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Missão Amor que Cura leva ajuda aos desabrigados do Rio Grand do Sul

A missão contou com oito profissionais da saúde que atuam em Presidente Prudente/SP, a maioria egressos da UNOESTE

(Foto: Divulgação- Cedida/Hospital Regional)

Uma experiência de vida para jamais ser esquecida e apagada da memória. É assim que a maioria dos profissionais de saúde e egressos da UNOESTE que fazem parte da “Missão Amor que Cura”, resume os 10 dias vividos recentemente no Rio Grande do Sul. Esta ação é promovida pela Associação e Fraternidade Lar São Francisco de Assis na Providência de Deus (gestora do Hospital Regional de Presidente Prudente e do Ambulatório Médico de Especialidades de Presidente Prudente), e foi realizada entre os dias 3 e 13 de junho, em Porto Alegre, capital gaúcha.

Como foi amplamente noticiado, no fim de abril e o mês de maio, o Rio Grande do Sul viveu uma catástrofe em consequências das fortes chuvas que transbordaram vários rios, causando alagamentos em várias cidades e deixando milhares de famílias desabrigadas. Uma corrente do bem logo se formou e, além das doações que chegavam de diversas partes do país, teve quem preferiu se doar por meio do trabalho, voluntariamente, no atendimento à população gaúcha.

De Prudente, participaram da “Missão Amor que Cura” cinco médicos (dos quais três egressos da UNOESTE), dois farmacêuticos e um enfermeiro – estes três últimos também ex-alunos da universidade. O envio da missão foi uma resposta diante de um pedido da Arquidiocese da capital gaúcha, que demandava de profissionais da área para atender moradores que tiveram a saúde física e mental afetadas. Os voluntários da saúde de Prudente viajaram com total apoio do vice-presidente da República Geraldo Alckmin, que foi quem possibilitou que a missão embarcasse num avião da Força Aérea Brasileira (FAB).

Na missão estavam cinco médicos formados pela UNOESTE, dois farmacêuticos e um enfermeiro.

Relatos emocionantes – De acordo com relato do pediatra Murilo Moretti Junto, formado pela Faculdade de Medicina de Presidente Prudente (FAMEPP/UNOESTE) em 2005, “junto com o Exército e com a Secretaria de Saúde, pudemos atender em alguns bairros a partir da retomada de alguns serviços essenciais de saúde, e também em alguns abrigos, sendo que muitos ainda têm uma população grande. Como grupo de voluntários também adotamos uma creche de crianças para a gente fazer a limpeza e faxina, para que pudéssemos entregá-la limpa e as crianças retomarem suas atividades do dia a dia”.

Dr. Murilo também comentou sobre o maior desafio ao estar lá unicamente com o propósito de ajudar. “Foi chegar e ver aquele primeiro impacto, as cidades totalmente destruídas, as casas destruídas, inúmeras pessoas desabrigadas, os relatos das pessoas de que perderam tudo, a casa, o emprego, o comércio, familiares, que só sobrou a roupa do corpo. O mais chocante para mim foi isso, ver pessoas que realmente perderam tudo”, revelou.

A Dra. Priscila Buosi, formada na UNOESTE em 2008, é médica no HR há 15 anos e professora da universidade onde também coordena o estágio de Urgência e Emergência do sexto ano da FAMESP. Ela já tinha experiência nesse tipo de missão, uma vez que em 2019 esteve na Amazônia prestando atendimentos à população ribeirinha durante 14 dias, também na condição de voluntária. Para ela, ter ido até Porto Alegre foi um propósito de Deus. “Foi a missão que mais teve impacto, tanto do ponto de vista profissional quanto do ponto de vista pessoal devido as adversidades que encontrávamos. Era muita destruição. Então, não só fomos como profissionais da saúde, mas como voluntário. O termo voluntário é servir. Na verdade, a gente vai para ajudar, mas volta muito mais ajudado do que a gente ajudou”, constatou.

Na maior parte do tempo em que esteve no Rio Grande do Sul, a Dra. Priscila atuou em um abrigo de idosos conhecido em Porto Alegre como “60+”. “Realizei muitos atendimentos, não consigo mensurar exatamente o número preciso, mas eram idosos com uma grande vulnerabilidade social. O que mais me marcou foi um grupo de 11 idosos resgatados de uma clínica clandestina e levados para lá. Uma idosa teve muita coragem e pediu ajuda quando a água começou a subir, já que os demais cuidadores que lá estavam se safaram e deixaram eles para trás. Dentro desse grupo que estava muito fragilizado, uma idosa de 63 anos chegou para gente pesando 21 quilos. Ela estava muito desnutrida, desidratada, não conversava. Então, o trauma que ela sofreu não foi só em virtude da enchente”. Na verdade, observa, “a enchente veio para salvá-los. Enfim, onde vimos tanta tragédia, também vimos libertação, a exemplo desse grupo que estava refém dessa questão”.

