Androgênicos e anabolizantes: a importância do uso cuidadoso
Dr. Walter Pace: “não são os hormônios que fazem mal, mas a sua prescrição equivocada e/ou excessiva“
Nos últimos meses, a mídia brasileira tem veiculado frequentemente matérias relacionadas com o uso de androgênicos e anabolizantes em pacientes diversos. O assunto vem preocupando a classe médica, em especial, inclusive, aqueles a favor da terapia hormonal, em situações específicas, como o ginecologista Walter Pace, de Belo Horizonte, referência em endocrinologia ginecológica e reprodutiva, onde atua há mais de 40 anos, dos quais 25 anos com prescrição dessa terapia.
Titular da Academia Mineira de Medicina, Professor Doutor em Ginecologia e Coordenador Geral da Pós-Graduação em Ginecologia pela Faculdade de Ciências Médicas MG, Mestre em Reprodução Humana pela Universidade de Paris e Doutorado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Pace é um grande estudioso do tema, atualizado recentemente pela Resolução CFM Nº 2.333, através da qual o Conselho Federal de Medicina colocou os pingos nos is, de forma decisiva sobre a terapia hormonal, a começar da sua concepção, apontando sua aplicação apenas para casos específicos.
Conforme destaca, “a administração externa dessas substâncias só se justifica pela carência ou excesso no organismo, o que pode ser detectado durante a consulta clínica e demonstrado pelos resultados de exames laboratoriais específicos. Em suma, não são os hormônios que fazem mal, mas a sua prescrição equivocada e/ou excessiva”.
Busca da juventude – De acordo com Walter Pace, “hoje temos um momento em que as pessoas, independentemente da idade, buscam a juventude e a beleza eternas. “E há quem se disponha a aventuras e perigos inimagináveis para encontrá-las. Assim, é com preocupação que acompanho um número crescente de mulheres que chegam ao consultório com sequelas físicas e mentais das terapias hormonais com viés estético, conduzidas sem os devidos cuidados pelos profissionais”.
Nesse sentido, frisa, a Resolução CFM Nº 2333 também é uma iniciativa louvável já que trata da ética, algo que não pode ser dissociado da formação profissional, uma vez que “circulam no meio médico, propagandas de cursos inconsistentes – a peso de ouro, que prometem conhecimentos não apenas para a prescrição do tratamento hormonal, como para a formulação de substâncias para manipulação em farmácia magistral”.
Por mais rentável que seja um procedimento, alerta Pace, “é imprescindível que os candidatos estejam atentos para os riscos que correm de perder suas promissoras carreiras, visto que os problemas do desequilíbrio hormonal causados pelo uso incorreto ou exagerado das substâncias, podem se traduzir em efeitos colaterais graves e variados”. Por exemplo, entre os riscos cardiovasculares, há quadros de hipertrofia cardíaca, hipertensão arterial sistêmica, acidentes vasculares, aterosclerose, estado de hipercoagulação, aumento da trombogênese e vasoespasmo.
“Há também o risco de doenças hepáticas como hepatite medicamentosa, insuficiência hepática aguda e carcinoma hepatocelular, bem como de transtornos mentais e de comportamento, com diagnósticos de depressão e dependência. A lista de distúrbios endócrinos inclui infertilidade, disfunção erétil e diminuição de libido”
Chip da beleza – Segundo o ginecologista, não existe o tal chip da beleza. Essa expressão infeliz, criada pelo marketing para fins mercadológicos, é uma mentira na forma e no conteúdo. “O que se tem de concreto na Medicina são implantes subcutâneos que funcionam como uma via para administrar medicamentos, e, também, dosagens específicas de hormônios manipulados em concentrações personalizadas pela farmácia magistral, para fins terapêuticos. Fora disso, o que se tem praticado são promessas de procedência duvidosa e alto risco para a saúde.”
Walter Pace lembra que o uso dos implantes subcutâneos para a terapia hormonal foi introduzido há mais de 40 anos pelo médico ginecologista e endocrinologista, cientista e professor Dr. Elsimar Coutinho, que revolucionou a Medicina mundial ao questionar a necessidade da menstruação e ao popularizar diversos tratamentos hormonais, entre os quais o uso de contraceptivos de duração prolongada, além de outros feitos notáveis.
“Dessa forma, como discípulo fiel desse importante Mestre, destaco que não se pode simplesmente deixar de lado uma solução médica que tem efeitos comprovados para o controle de diversos problemas de saúde, entre os quais as doenças hormônio dependentes, terapia de reposição hormonal e contracepção”
Pace explica que nem todas as pacientes se adaptam às dosagens da indústria farmacêutica, o que pede uma abordagem individual, para a obtenção dos melhores resultados que, em sua origem, são bastante específicos já que tratam do indivíduo. E conclui: a terapia hormonal, por si só, já é um tratamento de beleza, tendo em vista que, uma vez em equilíbrio no organismo, essas substâncias geram diversos ganhos em saúde e bem-estar, como brilho da pele e cabelos, melhoria da massa magra e fortalecimento muscular, entre outros, que estão sempre no radar da mulher moderna, cada vez mais exigida em sua vida pessoal e carreira.