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Orelhas de Abano: causa e correção cirúrgica

Cirurgião Plástico Juarez Avelar: “a visão da própria imagem projetada no espelho é um dos principais incômodos e preocupação de quem tem orelha em abano”

É comum conhecermos pessoas com orelhas de abano, mas em geral não perguntamos a elas as consequências durante as suas vidas por terem essas orelhas. Ouvindo especialistas, o que se sabe é que crianças podem sentir insegurança, sobretudo quando começam a se socializar na escola. Na fase adulta, podem ocorrer incômodos também na vida social e afetiva.

Para saber mais sobre o assunto, o Portal Medicina e Saúde entrevistou o médico Juarez Avelar, presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, nas gestões de 1986/87 e 1990/91. Avelar é também professor de Pós Graduação da International Society for Aesthetic Plastic Surgery- ISAPS, membro da Academia de Medicina de São Paulo e da Academia Cristã de Letras, entre outros cargos.

Nessa entrevista, o cirurgião plástico explica que a orelha de abano é a anomalia congênita mais frequente nesta importante estrutura do sistema auditivo. Sua incidência é de 05% a 06% da população. Avelar aborda também a causa, traumas e tratamento cirúrgico, entre outros aspectos.


Inicialmente, Dr. Juarez, o que é orelha de abano?

Esta denominação é usada para denominar as orelhas que são projetadas lateralmente, de cada lado da cabeça, tornando-as evidente em visão anterior e posterior. Isso ocorre quando os ângulos naturais da orelha em relação à superfície da cabeça são maiores devido às alterações da cartilagem auricular. 

Quais as principais causas?

Sempre é congênita, ou seja, as crianças já nascem com esta deformidade.

Em que época uma criança percebe que tem orelhas em abano?

Habitualmente, entre 4 e 5 anos de idade. No convívio com outras crianças na escola ou em ambiente familiar, ela percebe que suas orelhas são diferentes de seus colegas. Ou mesmo seus colegas na escola percebem as anomalias e ingenuamente apontam para o defeito.

Quem está mais sujeito a esta anomalia, o homem ou a mulher?

Há discreto predomínio em mulheres, mas, graças aos cabelos longos, são mais fáceis de esconder os defeitos. Já nos meninos, as orelhas se sobressaem com mais evidência, causando desconforto psicológico. 

Quais as situações que mais incomodam as pessoas com orelha em abano?

Inicialmente, a visão da própria imagem projetada no espelho é um dos principais incômodos e preocupação de quem tem orelha em abano. Igualmente no ambiente familiar por comentários e observações jocosas, e, também, nos contatos com outras crianças nas escolas. Todas essas situações levam a criança a se preocupar com a sua imperfeição congênita. 

Há como corrigir esta anomalia?

Sim, através da otoplastia. A correção cirúrgica deve ser orientada para corrigir as deformidades, que são peculiares para cada paciente, uma vez que cada imperfeição implica uma abordagem cirúrgica individual.

Como se faz essa cirurgia? O pós-operatório é simples?

Após meticuloso exame, o cirurgião elabora o programa cirúrgico para ser seguido durante a intervenção. Há necessidade de tirar fotos pré-operatórias para melhor orientação durante a cirurgia. Igualmente é imperioso solicitar exames pré-operatórios (exames de sangue, eletrocardiograma e ecocardiograma) em paciente sem sintomatologia clínica. Quando o paciente apresenta outros sintomas, cabe ao cirurgião solicitar avaliação de médicos de outras áreas (cardiologista, pneumologista etc.).

Toda cirurgia deve ser realizada em ambiente hospitalar, ou em clínica devidamente equipada com os recursos essenciais para segurança do paciente e do cirurgião.

Ela é indicada para crianças acima de 6 ou 7 anos de idade, pois até esta idade a cartilagem ainda está em desenvolvimento e não pode ser traumatizada por uma intervenção. Contudo, crianças recém-nascidas que apresentam orelhas em abano ou outro tipo de deformidade podem ser beneficiadas com tratamento precoce, ou seja, entre o primeiro e o quinto mês. Nessa faixa etária, em casos bem selecionados, há possibilidade de evitar o crescimento anômalo das orelhas. 

Com relação ao aparelho auditivo muitas as crianças nascem sem ele? Como o cirurgião plástico realiza sua reconstrução?

As orelhas são órgãos externos, situados lateralmente, num eixo imaginário que passa pela parte central da cabeça. Elas são formadas durante a 8ª e 12ª semana de gestação, ou seja, entre o 2º e 3º mês de vida intrauterina. Durante esse período, outros órgãos do corpo são também formados embriologicamente, e o aparelho auditivo pode ser mal desenvolvido, inclusive as orelhas, que podem não apresentar formação completa. No Brasil, estima-se um caso para 4.000 crianças que nascem com orelha em abano e má formação do aparelho auditivo. A correção é muito mais complexa do que operar a deformidades. Há diversas formas clínicas, desde ausência completa, inclusive com defeito no aparelho auditivo, até deformidades menores, que necessitam completar a formação da(s) orelha(s).    

No caso das vítimas de violência e de acidentes de trânsito, como são corrigidas essas deformações?

Amputação com perda parcial ou total da(s) orelha(s) podem e devem ser reconstruídas para recompor o perfil facial. Quase sempre há necessidade de substituir o esqueleto cartilaginoso da orelha, cuja cirurgia deve utilizar a cartilagem da costela do próprio paciente.

A reconstituição é realizada em dois tempos operatórios. No primeiro, retira-se um arco de costela para esculpir os detalhes anatômicos e estéticos da orelha para ser introduzido abaixo da pele, próxima à região da futura orelha. No segundo tempo cirúrgico, só deve ser realizado após seis meses. Este período é importante para a integração da cartilagem ao novo local da orelha. Após cada etapa cirúrgica há necessidade de cuidadoso acompanhamento por parte do cirurgião e sua equipe.  

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