O que devemos saber sobre TDAH, também conhecido por Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade
Neuropsicopedagoga Keila Chicralla aborda sintomas desse transtorno que acomete crianças e adultos comprometendo a aprendizagem e o convívio social
Classificado como um transtorno neurobiológico de causas genéticas que aparece na infância e acompanha o indivíduo por toda a sua vida, o TDAH atinge 3% a 5% das crianças do Brasil e do mundo. Nos adultos, essa prevalência é de cerca de 4%, conforme dados da a Associação Brasileira do Déficit de Atenção, informa a neuropsicopedagoda, Keila Chicralla, pós-graduada em Neurociências Pedagógicas e em Educação Especial, com doutorado em Direito e especialização em Funções Executivas.
Segundo ela, por ser hereditário, o TDHA pode estar relacionado ao meio ambiente, como exposição a produtos químicos e metais, e a problemas durante o desenvolvimento neurológico relacionados ao sistema nervoso central. Pode ser identificado através de sintomas como desatenção, inquietude e impulsividade.
“Quem tem TDAH precisa de tratamento e acolhimento porque pode se sentir rejeitado e ter a autoestima abalada devido aos seus sintomas. Crianças com TDAH podem ter dificuldade de brincar com outras crianças e de aprendizado, bem como apresentar maior dificuldade para manter o foco. Da mesma forma, um adulto pode não ter um rendimento necessário para se manter em seu emprego”, informa a especialista, ao se referir ao Dia Mundial do TDAH, comemorado no último dia 13 de julho, como data importante de conscientização deste transtorno, cujo diagnóstico e tratamento adequado podem proporcionar aos pacientes bom rendimento e uma boa qualidade de vida.
Classificação – Conforme explica, o TDAH pode ser classificado em três graus:
- Leve: Poucos sintomas estão presentes além daqueles necessários para fazer o diagnóstico. Eles causam pequenos prejuízos nos funcionamentos social, acadêmico ou profissional
- Moderado: Sintomas ou prejuízo funcional entre “leve” e “grave
- Grave: Vários sintomas graves que podem resultar em prejuízo acentuado no funcionamento social ou profissional.
Existem alguns critérios que definem o diagnóstico de uma criança ou adulto com TDAH. Primeiro é necessário que ela tenha um padrão persistente de desatenção e/ou hiperatividade-impulsividade que interfira em seu funcionamento e desenvolvimento. Para tanto, ela precisa apresentar os seguintes sintomas:
- Falta de foco;
- Pouca habilidade de gerenciamento de tempo;
- Desorganização;
- Impulsividade;
- Ataques de raiva;
- Esquecimento;
- Falta de motivação;
- Inquietação e ansiedade;
- Fadiga;
- Autoimagem negativa;
- Problemas de relacionamento;
- Inquietação e nervosismo;
- Irritação;
- Dificuldade em avaliar o próprio comportamento;
- Dificuldade de permanecer quieto;
- Oscilações de humor;
- Inabilidade em lidar com situações estressantes;
- Impaciência;
- Mexer pés e mãos ou se contorcer na cadeira escolar constantemente;
- Dificuldade para permanecer sentado;
- Correr e escalar objetos, móveis, muros, etc;
- Dificuldade em se envolver em atividades silenciosas;
- Fala excessiva;
- Responder antes que as perguntas sejam concluídas;
- Interrupções durante conversas com outras pessoas.
Contudo, acrescenta a neuropsicopedagoda, Keila Cricralla, é preciso que a criança apresente seis ou mais desses sintomas por mais de seis meses antes de ser feito o diagnóstico. Já, em adultos ou adolescentes, é preciso apresentar apenas cinco destes sintomas.
