Hepatite A: aumento de casos acende sinal de alerta

Com surtos crescentes entre homens sexualmente ativos, SBPC/ML reforça importância da vacinação e dos exames laboratoriais para detecção e monitoramento da infecção
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Uma mudança importante no perfil epidemiológico da hepatite A no Brasil levou o Ministério da Saúde (MS) a adotar uma nova estratégia de enfrentamento da doença: a ampliação da vacinação entre adultos, especialmente usuários da Profilaxia Pré-Exposição (PrEP), medicamento utilizado na prevenção ao HIV. A medida vem após o aumento significativo da transmissão sexual entre homens, que já responde por uma fatia expressiva dos casos recentes. A meta é vacinar 80% dos mais de 120 mil usuários da PrEP no Brasil, com esquema de duas doses, a primeira para controle de surtos, a segunda – para proteção duradoura.
De acordo com dados do MS, em 2023 foram registrados 2.080 casos de hepatite A no país, dos quais 90% ocorreram em adultos, sendo quase 70% homens. Um novo surto registrado em Curitiba em 2024, somou mais 315 casos e cinco óbitos. “Esses números mostram que a hepatite A não é mais uma doença restrita à infância e reforçam a necessidade de estratégias combinadas: vacinação ampliada e o uso criterioso dos exames laboratoriais para detectar casos ativos e avaliar a imunidade da população,” destaca Dr. João Renato Rebello Pinho, coordenador médico do Laboratório Clínico do Hospital Israelita Albert Einstein e membro da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica e Medicina Laboratorial (SBPC/ML).
Além da imunização — fundamental para evitar surtos —, a vigilância contínua, com exames laboratoriais, é essencial para a detecção precoce da hepatite A, especialmente em quadros assintomáticos ou leves. João Renato destaca que a hepatite A é classicamente associada a saneamento básico e higiene pessoal, mas estamos diante de uma nova dinâmica, com transmissão sexual significativa. “A ampliação da vacinação é acertada, mas é crucial que os médicos também solicitem exames sorológicos adequados, tanto para diagnóstico da infecção aguda quanto para avaliação da imunidade adquirida, seja por vacinação ou infecção prévia.”
O especialista da SBPC/ML acrescenta: “Como a maioria das infecções é silenciosa no início, a análise laboratorial detalhada permite não só identificar casos e conter surtos, como também diferenciar hepatite A de outros tipos virais, o que é essencial para orientar o tratamento e evitar complicações.”
De acordo com João Renato, o diagnóstico da hepatite A é feito principalmente pela pesquisa do anticorpo IgM anti-HAV, marcador de infecção recente. “Para saber se há imunidade — seja por vacinação ou por infecção passada — o exame de IgG anti-HAV é o indicado. Nos casos de surtos, esses testes são fundamentais para mapear rapidamente a situação e isolar casos ativos”, ressalta.
As hepatites continuam sendo um grave problema de saúde pública no Brasil, com destaque para os tipos A, B e C. As hepatites B e C são mais frequentemente associadas a infecções crônicas e representam importante causa de cirrose e câncer de fígado.
Exames complementares para hepatites B e C:
- Hepatite B – Testes para antígenos (HBsAg, HBeAg) e anticorpos (Anti-HBc IgM/IgG, Anti-HBe, Anti-HBs) ajudam a determinar o estágio da infecção e a resposta vacinal. A carga viral é usada para monitoramento e manejo clínico.
- Hepatite C – A triagem começa com o anti-HCV; se positivo, a carga viral é fundamental para confirmar infecção ativa.
Imunização infantil permanece essencial – Desde 2014, a vacina contra a hepatite A integra o calendário infantil no SUS, com dose única recomendada aos 15 meses de idade. Essa política levou à queda acentuada dos casos, mas a atual reemergência entre adultos evidencia a necessidade de estratégias complementares e vigilância ativa.