Cuidar da saúde mental do colaborador é fator de destaque e lucratividade para empresa
Por Bárbara Nogueira: Graduada em Psicologia, diretora, career advisor e headhunter da Prime Talent, empresa de busca e seleção de executivos de média e alta gestão, que atua em todos os setores da economia na América Latina, com escritórios em São Paulo e Belo Horizonte. É também embaixadora da ChildFund, eleita uma das 100 melhores ONGs do Brasil, que apoia crianças e adolescentes em extrema vulnerabilidade, pelo quarto ano consecutivo.
O Setembro Amarelo é uma campanha nacional de prevenção ao suicídio, mas que coloca em evidência toda a temática da saúde mental. Este assunto tem ganhado cada vez mais relevância dentro das corporações, especialmente após o avanço da pandemia da Covid-19, uma vez que afeta diretamente o clima organizacional e o bem-estar dos colaboradores, além da lucratividade. E as empresas mais estratégicas e humanizadas, que tendem a ganhar um lugar de destaque maior no mercado, são exatamente aquelas que se preocupam genuinamente com o seu principal capital intelectual: as pessoas.
Assim, nos dias de hoje, as organizações que querem ter um diferencial estratégico precisam refletir sobre as boas práticas e políticas de qualidade de vida. Desta forma, as lideranças e os profissionais de Recursos Humanos desempenham um papel fundamental na construção de um ambiente corporativo e de uma cultura organizacional que proporcionem um clima favorável e impactos positivos na saúde mental dos colaboradores. Questão que deve ser considerada sempre, independentemente do formato de trabalho que a empresa esteja praticando – virtual, presencial ou híbrido.
Diversos fatores podem contribuir para a saúde mental dos funcionários, desde a definição da forma e local de trabalho, passando pelas questões de arquitetura, luminosidade e ergonomia, até pontos mais difíceis de serem atingidos, como o nível de satisfação do colaborador com o emprego, que é determinante para o equilíbrio da mente. Portanto, medidas de prevenção ao estresse e outros tipos de desgastes psicológicos, relacionadas a esses aspectos, podem – e devem – ser vistas como um verdadeiro investimento pelas empresas.
Logo, a companhia que pretende reter os melhores talentos procura criar ações e oferecer programas internos voltados para o bem-estar. Alguns exemplos são rodas de conversa, exercícios respiratórios, atividades de relaxamento e meditação. Isso sempre alavanca a motivação dos colaboradores. É também prudente incentivar a disseminação do conhecimento a respeito de saúde mental. Cabe, ainda, às lideranças aprimorar a qualidade dos relacionamentos entre os colegas dentro do trabalho, de modo a proporcionar sensação de segurança e de pertencimento ao colaborador. Consequentemente, ampliam-se as chances de haver mais equilíbrio emocional, apesar estarem em um ambiente competitivo, com a busca permanente por colaboração e cocriação.
Outro ponto vital nesse processo de cuidar da saúde mental é a comunicação. Empresas com bons resultados nesse sentido possuem a cultura de se comunicar internamente de forma transparente e eficaz, com práticas de reconhecimento e apoio aos colaboradores. Criam uma arena onde todos têm voz e estabelecem um canal direto com o empregado, sem muitos ruídos. Além disso, podemos citar a adoção de políticas de benefícios, como plano de saúde, capacitação, vale-cultura, estímulo à prática de esportes, viagens de premiação e incentivos financeiros. Ou iniciativas que vão além do tradicional, entre elas, proporcionar ao funcionário oportunidade de autoconhecimento e de autodesenvolvimento, por meio de ferramentas de avaliação psicológica (assessment) ou psicossocial, usando, inclusive, a tecnologia como aliada.
Tratar de saúde mental é, ainda, abordar a contratação de talentos. Afinal de contas, ao recrutar pessoas certas para cada posição, consegue-se um quadro de funcionários com maior gosto pelo trabalho, mais realizados e felizes, além de pessoas com perfis mais conectados com o propósito e com o jeito de ser da empresa. Evidentemente, para que esse processo ocorra de forma assertiva, exigirá da área de RH e das lideranças não apenas um conhecimento detalhado da empresa, como o entendimento de quais competências e habilidades (soft skills) são necessárias.
Enfim, vale salientar que ter foco em uma eficiente gestão da saúde mental contribui para evitar possíveis rombos futuros no orçamento da corporação. Estudos da Organização Mundial da Saúde (OMS) comprovam que a perda de produtividade gerada por depressão e ansiedade representa, para a economia global, um custo estimado de US$ 1 trilhão por ano. A falta de cuidado com o lado psicológico dos colaboradores aumenta o absenteísmo, a taxa de adoecimento por fatores emocionais e o número de afastamentos por transtornos mentais. Isso sem contar a queda do interesse pelas atividades e do engajamento, que reflete diretamente na alta da rotatividade (turn over) dos profissionais.
Portanto, diante de um problema tão complexo, os responsáveis pela gestão de pessoas precisam manter um olhar atento sobre os colaboradores e assegurar um ambiente humanizado e acolhedor. Mas cada indivíduo também tem um papel importante na busca por preservar o corpo e a mente saudáveis. É fundamental estar atento a aspectos simples do cotidiano, como a qualidade do que comemos, bebemos e do nosso sono, além de manter a prática de exercícios, bem como atividades de lazer que proporcionem bem-estar. Aliás, isso deve ser um cuidado constante para todos e não apenas tema a ser tratado no Setembro Amarelo.