De acordo com a especialista, o TDAH tem sido associado a:
- Baixo desempenho escolar ou profissional
- Desemprego
- Problemas com a lei
- Abuso de álcool ou outras substâncias
- Acidentes de carro frequentes ou outros acidentes
- Relações instáveis
- Saúde física e mental comprometidas
- Autoimagem pobre
- Tentativas de suicídio
Seu diagnóstico para é clínico e feito por médico especialista. Não é necessário exame de ressonância, eletroencefalograma ou qualquer outro que avalie características físicas e nem avaliação neuropsicológica O processo diagnóstico de TDAH segue uma relação de critérios médicos específicos, incluindo a determinação de subtipo, nível de remissão e gravidade do transtorno.
TRATAMENTOS – Por ser uma condição neurobiológica com impactos comportamentais, o tratamento do TDAH deve ser feito de modo múltiplo, com medicamentos, terapia e sessões de fonoaudiologia, quando a fala ou a escrita também são afetados.
De acordo com a Dra. Keila Cricralla, as medicações ajudam a amenizar os sinais e sintomas de impulsividade e a hiperatividade. As terapias amenizam os sintomas do TDAH e o paciente lidar com as questões comportamentais, através de técnicas específicas. Algumas terapias usadas são: Psicoeducação, Psicoterapia, Terapia Comportamental e grupos de apoio, especifica.
TDHA E A ESCOLA – Apesar de ainda ser um tema pouco explorado no Brasil, o TDAH começou a ter mais destaque nos anos 2000, em decorrência do aumento do número de crianças e adolescentes que já apresentavam problemas nos campos sociais relacionados a não identificação dos sintomas desse transtorno.
Considerado um dos principais responsáveis pela evasão escolar, o TDAH gera para o indivíduo dificuldades de aprendizado e de manter habilidades sociais, entre outros problemas. Pela falta de conhecimento sobre o tema, há muita dificuldade de se fechar o diagnóstico e fazer com que os direitos dos alunos e adultos, também com déficit de atenção, sejam reconhecidos.
Nas escolas, a inclusão das pessoas com déficit de atenção é incipiente e as inclusões, assistências e estratégias pedagógicas que acontecem ocorrem de forma isolada. Apesar de muitos professores estarem se capacitando sobre o transtorno, a falta de conhecimento sobre o TDAH acaba confundindo esse transtorno com outros tipos.
Conforme destaca a especialista, também não há uma política pública capaz de olhar para os alunos com TDAH de forma inclusiva porque as pessoas com déficit de atenção não foram contempladas dentro da política nacional de educação especial. Partindo, assim, do princípio de que o TDAH afeta a capacidade do aluno de prestar atenção, o transtorno impacta a sua performance escolar. Isso porque ele tende a ter dificuldade para se concentrar e para controlar o seu raciocínio, se distraindo facilmente. Uma vez que não consegue focar nos estudos, o estudante também não memoriza sequências, não se atém a detalhes, costuma ser desorganizado e repetir os mesmos erros. Desse modo, ainda que tenha aprendido o conteúdo recentemente, dificilmente vai se lembrar dele por completo.
A Dra. Keila Cricralla , ressalta ainda que qualquer barulho ou acontecimento ao redor de um estudante com TDAH é capaz de desviar a sua atenção, o que pode piorar quando a aula é lecionada de forma monótona. Assim, um dos maiores desafios das escolas é proporcionar as condições adequadas para que ele tenha a mesma oportunidade de desenvolvimento oferecida aos demais alunos.
Aulas monótonas fazem com que o aluno com TDAH fique entediado, podendo se dispersar em poucos minutos, por isso é recomendado quebrar a rotina escolar com a adoção de métodos e recursos que estimulem sua participação e o foco, o que pode ser feito com aulas mais atrativas.
Muitas vezes, esse aluno apresenta uma resposta melhor à aprendizagem prática. Portanto, após explicar o conteúdo, é importante passar atividades que permitam ao aluno expressar sua criatividade e energia. Também é interessante diversificar os materiais didáticos utilizados para aumentar o seu interesse, conclui.