Como o luto interfere na saúde das pessoas que passam por esse processo

Dr. Arthur Fernandes: “O luto é a forma pela qual reconhecemos e enfrentamos a nova realidade que se impõe após a ausência de alguém. É o nosso modo de encarar que a dor é imensa, e que ela nos convida a refletir e repensar a nossa vida”.
Imagem: Pixabay
As pessoas reagem de diversas formas às perdas. O luto manifesta-se por meio de diferentes reações, algumas mais perceptíveis e outras mais sutis. Quando esse processo começa a afetar a saúde física e mental de quem o vivencia, é importante monitorar sentimentos e comportamentos que ultrapassem o esperado, a fim de evitar danos maiores.
No Dia Nacional do Luto, no recente 19 de junho, a Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade (SBMFC) traz orientações para quem está passando por esse processo, com o objetivo de promover mais qualidade de vida e reduzir o sofrimento decorrente da perda, e para os profissionais que cuidam dessas pessoas.
“O luto é um processo de reação e adaptação a uma perda. É a forma pela qual reconhecemos e enfrentamos a nova realidade que se impõe após a ausência de alguém. É o nosso modo de encarar que a dor é imensa e que ela nos convida a refletir e repensar nossa vida”, explica o médico de família e comunidade e também paliativista Arthur Fernandes/Brasília/DF, diretor do Departamento de Comunicação da SBMFC.
Conforme ele destaca, o luto envolve uma série de sentimentos e comportamentos esperados. Entre as manifestações emocionais estão: apatia, raiva, tristeza, culpa, ansiedade, choque e cansaço. Também há manifestações sociais, como isolamento, alterações no sono ou apetite, evitação de lembranças ou de locais e objetos relacionados à pessoa falecida, falar repetidamente sobre a perda, desânimo, dificuldade para amar e redução das atividades diárias.
O processo de luto também pode provocar manifestações físicas, como sensação de vazio no estômago, nó na garganta, boca seca, maior sensibilidade a ruídos, sensação de irrealidade, pouca energia, fraqueza muscular, dificuldade para respirar, dores no peito e palpitações. “Todos esses sintomas são considerados normais, independentemente do tempo de convivência com a pessoa falecida ou da intensidade do vínculo. Familiares próximos ou distantes podem apresentá-los, assim como cuidadores que acompanharam a pessoa durante uma doença. E não importa como ocorreu a morte, seja ela esperada, devido a um grave problema de saúde, ou repentina, como em acidentes”, detalha Fernandes.
De acordo com o paliativista Arthur Fernandes, não há um tempo definido para que a dor cesse. O luto dura o tempo que precisa durar. Algumas pessoas vivenciam lutos mais intensos, que as “tiram do eixo” e dificultam a retomada da própria vida. Reações mais intensas, frequentes e duradouras devem chamar a atenção das pessoas próximas, para que se busque apoio profissional junto a uma equipe de saúde.
Diversas estratégias podem ajudar uma pessoa enlutada a enfrentar os dias seguintes à perda e, aos poucos, reencontrar sua conexão com a vida. Essas orientações não são “receitas prontas” e devem ser individualizadas ou adaptadas à realidade de cada um. Entre elas, destacam-se: rituais de despedida, prática de atividades físicas, vivências espirituais e apoio familiar e social.
Recomendado ainda que familiares e pessoas próximas monitorem o comportamento e os sintomas da pessoa enlutada, buscando apoio médico e psicológico quando necessário. “Viver o luto é normal e importante”, ressalta o Dr. Arthur Fernandes, “mas desde que não haja uma dificuldade excessiva para seguir vivendo após a perda”.