Estresse psicossocial pode aumentar risco de AVC isquêmico em mulheres jovens

Pesquisa revela que sobrecarga emocional é fator de risco relevante para o tipo de AVC sem causa identificável, especialmente em pacientes do sexo feminino entre 18 e 39 anos.
Silencioso, imprevisível e cada vez mais presente entre mulheres jovens, o AVC isquêmico criptogênico — aquele cuja causa permanece desconhecida, mesmo após exames detalhados — tem chamado atenção da comunidade médica. Um novo estudo europeu levanta, agora, um alerta importante: o estresse psicossocial pode ser um fator de risco decisivo nesse tipo de ocorrência, principalmente entre pacientes do sexo feminino.
Os pesquisadores acompanharam 426 pacientes que sofreram o primeiro episódio de AVC isquêmico criptogênico, comparando-os a um grupo de controle sem histórico da doença. As participantes com maior nível de estresse autopercebido apresentaram um risco significativamente mais alto de desenvolver esse tipo de AVC — uma associação que se manteve mesmo após o controle de fatores como, hipertensão, diabetes, tabagismo, sedentarismo, obesidade e até enxaqueca com aura.
“Esses dados reforçam uma preocupação que já é bastante presente na ginecologia: a saúde mental feminina precisa ser levada a sério, inclusive como forma de prevenção de doenças graves”, comenta a especialista em Ginecologia Endócrina e Climatério Alexandra Ongaratto, Diretora Técnica do Instituto GRIS, de Curitiba/PR.
Relação entre estresse e AVC – Entre os possíveis mecanismos que explicam essa relação entre estresse e AVC estão a inflamação crônica, a disfunção vascular, as alterações hormonais e o agravamento de hábitos nocivos, como má alimentação, consumo de álcool e falta de sono reparador — todos gatilhos potenciais para um acidente vascular.
O estudo também levanta a hipótese de que os homens, embora igualmente expostos a fatores de estresse, tendem a subnotificá-los nas pesquisas, o que pode mascarar o impacto real na população masculina. Já nas mulheres, especialmente as mais jovens, o efeito é mais visível — e, agora, cientificamente mensurável.
Diante do cenário, a Dra. Alexandra reforça a importância de acolher essas pacientes com uma escuta ativa e multidisciplinar. “Não basta perguntar se a menstruação está em dia. Precisamos saber como anda a qualidade do sono, o grau de ansiedade, as condições de trabalho e até o quanto essa mulher se sente sobrecarregada no dia a dia. Esse olhar completo é parte do cuidado com a saúde ginecológica.”
Além disso, segundo a médica, medidas de gestão do estresse — como psicoterapia, atividade física regular e organização da rotina — devem ser consideradas parte do plano de prevenção. “A ideia de que estresse é só uma questão emocional já está ultrapassada. O corpo sente. E no caso das mulheres, sente mais rápido do que imaginamos.”
O recado que o estudo deixa é claro: saúde mental é saúde cardiovascular. E, no caso das mulheres jovens, negligenciar o impacto do estresse pode custar caro. Identificar os sinais, buscar apoio profissional e repensar o autocuidado não é luxo — é necessidade.
Sinais de alerta – Mesmo sendo mais comum em pessoas acima dos 60 anos, o AVC pode ocorrer em mulheres na faixa dos 20 aos 40 anos. Assim, se você estiver nessa faixa etária, fique atenta a esses sinais:
- Fraqueza repentina em um dos lados do corpo (braço, perna ou face)
- Dificuldade para falar ou compreender o que dizem
- Perda de visão em um dos olhos ou visão embaçada
- Tontura intensa, perda de equilíbrio ou coordenação
- Dor de cabeça súbita e muito forte, sem causa aparente
Se notar qualquer um deles em você ou em alguém próximo, procure atendimento médico imediatamente. O tempo é crucial para evitar sequelas permanentes.