alimentos contaminados pelo parasita, como caldo de cana e açaí. Há ainda vias menos comuns, como a transfusão de sangue e a gestacional.
A enfermidade chegou a ser erradicada no Brasil quando o país recebeu, em 2006, um certificado de eliminação do Trypanosoma Cruzi. Mas, em meados de 2018, ela reapareceu. Dois anos depois, em 2020, foram confirmados 146 casos de Doença de Chagas Aguda (DCA), com uma letalidade de 2%, sendo que todos os óbitos ocorreram no estado do Pará, muitos por contaminação via oral.
Nesse sentido, alerta, é cada vez mais urgente levantar a bandeira da informação e do combate à doença, que tem uma fase aguda e uma crônica. Na fase aguda, que dura de três a oito semanas, os sintomas mais comuns são febre, aparecimento de gânglios e crescimento do baço, fígado e coração.
Na fase crônica, a maior parte dos pacientes vai seguir de forma assintomática e sem acometimento de órgãos ou sistemas. Essa fase é detectada por exames sorológicos e é chamada de fase indeterminada, podendo durar décadas. Cerca de 30% dos pacientes vão progredir para o acometimento cardíaco e/ou do aparelho digestivo.