União que faz a força – Mestranda na UNOESTE, a Dra. Paola Mente classificou como “indescritível” o período que ficou trabalhando como voluntária na missão. “Só quem estava lá, consegue saber a imensidão que foi esse desastre. No momento em que surgiu o convite, nós não sabíamos muito o que iríamos fazer. Até pensei que iria ajudar como médica mesmo, mas por se tratar de uma missão humanitária, eu fui disposta a fazer qualquer coisa para poder ajudar. E foi isso o que aconteceu. Atendi como médica, era um pouco de psicóloga, também ajudei na limpeza, enfim, fazíamos de tudo. Eu falo que eu trouxe muito mais que eu levei para eles. Por isso, foi muito importante para a minha vida pessoal, para a minha carreira, e, hoje, minha opinião sobre o pessoal de lá: é um povo que tem muita força e muita fé. É isso que eu vi deles. Talvez é disso que precisamos no contexto geral”, opinou ela.

Único enfermeiro da missão, Leopoldo Fabri participou do trabalho junto com o Dr. Murilo Moretti, pediatra que prestou atendimentos em algumas unidades de saúde improvisadas. O foco dele foi na triagem de enfermagem nessas unidades, bem como curativos, vacinação e dispensação de medicação. “Como os outros colegas já relataram, a gente acabou excedendo um pouco da questão da profissão e ajudando também em outras áreas. Só para contextualizar, a UBS que ficamos não era uma UBS instalada, era uma unidade móvel em barracas do Exército e do SESI. Então, ali nos juntamos aos profissionais da UBS e prestamos esses serviços junto à população. Tudo para acolher de forma humanizada quem estava ali precisando”.

O enfermeiro conta que nunca tinha vivido uma experiência como essa, sobretudo pelas condições de trabalho impostas pelo cenário que encontraram por lá. “Foi uma missão de tentar manter a calma em meio ao caos. A gente trabalha num lugar tão adequado, tão pré-determinados, com protocolos, e, de repente, você chega num lugar que não tem água, sabonete para higienização das mãos ou, em alguns casos, nem álcool em gel tinha. Sem soro fisiológico e aparelho de dosagem de glicose [glicosímetro]. Sinceramente, eu nunca tinha vivido isso. Eu sou da 23ª turma de Enfermagem que se formou em 2006, pela UNOESTE. Já tinha passado pela H1N1, pela Covid-19, e, mesmo nessas experiências mais radicais, essa experiência que vivi lá eu não tinha vivido ainda. Dizem que a Enfermagem é arte do improviso, e, por muitas vezes, lá tivemos que improvisar. Foi um sentimento forte o que senti. Mesmo a gente se doando com o mínimo, a sensação de dever cumprido se dá por ter ajudado aquela população de alguma forma”.

Aprendizados imensuráveis – O farmacêutico Marcelo Kitayama contou sobre a complexidade do trabalho dele e da colega Juliana na separação e triagem dos medicamentos que chegavam por meio de doações de várias partes do Brasil. “A Associação e Fraternidade Lar São Francisco de Assis na Providência de Deus havia feito uma campanha de arrecadação de medicamentos. Então, nós levamos um pouco daqui e uma grande parte já estava lá, onde ficamos hospedados, e que acabou virando nosso ‘quartel general’. Ali fizemos a separação e triagem de um bom volume, até mesmo porque os itens e a quantidade de medicamentos diferentes eram grandes, o que demandou um certo trabalho. Era um trabalho técnico, necessário conhecer sobre os medicamentos para a gente contribuir. É um trabalho de base, que a gente chama de cozinha, pois não estamos em contato direto com os pacientes”.

A farmacêutica Juliana, que se formou em 2022, teve sua primeira grande experiência humanitária na carreira profissional. “Eram muitos medicamentos, itens que a gente nem sabia para onde referenciar, nem quem poderia usar porque eram itens que não temos aqui, no hospital, ou seja, um trabalho complexo mesmo. O que trago comigo é o sentimento de gratidão por ter tido essa oportunidade de participar. Mas, ao mesmo tempo, é um sentimento confuso porque a gente se sente pequeno. A gente fez o que pôde, isso é muito bom, enche nosso coração, mas também temos noção que tem muito ainda o que ser feito”.

Na bagagem, além do aprendizado, ela também voltou com o mesmo sentimento de todos: o de gratidão. “Só de saber que de alguma forma você marcou significativamente a vida de alguma pessoa já é muito satisfatório. Minha formação na UNOESTE é recente. eu costumo dizer que meu conhecimento hoje é pouco perto do que ainda tenho a conquistar. Mas tudo o que eu já tenho é uma ‘gotinha’ de cada pessoa, cada professor que foi ali ‘gotejando’, pouquinho por pouquinho, para que eu chegasse onde cheguei. Estar lá, no Rio Grande do Sul, ter feito esse trabalho voluntário, foi também despejar um pouquinho dessas ‘gotinhas’ com muito amor e carinho, que foi o que tive dos professores durante toda a minha formação na UNOESTE”.

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